O aumento notável do perímetro abdominal de muita gente é um efeito colateral da quarentena devido ao surto global de Covid-19. Atividade física reduzida, aliada à mesma ingestão de calorias ou mesmo superior, podem conduzir rapidamente a um aumento de peso substancial.
Surpreendentemente, algumas pessoas conseguem viver este período sem ganhar peso – todos conhecemos pessoas que podem comer o que quiserem, mas parecem não ganhar peso. Um consórcio de investigadores internacionais, incluindo cientistas do IMBA, da Universidade da Colúmbia Britânica, da Universidade Médica de Viena e do Biobank da Estónia, adotou uma abordagem inovadora: até agora, a regulação do metabolismo da gordura concentrou-se principalmente em encontrar genes ligados à obesidade. A equipa, no entanto, iniciou uma investigação para descobrir genes ligados à magreza, ou à resistência ao aumento de peso.
Para identificar estes genes, a equipa desenvolveu estudos associados ao genoma de um coorte de população da Estónia, que envolveu mais de 47.000 pessoas. Compararam indivíduos magros e conseguiram identificar o ALK, que codifica o linfoma quinase anaplásico, como um gene candidato à magreza. O ALK era conhecido principalmente devido ao seu envolvimento no cancro.
Para testar a hipótese do ALK estar envolvido na magreza, os investigadores inativaram o gene ALK em ratos de laboratório. Surpreendentemente, apesar da ingestão e atividade física normais, os ratos com deficiência de ALK eram mais magros devido a uma massa gorda muito reduzida e estavam protegidos contra a obesidade induzida pela dieta, em oposição aos restantes ratos da ninhada. Curiosamente, ao inativar o ALK na mosca da fruta “Drosophila melanogaster”, os investigadores também encontraram um aumento de gordura significativamente menor, mesmo quando as moscas eram alimentadas com uma dieta rica em sacarose.
O primeiro autor do estudo, Michael Orthofer, do laboratório Penninger, explica: “Usando uma técnica denominada calorimetria indireta, é possível mostrar que os ratos com deficiência de ALK revelam um aumento no dispêndio de energia. Isso significa que queimam mais calorias do que os ratos normais e explica por que motivo permanecem magros, mesmo que consumam a mesma quantidade de comida. Além disso, estes animais também apresentam uma melhor tolerância à glicose”.
O ALK expressa-se mais nitidamente numa região cerebral muito específica denominada núcleo paraventricular (PVN) do hipotálamo. Quando os cientistas inativaram o ALK nessa área do cérebro, observaram uma redução do peso corporal. Sabe-se que o PVN está envolvido na regulação da homeostase energética, tanto pelas vias hormonais como pelo sistema nervoso simpático, que usa a norepinefrina como neurotransmissor.
De facto, os níveis do neurotransmissor norepinefrina eram elevados, tanto na gordura branca como castanha dos ratos mutantes, indicando que a deficiência de ALK aumenta o tónus simpático nos tecidos adiposos. Consequentemente, os ratos em que o ALK foi inativado apresentaram um aumento da diminuição de gordura, o que explica a sua baixa adiposidade corporal e resistência ao aumento de peso.
“Isto reforça a noção de que o ALK faz parte de um circuito cerebral maior, envolvido no gasto de energia. Estamos muito entusiasmados com estes resultados sobre a genética da magreza e investigaremos mais os mecanismos de como os neurónios que expressam o ALK são capazes de controlar o peso. Os nossos resultados também destacam o importante potencial terapêutico da inibição do ALK ”, diz Josef Penninger, líder do grupo IMBA e atual diretor do Instituto de Ciências da Vida da Universidade da Colúmbia Britânica.
AO/HN
Nota bibliográfica: “Identification of ALK in thinness”, Orthofer et al, Cell, 2020, doi: 10.1016/j.cell.2020.04.034
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