Pessoas com baixos rendimentos e baixa escolaridade são as que mais reportam ter dificuldades em comprar máscaras e em utilizá-las adequadamente. Simultaneamente é este o grupo que mais precisa de sair para exercer a sua atividade profissional. As respostas dos portugueses ao Opinião Social, um questionário de periodicidade semanal, do Barómetro COVID-19, que tem como objetivo acompanhar a evolução das perceções ( de risco, confiança nas instituições, cumprimento das medidas veiculadas, resposta dos serviços de saúde, impactos no seu quotidiano e na saúde mental, sob o ponto de vista do cidadão: Os resultados ao último questionário, realizado entre os dias 21 de março e 08 de maio, confirmam desigualdades crescentes em saúde: a crise da covid-19 está a afetar desproporcionadamente os mais vulneráveis.
Aquisição e utilização das máscaras
60% dos respondentes reportaram sentir dificuldades na aquisição de máscaras protetoras. São os com menor rendimento e menor escolaridade quem tem mais dificuldades: as pessoas que ganham menos de 650€ mensais reportam até 4 vezes mais dificuldade em adquirir máscaras por estas serem caras, ou seja cerca de 1 em cada 2 pessoas, reporta sentir esta dificuldade, enquanto que, somente 1 em cada 10 pessoas com rendimentos superiores a 2000€, o reporta.
“Estes resultados são ainda mais inquietantes quando analisamos quem, por força de ter de se deslocar para o local de trabalho, tem maior exposição ao risco de contrair Covid-19”, explica Sónia Dias – coordenadora científica do Opinião Social.
É nos escalões de rendimento mais baixos que se verifica a maior proporção de pessoas que têm de ir para o local de trabalho para exercer a sua atividade: 54% das pessoas que ganha menos de 650€ tem de se deslocar para o local de trabalho, enquanto que 75% das pessoas com rendimentos superiores a 2500€ está a desenvolver a sua atividade profissional em teletrabalho.
Estas diferenças são ainda mais acentuadas quando se olha para o nível de escolaridade. “Os dados mostram-nos que são as pessoas menos escolarizadas que poderão estar mais expostas: 76% das pessoas com até ao 9º ano de escolaridade tem de ir para o local de trabalho, enquanto que esta proporção desce para 26% nas pessoas com ensino superior”, acrescenta a coordenadora.
São também as pessoas com menor escolaridade que mais referem não saber, ou não se terem informado sobre como utilizar as máscaras protetoras, o que, acrescenta a professora universitária, “pode sugerir uma possível acumulação de risco”. Ainda em relação ao conhecimento sobre como utilizar as máscaras, verifica-se que são duas vezes mais os homens que dizem não as saber usar, comparativamente com as mulheres.
De mencionar ainda que 43% da população usa máscara protetora somente em determinadas situações e 51% usa-a sempre que sai de casa. Dos que referem nunca usar máscara, 1 em cada 10 idosos assume não usar máscara protetora. Verifica-se ainda que são os homens que referem nunca usar, nomeadamente duas vezes mais do que as mulheres.
Desigualdades no acesso aos serviços de saúde
O Opinião Social já tinha reportadas a existência de diferenças no que diz respeito ao acesso aos serviços de saúde, mas ao analisar esta questão em função do escalão de rendimento, observa-se um gradiente social em que, tendencialmente, é nos escalões mais baixos que se verificam proporções maiores de pessoas que, tendo necessidade, não tiveram consulta. Cerca de 1 em cada 2 pessoas cujo rendimento é inferir a 650€, não tiveram consulta.
Foi no Alentejo, uma das regiões mais envelhecida do país, onde se verificou a maior proporção de pessoas que não tiveram consulta (71%) seguindo-se a zona Centro (61%). De entre as pessoas que necessitaram de uma consulta médica durante o período de COVID-19, 73% dos idosos não a tiveram, em comparação com 55% das pessoas com idades entre os 46 e os 65 anos.
No que respeita a não ter ido à urgência ou não ter feito um tratamento num serviço de saúde, são também os idosos quem mais reporta (46% e 68% respetivamente), em comparação com idades inferiores (30% em idades 25-65 anos, relativamente às urgências).
Quem mais perdeu o rendimento?
É a população com remunerações mais baixas, a camada mais jovem e a menos escolarizada quem está a ser mais afetada pela perda de rendimento.
Das pessoas cujo rendimento mensal é inferior a 650€, 2 em cada 3 referem tê-lo perdido durante a crise COVID-19 (40% de forma parcial e 25% de forma total). Dados preliminares revelam ainda que o número de participantes que refere obter rendimentos inferiores a 650€ triplicou da Semana 1 para a Semana 7 do questionário Barómetro Covid-19: Opinião Social (período entre 21 de março e 8 de maio). “Estes dados chamam a atenção para o facto de, nos próximos tempos, ainda se poderem agravar mais as vulnerabilidades socioeconómicas já existentes”, alerta Sónia Dias.
Verifica-se também que 1 em cada 2 jovens com idade entre os 16 e os 25 anos reporta ter perdido rendimento, bem como metade dos que têm até ao 9ºano de escolaridade.
É no Algarve que se verifica a maior proporção de pessoas que perderam rendimentos (57%), e de pessoas que suspenderam a atividade profissional (30%), seguindo-se o Norte com 47% e o Centro com 42% de pessoas que perderam rendimento.
CI/HN
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