Nova estirpe do vírus zika circula no Brasil e pode originar epidemia

25 de Junho 2020

Uma nova linhagem do vírus zika foi detetada em circulação no Brasil e a possibilidade de uma nova epidemia ganhou mais força, informou hoje a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), após a realização de um estudo.

São conhecidas duas linhagens do vírus zika: a asiática e a africana (subdividida em oriental e ocidental). Através de uma ferramenta que monitoriza as sequências genéticas do vírus, os cientistas do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia detetaram, pela primeira vez no país, um tipo africano do zika, com potencial para originar uma nova epidemia.

“A linhagem africana foi isolada em duas regiões diferentes do Brasil: no Sul, vindo do Rio Grande do Sul, e no Sudeste, do Rio de Janeiro”, informa o estudo da Fiocruz, maior centro de investigação médica da América Latina.

A distância geográfica e a diferença de hospedeiros do vírus (mosquito Aedes albopictus, da família do Aedes aegypt [mosquito que transmite zika, dengue ou febre amarela] e uma espécie de macaco) sugerem que essa linhagem já está em circulação no país há algum tempo e pode ter potencial epidémico, uma vez que a maior parte da população não tem anticorpos para essa nova estirpe, informou o investigador Artur Queiroz, um dos autores do estudo.

Para Queiroz, a descoberta demonstra a utilidade da ferramenta, classificando-a como “um bom mecanismo de vigilância e alerta para a possibilidade de uma nova epidemia de zika”.

Já outra das autoras do estudo advogou que, apesar do novo coronavírus dominar a atualidade, o país não pode esquecer outras doenças que o afetam.

“Atualmente, com as atenções voltadas para a covid-19, este estudo serve de alerta para não esquecermos outras doenças, em especial a zika. A circulação do vírus no país, bem como a realização de estudos genéticos devem continuar a ser realizados a fim de evitar um novo surto da doença com o novo genótipo circulante”, reforça Larissa Catharina Costa.

O estudo foi publicado no início do mês no periódico ‘International Journal of Infectious Diseases’ (Jornal Internacional de Doenças Infecciosas, na tradução para português) e serve como um alerta para a vigilância do vírus.

Nos primeiros meses de 2016, o vírus zika levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar emergência internacional.

Cerca de 30 países relataram casos de bebés nascidos com malformações relacionados com o vírus zika e só no Brasil foram mais de 3.500 casos, segundo a Fiocruz.

O zika é disseminado principalmente através da picada de mosquito, mas o contágio também pode ocorrer através de relações sexuais e de mãe para o feto durante a gravidez. Para a maioria dos infetados, os sintomas são febre, urticárias e dores nas articulações.

De acordo com o Ministério da Saúde brasileiro, este ano foram notificados 3.692 casos prováveis do zika no país. Contudo, essa situação pode mudar caso uma nova estirpe genética comece a circular na população.

LUSA/HN

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