Testes ao sangue podem ser a nova arma na luta contra a malaria

1 de Junho 2020

Um novo trabalho de investigação desenvolveu um painel de marcadores serológicos capazes de classificar indivíduos infetados pelo parasita nos últimos nove meses com uma grande possibilidade de hospedarem hypnozoites.

O plasmodium vivax é o mais comum parasita da malária e coloca cerca de dois milhões de pessoas em risco de infeção em todo o planeta. Da mesma maneira que é capaz de causar a doença durante o seu período “ativo”, o parasita consegue esconder-se no fígado recorrendo à hypnozoite, um estado de dormência. E é uma causa significativa de malária “recorrente”.

Estes hypnozoites, indetetáveis utilizando as técnicas atuais de diagnóstico, podem ser responsáveis por 80% de todas as formas de infeção no sangue. A identificação de indivíduos com hypnozoites é por isso essencial para acelerar o processo de eliminação da malária. Mas a identificação destes indivíduos é uma grande falha nos mecanismos existentes para a eliminação do Plasmodium vivax.

Este estudo desenvolveu um painel de marcadores serológicos capazes de classificar indivíduos infetados pelo parasita nos últimos nove meses com uma grande possibilidade de hospedarem hypnozoites.

Primeiro mediu-se a resposta dos anticorpos IgG com o sistema AlphaScreen a 324 proteínas do P. vivax expressas num sistema livre de células, inventado na Universidade de Ehime, numa coorte conduzida na Tailândia e no Brasil. Foram identificados 60 possíveis marcadores de exposição.

Depois, os marcadores candidatos foram validados utilizando amostras de uma coorte de observação que durou um ano no Brasil, Tailândia e nas Ilhas Salomão, e a resposta dos anticorpos a oito proteínas no P. vivax classificadas como infeções nos últimos nove meses, com 80% de sensibilidade e especificidade.

Modelos matemáticos demonstraram que um estudo serológico e uma estratégia de teste poderiam reduzir a prevalência do P. vivax entre 59 a 69%. Estas oito respostas dos anticorpos podem servir como marcadores biológicos e vão identificar os indivíduos que devem ser referenciados para terapia anti-hypnozoite. O teste oferece novas oportunidades para melhorar o controlo sobre a malária e as suas estratégias de eliminação.

NR/HN/João Daniel Ruas Marques

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