Professor Henrique Lopes: Peritos defendem a criação de Centros de Referência em Esclerose Múltipla

23 de Junho 2020

A Unidade de Saúde Pública da Universidade Católica Portuguesa acaba de divulgar as principais conclusões do Think Tank, ‘Consenso Nacional para a Esclerose Múltipla’. Os peritos liderados pelo Professsor Henrique Lopes recomendam, designadamente, a criação de Centros de Referência, de forma a cobrir todo o território nacional e garantir a equidade de assistência

A constituição de Centros de Referência e de um Registo Nacional de Esclerose Múltipla (EM), o uso de linhas terapêuticas mais eficazes na fase inicial da doença, de acordo com o julgamento clínico, e um reforço no apoio social prestado aos doentes e cuidadores, são algumas das linhas estratégicas enunciadas no “Consenso Nacional para a Esclerose Múltipla”.

 A Unidade de Saúde Pública da Universidade Católica Portuguesa acaba de divulgar as principais conclusões do Think Tank “Consenso Nacional para a Esclerose Múltipla”, que congregou mais de duas dezenas de peritos e entidades relevantes para a gestão da patologia, num processo de reflexão conjunta ao longo do ano de 2019.

De acordo com o documento, pode fazer-se muito mais “com os mesmos ou pouco mais recursos, sendo essa leitura transversal à prestação de cuidados de saúde e sociais aos doentes de Esclerose Múltipla”.

Henrique Lopes, coordenador do Think Tank e professor da Unidade de Saúde Pública da Universidade Católica Portuguesa, explicou que “o trabalho de investigação desenvolvido no âmbito do Consenso, veio comprovar que a Esclerose Múltipla, por ser uma doença degenerativa com forte impacto em todas as esferas da saúde e vida do doente, representa uma realidade com elevados custos monetários e não-monetários”.

Uma das soluções indicadas prende-se com a criação de um Registo Nacional de Esclerose Múltipla (RNEM). O objetivo é garantir “o uso eficiente dos recursos”, ter uma ideia “tão exata quanto possível” dos custos associados à gestão da doença, contribuir para a melhoria da segurança do doente e “gerir da melhor forma o doente, a partir de qualquer ponto do território nacional”

“Estamos a falar de um sistema agregador de informação-chave dos pacientes que poderá facilitar, de forma significativa, o trabalho dos profissionais de saúde ao nível do acompanhamento e tratamento da doença, mas também no que à gestão do sistema de saúde e investigação científica diz respeito”, esclareceu Henrique Lopes.

A implementação deste Registo “traria um imperativo contributo para a resposta aos atuais atrasos no diagnóstico e acesso demorado à terapêutica, dois fatores causadores de maiores custos quer para a qualidade de vida do doente, quer para o próprio sistema de saúde e sociedade em geral”.

Por outro lado, os peritos entendem que a complexidade da doença e a experiência internacional “sugerem fortemente a criação de Centros de Referência em Esclerose Múltipla, para que possam existir locais capacitados a fazer a gestão do conhecimento e para lidar com todos os recursos tecnológicos integrantes dos protocolos clínicos, bem como para mitigar o risco inerente ao uso de novas tecnologias empregues no tratamento da doença”.

O documento destaca ainda “a possibilidade de uso de linhas terapêuticas mais eficazes na fase inicial da doença de acordo com a recomendação clínica – garantindo a contenção da progressão da doença”. Os doentes mais recentes e jovens “são os que mais têm a ganhar com esta abordagem, na medida em que num elevado número se pode suster a progressão da doença com tudo o que isso representa numa doença de dano irreversível e grande limitação da vida do doente”.

Melhorar a equidade ao longo de todo o território nacional é outra preocupação expressa no Consenso Nacional: “Principalmente os doentes do interior ou assistidos em hospitais de menor diferenciação, não têm por vezes acesso aos medicamentos de segundas e terceiras linhas. São ainda prejudicados, se assistidos em hospitais de maior diferenciação, por terem a dispensa dos medicamentos hospitalares feita somente no hospital onde são seguidos”. Isso “representa para o doente o custo de chegar a ter de fazer uma ou mais vezes por mês, viagens de até centenas de quilómetros da sua residência.”

O consenso estende-se igualmente à necessidade de promover o reforço do apoio social aos doentes e respetivos cuidadores, área na qual “as associações de doentes poderão dar uma ajuda inestimável pois que em vários domínios são quem tem maior experiência acumulada”.

NR/PR/AO/HN

 

 

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

IGAS processa Eurico Castro Alves

A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) anunciou hoje ter instaurado em novembro de 2024 um processo ao diretor do departamento de cirurgia do Hospital Santo António, no Porto.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights