FMUP caracterizou doentes internados na Rede Nacional de Cuidados Paliativos

10 de Novembro 2023

Referenciação para reabilitação é reduzida, indica José Vítor Gonçalves, investigador e autor do estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

São homens e mulheres de todo o país, com 73 anos em média (dos 7 e os 102 anos), sobretudo com doença oncológica do cólon, traqueia, brônquios e pulmão e mama, maioritariamente casados e com a antiga 4ª classe/6º ano do Ensino Básico. Este é o perfil do doente internado em Cuidados Paliativos, em Portugal, de acordo com o estudo realizado por José Vítor Gonçalves, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

O trabalho tinha como objetivo caracterizar os doentes admitidos na Rede Nacional de Cuidados Paliativos, o que poderá permitir, no futuro, a identificação e orientação precoces das pessoas que necessitam neste tipo de cuidados.

O investigador analisou registos de doentes que ingressaram na Rede entre 2015 e 2020, num total de 11.207 doentes. A patologia mais frequente como causa do internamento foi a neoplasia do cólon (7,7%). A hipertensão e a diabetes mellitus foram as doenças associadas mais comuns.

“Com uma população cada vez mais envelhecida, no futuro, Portugal necessitará, indubitavelmente, de apostar neste tipo de cuidados para responder aos desafios demográficos das próximas décadas. Nesse sentido, a caracterização dos doentes da Rede Nacional de Cuidados Paliativos necessita de ser aperfeiçoada e aprimorada”, avisa José Vítor Gonçalves.

Para o autor do trabalho, “será também impossível ajustar e orientar o perfil de resposta da Rede Nacional de Cuidados Paliativos sem que sejam determinadas as necessidades do país”.

No caso das patologias oncológicas, a fadiga, os problemas cognitivos, as restrições da amplitude de movimento e as disfunções vesico-esfincterianas estão entre as principais queixas. Já em patologias não oncológicas, como é o caso da doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) ou da insuficiência cardíaca, as queixas mais referidas são fadiga, dispneia e baixa tolerância ao esforço.

José Vítor Gonçalves, que é também médico fisiatra no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, refere-se em particular às necessidades em Medicina Física e Reabilitação em Cuidados Paliativos, que permite “retardar o declínio funcional, com impacto para doentes e familiares/cuidadores”.

No entanto, lamenta, “se a literatura é unânime em reforçar a importância de programas de reabilitação nos Cuidados Paliativos, a realidade é que a referenciação para este tipo de programas ainda é reduzida”.

Do mesmo modo, considera importante “sensibilizar os diferentes profissionais para a importância do registo adequado da informação clínica dos doentes nas diferentes plataformas informáticas”.

Outros objetivos deste estudo eram avaliar o burnout em enfermeiros e médicos que trabalham nos Cuidados Paliativos em Portugal, o que aconteceu numa fase precoce da pandemia de COVID-19, bem como entender o papel do cuidador informal no nosso país.

“A maioria dos profissionais considerava que a sua atividade foi afetada pela pandemia COVID-19. Foram encontrados níveis elevados de burnout pessoal em 46% dos enfermeiros e em 43% dos médicos”, contabiliza José Vítor Gonçalves.

No futuro, diz, “será importante monitorizar os níveis de burnout dos profissionais e definir prioridades a nível da Rede Nacional de Cuidados Paliativos consoante a evolução do perfil de patologias dos utentes”.

Calcula-se que, em 2060, cerca de 48 milhões de pessoas (47% dos óbitos a nível mundial) poderão morrer anualmente com patologias associadas a elevado sofrimento. Prevê-se que existirá também “uma alteração no perfil das patologias, com a síndrome demencial a assumir a maior relevância (até quatro vezes mais em 2060) face a outras patologias, que terão cada vez menor relevância, como é o caso do HIV”.

FMUP/HN

 

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