Com 30 anos dedicados ao apoio aos mais necessitados, o Movimento de Apoio à Problemática da Sida (MAPS) viu-se obrigado a adaptar a sua sede em Faro para conseguir responder ao aumento dos pedidos de ajuda que tem recebido.
“No primeiro dia que nos foram pedidas refeições servimos 10 ou 15, no dia seguinte 30 e foi um crescendo até às 300 que temos hoje”, afirma à Lusa a vice-presidente da instituição, Elsa Morais Cardoso.
Aquela responsável revela que só com o apoio dos parceiros têm conseguido garantir o fornecimento de refeições diárias, mas também “o reforço de sopa, iogurtes, pão e fruta” a cerca de 300 pessoas entre a sede, em Faro, e as delegações de Quarteira (Loulé) e Portimão.
“Quem tinha carências continua a ter, agravadas com a pandemia, mas há um novo grupo que nunca passou por esta situação e as diferenças sociais notam-se quando as pessoas vêm ter connosco”, nota Elsa Morais Cardoso.
O turismo, a restauração e o aeroporto de Faro continuam a ser “os grandes empregadores” no Algarve, refere, considerando que “quando os dois membros do casal trabalham nestes setores”, a pandemia “coloca-os numa situação que não é comum nas últimas décadas em Portugal”.
Uma ronda pelos corredores da sede demonstra como foi necessário reorganizar a equipa e a estrutura para responder ao atual desafio. Entre psicólogos e técnicos a preparar cabazes, há ainda uma assistente social promovida a cozinheira e salas de trabalho convertidas em unidades de embalamento.
Na porta da entrada existe agora com um painel de acrílico a forçar o distanciamento social entre quem fornece ajuda e quem dela precisa, criando uma nova realidade, que se reflete também na necessidade de entrega de refeições a quem “não tem qualquer possibilidade em se deslocar por não ter dinheiro para colocar gasolina no carro”.
“Já tivemos pedidos de ajuda do meio da serra algarvia”, sublinha a vice-presidente do MAPS.
Nos agregados com crianças a situação “é muito complicada”, desabafa, com mães a “chegarem desesperadas e muitas vezes com lágrimas nos olhos” por não conseguirem dar aos filhos “os iogurtes ou as papas”.
“O que mais desespera as pessoas é a incerteza do seu trabalho, não sabem se vão regressar aos seus empregos. Muitos foram mesmo despedidos, não sabem se regressam e a maioria não vai mesmo regressar”, lamenta.
Não muito longe dali, no Motoclube de Faro, também se trabalha para acorrer aos pedidos de ajuda de quem ficou “com dificuldades económicas e não consegue comprar alimentos”, afirma à Lusa o seu presidente, notando que não se tratam apenas de pessoas com empregos precários, mas sim de “todas as classes sociais”.
“Temos recebido vários apoios de empresas algarvias e depósitos em dinheiro que revertemos em comida que levamos diariamente a quem necessita”, conta José Amaro, enquanto arruma pacotes de arroz, massa e outros alimentos nas paletes que ocupam agora parte da cave da sede.
Assumindo que o apoio social “está na génese do clube”, destaca que muitos dos apoios têm sido canalizados para pessoas que ”perderam os empregos na restauração, de onde levavam a comida para as refeições em casa”.
“Só quem anda a entregar as coisas é que vê a dificuldade que as pessoas têm e a forma como somos recebidos, por isso, é importante agradecer a quem nos ajuda para que possamos ajudar quem precisa”, conclui.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 227 mil mortos e infetou quase 3,2 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Cerca de 908 mil doentes foram considerados curados.
Lusa/HN
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