A Coleção BPN (ex-Banco Português de Negócios), que foi adquirida pelo Estado por cinco milhões de euros, vai ficar instalada em Coimbra, no Centro de Arte Contemporânea, situado para já num edifício junto ao Arco de Almedina, que é inaugurado hoje, Dia da Cidade.
Para dar a conhecer a coleção do antigo banco, foi criado um ciclo de exposições, intitulado “De que é feita uma Coleção?”, elaborado pelo curador do Centro de Arte Contemporânea de Coimbra, José Maçãs de Carvalho, e pelo curador da Coleção de Arte Contemporânea do Estado, David Santos.
A primeira, de nome “Corpo e Matéria”, revela 27 das quase 200 obras da Coleção BPN que vão ficar na cidade pelo prazo de 25 anos (renovável por igual período pelas partes envolvidas – Câmara de Coimbra e Ministério da Cultura).
Nesta primeira exposição, vão estar expostas obras de fotografia, pintura e escultura.
Amadeo de Souza-Cardoso, Eduardo Batarda, Julião Sarmento, Ana Vidigal, Maria Helena Vieira da Silva, Paula Rego, Rui Chafes ou João Louro são alguns dos nomes representados, numa exposição que conta também com a participação de artistas estrangeiros, como Allan Sekula, Douglas Gordon ou Paul Morrison.
“A coleção não tinha um curador específico e o que estamos a fazer é a tentar dar uma forma narrativa e interpretativa a um conjunto de obras que, neste momento, estão numa espécie de vizinhança súbita”, explicou o curador do Centro de Arte.
José Maçãs de Carvalho salientou o desafio que foi pegar nessa coleção “em potência” e tentar “encontrar sinais perdidos no tempo” – quase uma espécie de “arqueologia da coleção” para tentar criar uma narrativa.
De acordo com David Santos, a Coleção BPN compreende quase 200 peças de arte moderna e contemporânea, que dão “um panorama da arte portuguesa na segunda metade do século XX”, com exceção da obra que estará presente na primeira exposição de Amadeo de Souza-Cardoso.
Para o Curador da Coleção do Estado, um dos ‘ex libris’ da coleção será a pintura de Souza-Cardoso, destacando também “Les Berges”, de Vieira da Silva, e uma escultura em ferro de Rui Chafes da série “Da Vida Monástica”, para além de obras de Eduardo Batarda e José Loureiro.
O presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado, considera que a vinda da Coleção BPN para Coimbra “é muito importante” para a cidade, permitindo também criar “mais um ponto atrativo para a visita”, em pleno coração da cidade, onde se pode “apreciar o antigo e o novo”.
O Centro de Arte Contemporânea de Coimbra, instituído pelo Ministério da Cultura em articulação com o município, fica, para já, em três dos quatro pisos de um edifício junto ao Arco de Almedina.
As instalações definitivas do Centro serão, após obras de requalificação, na antiga sucursal da Manutenção Militar em Coimbra (cujo imóvel passou do Ministério da Defesa para Câmara de Coimbra em maio de 2017), na Avenida Sá da Bandeira, a algumas centenas de metros do edifício que recebe provisoriamente a Coleção BPN.
Questionado pela agência Lusa, Manuel Machado referiu que, logo a seguir à abertura do Centro, a autarquia vai “intensificar o trabalho para reunir fontes de financiamento” de forma a avançar com a intervenção na Manutenção Militar.
O destino da Coleção BPN aguardava decisão do Governo desde a nacionalização daquela instituição bancária, em 2008.
Para além de três quadros da pintora Maria Helena Vieira da Silva, entretanto depositados na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva (onde se manterão), o acervo de obras de arte do ex-BPN reúne obras de artistas consagrados como Paula Rego, Amadeo de Souza-Cardoso, Mário Cesariny, Rui Chafes, Eduardo Batarda e António Dacosta.
Deste acervo saiu a polémica Coleção Miró, que estava para ser vendida no estrangeiro, mas acabou por ficar em Portugal (no Porto, na Fundação de Serralves).
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