Um dos estudos na tese é baseado numa revisão dos registos médicos de todos os 435 pacientes adultos hospitalizados no Hospital Universitário Sahlgrenska, que tiveram confirmação laboratorial do vírus da influenza durante a época 2016-2017.
Destes pacientes, 114 casos (26%) foram classificados como relacionados com a prestação de serviços de saúde. Estes pacientes tinham sido admitidos por outras razões, e os sintomas de gripe não se fizeram sentir antes de 48 horas após a admissão.
Uma análise genética detalhada do vírus foi também realizada através de amostras. A análise mostrou uma relação genética próxima entre vírus da gripe em amostras obtidas de pacientes da mesma ala hospitalar no espaço de uma semana.
“Para além da associação no tempo e espaço, uma espécie de prova de ADN, como a de um local de um crime, foi utilizada. No geral. Há fortes evidências que apoiam a transmissão e infeção dentro do hospital”, diz Martina Sansone, Doutorada recentemente pela Academia Sahlgrenska, da Universidade de Gotemburgo, e consultora em doenças infeciosas e higiene hospitalar no Hospital Universitário Sahlgrenska.
Grande proporção de infeções associadas à prestação de cuidados de saúde
“A proporção que ficou infetada dentro do hospital foi ainda mais elevada do que julguei que pudesse ser – e apesar de tudo, este é o meu trabalho”, continua. “Esta área de investigação não está especialmente bem explorada”.
Vinte e seis pessoas no grupo de estudo morreram. A maioria eram pacientes mais velhos com doenças cardíacas ou pulmonares, e a época gripal 2016-2017 foi uma considerada relativamente grave.
Baseada inteiramente nos seus estudos de doutoramento – incluindo um surto gripal no Hospital Kungälv – Sansone conclui que a infeção com influenza em recintos hospitalares é comum.
A escassez de camas é identificada como um fator chave no contexto. A falta de quartos “single” conduz também à maior transferência de doentes dentro do hospital, o que, por sua vez, pode contribuir para a disseminação da infeção.
“Tem havido um foco exagerado em medir e cortar os tempos de espera nas urgências. Às vezes a decisão de hospitalizar os doentes é tomada demasiado rápido, antes do diagnóstico estar completo e de sabermos o risco da pessoa ser infeciosa. Acho também que às vezes é difícil para o staff perceber que um paciente pode ser perigoso para outro”.
Lição relacionada com o COVID-19
Os paralelos com o COVID-19 são óbvios para Sansone. Os sintomas das vias respiratórias são comuns e podem ser pouco acentuados. Também na época da gripe, o planeamento cuidado pode ser adiado para pacientes que precisem de estar isolados no ambiente hospitalar.
“Na suécia os nossos hospitais têm estado extremamente acessíveis a membros familiares bem como a outras pessoas, com imensa gente a entrar e a sair. Porque não ter alas para a gripe separadas, da mesma maneira que temos alas para a COVID-19?”, pergunta.
“As necessidades cruciais são, para nós, a redução dos contactos, a realização de testes à gripe atempados nas urgências, e o aumento das taxas de vacinação. Hoje, cerca de 50% da população mais velha é vacinada contra a gripe na Suécia, bem abaixo do objetivo da Organização Mundial de Saúde de 75%”, acrescenta.
NR/HN/João Daniel Ruas Marques
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