Lisboa, 22 abr 2020 (Lusa) – O antigo ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes considerou hoje inaceitável a existência de salas cheias de doentes à espera de consultas ou nas urgências e defendeu o estabelecimento de “lotação máxima” para serviços, instituições e equipamentos.
“Está na altura de definirmos lotação máxima para os serviços, para as instituições, para os equipamentos”, defendeu Adalberto Campos Fernandes em entrevista à agência Lusa.
“Não faz sentido nenhum que na Loja do Cidadão estejam 300 pessoas em 100 metros quadrados, não faz sentido nenhum que não haja agendamento prévio, que se avance mais no chamado Simplex”, sugeriu.
O ex-ministro da Saúde (entre 2015 e 2018) no primeiro governo chefiado por António Costa e especialista em saúde pública comentava o possível levantamento do estado de emergência a partir do dia 02 de maio e a retoma faseada da atividade económica.
No seu entender, é preciso o país reabrir a “pouco e pouco” a vida social e económica, mas com “um enorme sentido de responsabilidade”, cumprindo regras como a do distanciamento social.
Caso contrário, “a nossa vida fica muito complicada em termos de sustentabilidade do emprego e da economia”.
Para Adalberto Campos Fernandes há situações que não devem voltar a acontecer como salas de espera de centros de saúde e de hospitais cheias de doentes.
“Até contra mim falo, porque ao longo da minha vida dirigi vários hospitais, grandes, pequenos, médios, e procurei melhorar as condições dos locais por onde fui passando. Lembro-me do Santa Maria [em Lisboa] que era um caso extremo, mas nunca compreendi muito bem a necessidade de termos pessoas doentes ou tendencialmente doentes em espaços de saúde às dezenas e às centenas”, contou.
Esta situação é inaceitável e “tem de acabar” porque é “completamente contra o princípio de uma unidade de saúde que protege a qualidade”, defendeu.
Disse ainda acreditar que as mudanças ocorridas nas unidades de saúde devido ao novo coronavírus SARS-CoV-2, como o recurso às teleconsultas para evitar a presença dos doentes e a mudança de comportamentos e atitudes possam vir a melhorar os indicadores relacionados com a infeção hospitalar.
Para o ex-governante, os hospitais têm que ter horários diferidos ao longo do dia, apostar na telessaúde, na hospitalização domiciliária e na televigilância.
A telessaúde ganhou “um espaço enorme” através do contacto entre o profissional e o doente, mas também através das novas tecnologias que permitem monitorizar à distância os doentes.
Exemplificou, a este propósito, os milhares de doentes com covid-19 que estão a ser monitorizados em casa, através da plataforma Trace Covid, por médicos e enfermeiros, considerando que “é uma lição viva do potencial” que existe nesta área.
“Claro que o ato médico, por definição e por excelência é um ato pessoal, e não podemos fazer telecirurgia nem teletécnicas, mas podemos fazer com que as pessoas estejam nas unidades de saúde o menor tempo possível e que venham só apenas à hora marcada para fazer aquilo que precisam de fazer”, defendeu.
Adalberto Campos Fernandes salientou ainda a importância em tempos de pandemia da receita eletrónica, sem papel, e que hoje atinge 95% da população. “Imaginemos o que seria nesta altura se não tivéssemos feito esse processo de transformação digital”, salientou.
Lusa/HN
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