Peptídeo torna as bactérias multirresistentes novamente sensíveis aos antibióticos

13 de Agosto 2020

Os cientistas da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura (NTU Singapore) desenvolveram um peptídeo sintético que pode tornar as bactérias multirresistentes novamente sensíveis, quando utilizado juntamente com os antibióticos tradicionais.

Este avanço representa uma nova esperança na perspetiva de uma estratégia de tratamento combinado para combater certas infeções resistentes aos antibióticos. Por si só, o peptídeo antimicrobiano sintético também pode matar bactérias que se tornaram resistentes aos antibióticos.

Todos os anos, segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 700.000 pessoas morrem em todo o mundo com doenças resistentes aos antibióticos. Na ausência de novas terapêuticas, as infeções causadas por superbactérias resistentes poderiam matar anualmente mais 10 milhões de pessoas em todo o mundo até 2050, ultrapassando os números do cancro. A resistência das bactérias aos antibióticos surge quando conseguem reconhecer e impedir que os medicamentos que, de outra forma as matariam, atravessem a sua parede celular.

Esta ameaça é acelerada pelo desenvolvimento da pandemia de Covid-19, com doentes internados em hospitais e a receberem frequentemente antibióticos para manter sob controlo infeções bacterianas secundárias, aumentando a oportunidade de surgirem agentes patogénicos resistentes e de se propagarem.

A equipa da NTU Singapura, liderada pela Prof.ª Kimberly Kline e pela Prof.ª Mary Chan, desenvolveu um peptídeo antimicrobiano, conhecido como CSM5-K5, que compreende unidades repetidas de quitosano (um açúcar encontrado em conchas de crustáceos que se assemelha estruturalmente à parede celular bacteriana) e unidades repetidas do aminoácido lisina.

Os cientistas acreditam que a semelhança estrutural do quitosano com a parede celular bacteriana ajuda o peptídeo a interagir e a inserir-se na mesma, provocando estragos na parede e na membrana que acabam por matar as bactérias.

A equipa testou o peptídeo em biofilmes, que são camadas viscosas de bactérias que podem agarrar-se a superfícies, tais como tecidos vivos ou dispositivos médicos nos hospitais.

Tanto nos biofilmes pré-formados no laboratório como nos biofilmes formados em feridas de ratinhos, o peptídeo desenvolvido pela NTU matou pelo menos 90% das estirpes de bactérias em quatro a cinco horas.

Estas descobertas foram publicadas na revista científica “ACS Infectious Diseases”, no passado mês de maio.

A Prof.ª Kimberly Kline, investigadora principal do Centro de Engenharia das Ciências da Vida Ambiental de Singapura (SCELSE) da NTU, afirmou: “As nossas descobertas mostram que o nosso peptídeo antimicrobiano é eficaz, quer seja utilizado sozinho ou em combinação com antibióticos convencionais para combater bactérias multirresistentes . A sua potência aumenta quando usado com antibióticos, restaurando de novo a sensibilidade da bactéria aos medicamentos. Mais importante ainda, descobrimos que as bactérias que testamos desenvolveram pouca ou nenhuma resistência contra o nosso peptídeo, tornando-o uma adição eficaz e viável aos antibióticos e uma estratégia viável de tratamento combinado, num momento em que o mundo se debate com o aumento da resistência aos antibióticos”.

A Prof.ª Mary Chan, diretora do Centro de Bioengenharia Antimicrobiana da NTU, acrescentou: “Embora os esforços se concentrem em lidar com a pandemia de Covid-19, devemos também recordar que a resistência aos antibióticos continua a ser um problema crescente. As infeções bacterianas secundárias podem complicar as situações dos doentes, representando uma ameaça nos cuidados de saúde. Por exemplo, as infeções respiratórias virais poderiam permitir que as bactérias entrassem mais facilmente nos pulmões, provocando uma pneumonia bacteriana, que está normalmente associada à Covid-19”.

NR/HN/ADelaide Nobre Oliveira

 

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