Criada num momento de grande tensão, por causa dos cenários de Itália e Espanha, a linha de apoio Diabetes fez parte da estratégia de apoio especializado, por parte da APDP, às pessoas com diabetes de todo o país. Esta teve, desde o primeiro momento, a finalidade de, através do aconselhamento por especialistas, evitar a ida das pessoas aos serviços de urgência. O atendimento especializado é feito por profissionais de saúde peritos em diabetes, inicialmente quatro enfermeiros (mais tarde juntaram-se mais seis), com permanente apoio de endocrinologistas da APDP em todas as chamadas, e pretende compensar as situações relacionadas com diabetes (hipoglicemias, hiperglicemias, ajustes de terapêutica, necessidade de receitas de medicamentos, etc.). O objetivo inicial da linha, de evitar que as pessoas não tivessem que recorrer aos serviços de urgência, foi para que, por um lado, as pessoas não corressem risco de contrair Covid 19 e, por outro, libertar os recursos do Serviço Nacional de Saúde para o atendimento a Covid 19. 

Das situações atendidas podemos destacar, a título de exemplo, descompensações graves com necessidade de iniciar injeções de insulina, ou monitorização de glicemia capilar, e que o fizeram com ajuda telefónica e prescrição da medicação à distância, sem que tivessem que se deslocar a nenhuma instituição de saúde. 

Nessa fase foi também fundamental as situações urgentes de pessoas que não se dirigiram aos serviços de urgência com medo, mas que não podiam deixar de o fazer. Situações como Acidente Vascular Cerebral (AVC), descolamento de retina, feridas graves que podiam culminar em amputações, entre outras. Todos os profissionais de saúde da APDP estiveram na retaguarda e podiam ser chamados a dar a sua opinião de especialista. Por exemplo, através de fotografias enviadas por email, foi possível que um oftalmologista observasse uma alteração ocular, a equipa do departamento de pé diabético conseguiu analisar feridas e articularam vários atendimentos urgentes no próprio dia, nas instalações da APDP, ou aconselharam a ida a outro local do país.

Mas logo após o seu início, esta linha esteve em permanente “mutação” para responder às solicitações que tinha. Assim, para além das situações relacionadas com a diabetes já referidas, teve um grande trabalho de informação legal sobre os direitos das pessoas com diabetes e cuidados em geral relacionados com a Covid 19 (isolamento, desinfeção, sintomas, contágio). Além disso, teve também um papel importante de esclarecimento na altura das notícias relacionadas com medicação esgotada em farmácias.

Após quatro dias de funcionamento, os quatro enfermeiros da linha sentiram a necessidade de criar o primeiro “manual” sobre diabetes e Covid. Juntamente com os endocrinologistas, fizeram a sua publicação em português e inglês e foi divulgado pelas escolas europeias de saúde pública.

Da análise efetuada às primeiras 1500 chamadas, podemos dizer que 65% pertencem à área metropolitana de Lisboa, sendo 35% do resto do país e algumas do estrangeiro.51% foram do sexo feminino e 49% do sexo masculino. 24% tinham questões diretamente relacionadas com Covid19, 21% tinham um problema de saúde diferente da diabetes, 11% tinha dúvidas sobre a diabetes, 7% tinha a diabetes descompensada, as outras estavam relacionadas com receitas, feridas do pé diabético e outras informações. 54% das pessoas que ligaram são acompanhadas na APDP, 33% são acompanhadas nos cuidados de saúde primários, 10% num hospital, 2% em consultórios privados e 1% no estrangeiro. As faixas etárias que mais ligaram foram, em primeiro lugar, dos 60 aos 69 anos, seguida da faixa entre os 70 e os 79 anos e depois entre os 50 e os 59 anos. Cerca de 65% das pessoas que ligaram têm diabetes tipo 2, 14% tipo 1, 12% familiares de alguém com diabetes, e os restantes amigos, ou profissionais de outras instituições de saúde.