Roma, 27 abr 2020 (Lusa) – A organização da ONU para a Alimentação e Agricultura disse hoje que a pandemia de covid-19 atingiu a África Ocidental na pior altura, adiantando que 17 milhões de pessoas poderão vir a necessitar de ajuda alimentar de emergência.
“Desde abril, mais de 11 milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar na África Ocidental, principalmente devido a conflitos, mas o seu número poderá aumentar para 17 milhões durante a época de escassez de alimentos (junho/agosto) se não for dada uma resposta rápida”, considerou Coumba Sow, coordenadora para a África Ocidental da equipa de resiliência da organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO).
A responsável manifestou-se “particularmente preocupada” com a crise humanitária no Sahel Central, uma região que inclui o Burkina Faso, o Mali e o Níger.
“Cerca de quatro milhões de pessoas já estão a sofrer de fome severa e esse número poderá atingir 5,5 milhões em agosto. No Burkina Faso, mais de dois milhões de pessoas poderão estar numa situação de fome severa nessa altura, valor que triplicou em comparação com o ano passado”, disse.
A FAO assinalou também que 1,2 milhões de pessoas estão deslocadas nestas região, onde aldeias e populações civis são atacadas, casas e campos destruídos e animais mortos.
“Muita gente não tem apenas fome. Também está desenraizada e perdeu os seus bens”, disse.
De acordo com o relatório sobre a Crise Alimentar Mundial, o aumento da violência, as deslocações maciças, as perturbações no comércio e na agricultura e as condições meteorológicas adversas na África Ocidental e no Sahel irão contribuir para o agravamento da grave insegurança alimentar este ano.
“A covid-19 não poderia ter vindo em pior altura para as comunidades vulneráveis da África Ocidental”, sustentou, por isso, Coumba Sow.
Entre as populações mais afetadas estarão as mulheres e crianças.
“Cerca de 2,5 milhões de crianças – mais de um quarto no Burkina Faso, Mali e Níger – sofrem de subnutrição grave e aguda”, disse.
Coumba Sow assinalou que a pandemia está a alastrar durante os “meses cruciais” de plantação dos campos e de movimentação dos animais, o que está a impossibilitar ou a limitar muito essas atividades.
Sublinhou, por isso, a necessidade de os governos e os agentes humanitários “prestarem assistência às populações que necessitam de alimentos e de ajuda alimentar de emergência durante a estação de escassez”.
A responsável da FAO apontou ainda que as medidas de distanciamento social e o encerramento dos mercados “irá criar perturbações do mercado tanto para os comerciantes como para os consumidores”.
“Embora os efeitos da pandemia nos preços das mercadorias ainda não sejam visíveis, o facto de muitas pessoas estarem a comprar mercadorias em grandes quantidades pode levar a um aumento temporário dos preços e a uma escassez, criando uma situação difícil de gerir quando ou se a produção cair drasticamente”, afirmou.
De acordo com Coumba Sow, a ação da FAO naquela região africana está centrada na ajuda alimentar às famílias vulneráveis afetadas pela covid-19, no fornecimento de forragens e água aos pastores e sementes aos agricultores durante a estação seca, na tentativa de assegurar o funcionamento dos mercados para que todos possam comprar os alimentos a um preço razoável.
A coordenadora da FAO para a África Ocidental estimou ainda que, se a pandemia se agravar, a crise alimentar na região poderá atingir 50 milhões de pessoas, sublinhando, neste contexto, a necessidade de os países preverem o mais antecipadamente possível os efeitos da pandemia na agricultura e na segurança alimentar e adaptarem os respetivos planos de ação.
“Uma das ações mais importantes a nível nacional e regional é assegurar a manutenção dos sistemas alimentares e das cadeias de valor”, considerou.
O número de casos de covid-19 na região da África Ocidental atinge quase os 8.000, segundo dados oficiais da Organização Oeste Africana da Saúde, que contabiliza 201 mortes e 2.410 doentes recuperados.
Gana, Nigéria e Costa do Marfim são os países com mais casos registados (acima de 1.000), enquanto o maior número de mortes associadas à doença registou-se no Burkina Faso (42), Nigéria (40), Níger (29) e Mali (23).
Os lusófonos Cabo Verde (109 casos e 1 morte) e Guiné-Bissau (53 casos e 1 morte) contam-se entre países menos afetados da região.
Lusa/HN
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