Redação, 30 abr 2020 (Lusa) – A redução significativa da poluição devido às medidas para combater a covid-19 podem ter salvo 11.000 vidas na Europa nos últimos 30 dias, 609 em Portugal, segundo um estudo divulgado hoje.
As medidas para combater a pandemia de covid-19, doença causada por um novo coronavírus, levaram a uma grande desaceleração da economia, reduzindo substancialmente os transportes, com a produção de eletricidade a partir do carvão a cair 40% e o consumo de petróleo a diminuir em quase um terço, indica o estudo do Centro de Investigação em Energia e Ar Puro (Centre for Research on Energy and Clean Air – CREA, uma organização independente com sede em Helsínquia).
Como resultado, estima o CREA, as concentrações de dióxido de azoto (NO2) e de partículas finas (partículas em suspensão no ar, tóxicas) diminuíram 37% e 10%, respetivamente.
A melhoria da qualidade do ar evitou nos últimos 30 dias em Portugal 609 mortes (cerca de dois terços do número de mortes em Portugal atribuídas à covid-19, hoje contabilizadas em 973, segundo a Direção-Geral da Saúde). Numa estimativa mais otimista o número de mortes podia ser apenas de 440 e numa perspetiva mais pessimista poderia chegar a 887, segundo o estudo.
A Alemanha evitou 2.083 mortes prematuras, o Reino Unido 1.752, a Itália 1.490, França 1.230 e Espanha 1.081.
Quanto ao impacto na redução dos principais poluentes do ar, em resultado das medidas de emergência, Portugal surge como o país onde a redução é maior, com mais de 50%, tanto no dióxido de azoto como nas partículas finas.
Espanha foi o segundo país que mais reduziu os níveis de poluição, especialmente de NO2, seguida da Noruega, e de França.
Em termos de redução de NO2, Portugal liderou com menos 58%, seguido de Espanha com 51%, da Noruega com 48%, e da Croácia com 47%.
Na redução de partículas finas Portugal atingiu menos 55%, seguido da Grécia, com 32%, da Noruega (30%) e da Suécia (28%).
No resumo do documento os autores colocam ainda Portugal no grupo dos países que mais mortes evitaram devido à queda da poluição.
“Os impactos projetados evitados na saúde são maiores na Alemanha, Reino Unido, Itália, França, Espanha, Polónia e Portugal”, pode ler-se no documento.
Os autores salientam também que Portugal não produz energia através do carvão há mais de um mês.
O CREA nota, no estudo, que o carvão e a queima de petróleo são as principais fontes de poluição por NO2 e por partículas finas na Europa. E diz que o mês excecional devido à covid-19 teve ainda outros impactos além de evitar a perda de vidas, como menos 6.000 novos casos de asma em crianças, menos 1.900 idas às urgências dos hospitais devido a ataques de asma, e menos 600 nascimentos prematuros.
A poluição do ar, diz-se no documento, é a maior ameaça ambiental à saúde na Europa, com a esperança média de vida a ser reduzida na União Europeia em cerca de oito meses devido à exposição à poluição.
Em 2016, 400.000 mortes na Europa foram atribuídas a partículas finas e 71.000 mortes a NO2.
Estima-se, diz-se no documento citando a Organização Mundial de Saúde (OMS), que 60% da população dos países mais desenvolvidos da Europa esteja exposta a níveis de poluição que excedem as diretrizes da OMS, com 80% da população dos países mais pobres do continente na mesma situação.
Lusa/HN
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