A Inteligência Artificial (IA) está a ser cada vez mais utilizada na Medicina para apoiar o conhecimento humano. No entanto, o potencial destas aplicações e os riscos inerentes à interação entre a inteligência humana e artificial ainda não foram suficientemente investigados. Existe o receio de, no futuro, a IA poder substituir os médicos. Estes receios são ainda alimentados pela crença de que existe uma “competição” entre o ser humano e a Inteligência Artificial. Um estudo internacional, liderado pela Universidade Médica de Viena, ilustra o enorme potencial da colaboração humana/computador.
O estudo internacional liderado por Philipp Tschandl e Harald Kittler (Departamento de Dermatologia) e Christoph Rinner (Instituto de Gestão de Informação Médica) daquela universidade, desmente a ideia desta alegada “competição”. Pelo contrário, demonstra o enorme potencial de combinar a perícia humana com a Inteligência Artificial.
O estudo, publicado na Revista “Nature Medicine” examina a interação entre médicos e a IA, de várias perspetivas e em diferentes cenários. Embora os autores restrinjam as suas observações ao diagnóstico de carcinomas da pele, sublinham que os resultados podem ser extrapolados para outras áreas da Medicina.
Numa experiência criada pelos próprios autores do estudo, 302 médicos e técnicos avaliaram imagens dermoscópicas de alterações benignas e malignas da pele, com e sem o apoio da Inteligência Artificial.
A avaliação da IA foi fornecida em três variáveis distintas. No primeiro caso, a IA mostrou aos profissionais de saúde as probabilidades de todos os diagnósticos possíveis; no segundo caso, a probabilidade de uma alteração maligna e, no terceiro caso, uma seleção de imagens semelhantes com diagnósticos conhecidos, como se fosse uma pesquisa de imagens na Google.
Os autores concluíram que apenas no primeiro caso a colaboração com a IA melhorou a precisão diagnóstica dos profissionais de saúde, com um aumento de 13% nos diagnósticos corretos.
“Os profissionais menos experientes confiaram mais na IA do que os mais experientes. Estes últimos apenas aceitaram as sugestões de alteração do seu diagnóstico original nos casos em que eles próprios estavam inseguros”, sublinharam os autores do estudo.
Uma segunda experiência mostrou que todos, mesmo peritos reconhecidos, podem ser enganados pela IA, se o “output” for alterado para indicar falsos diagnósticos. “O estudo mostra, portanto, que é necessária uma certa confiança na IA para beneficiar do seu contributo, mas essa confiança também pode ter um lado negativo”.
Noutra fase do estudo, os autores mostraram que a IA de boa qualidade é capaz de filtrar alterações benignas da pele num cenário de telemedicina. Isto poderia reduzir significativamente o número de casos que precisam de ser examinados por um especialista humano.
Numa experiência final, os investigadores verificaram que as pessoas podem aprender a utilizar conceitos gerados pela IA como indicadores de diagnóstico, a fim de melhorar as suas próprias competências, independentemente da IA.
Os autores concluem que “no futuro, a inteligência humana e artificial vão ser complementares e, conjuntamente, poderão melhorar o tratamento dos doentes. Devemos deixar de nos concentrar na competição e focar-nos na colaboração entre a perícia humana e a inteligência artificial”.
Informação bibliográfica:
https://www.meduniwien.ac.at
“Human–computer collaboration for skin cancer recognition.” Philipp Tschandl, Christoph Rinner, Zoe Apalla, Giuseppe Argenziano, Noel Codella, Allan Halpern, Monika Janda, Aimilios Lallas, Caterina Longo, Josep Malvehy, John Paoli, Susana Puig, Cliff Rosendahl. H. Peter Soyer, Iris Zalaudek and Harald Kittler. Doi: 10.1038/s41591-020-0942-0.
NR/HN/Adelaide Oliveira
0 Comments