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+COVID-19: só se aprende o que se quer aprender?
Nunca se terá visto nada como o que se observa na actual pandemia. Essencialmente, destacam-se o foco mundial e o financiamento “farto” no desenvolvimento de uma vacina e o diálogo abundante entre a investigação científica e os media. O dramatismo do número de casos, com ordens de grandeza de dezenas de milhões e os muitos óbitos e, ainda, os grupos etários mais atingidos por certo estarão na origem disso mas, apesar de tudo, esses aspectos devem ser referenciados como “marcos” de importância realmente transcendente.
Também apesar disso, se for lido o que foi escrito a propósito da pandemia da gripe Espanhola (que nada tem de Espanhola …), também de origem zoonótica e ocorrida há mais de um século (1918), muitos comportamentos, não diria que se repetem, mas continuam muito frequentes (até as manifestações anti máscara …). Interessantemente há mais de cem anos, os Estados Unidos da América e o Brasil foram igualmente muito “fustigados”, tendo sido até atingidos políticos proeminentes, então (por vezes) fatalmente.
Na actual época em que o protagonista é o SARS-CoV-2, o perfil pandémico situa-se agora na entrada do tempo mais frio, no início do ano escolar e, essencialmente e na nossa perspectiva, nos casos de COVID-19-infecção identificados, ocasionalmente, durante testagens “preventivas” como acontece em determinadas situações, como em surtos, em prestação de cuidados de saúde ou em actividades específicas como o transporte aéreo. De facto, os casos sintomáticos (COVID-doença) continuam ainda a ser apenas “a ponta do iceberg“ da circulação do vírus nas populações, ainda que sejam um dos focos principais de atenção.
O que já foi por nós denominado “invisível” é, provavelmente, oito a nove (ou mais) vezes o que é “visível” e tem sido “contido” parcialmente pelas medidas já interiorizadas por quase todos nós, a última das quais a utilização de máscara que se alarga gradualmente por esse mundo fora, inicialmente em espaços fechados, depois em espaços abertos lotados e agora, até em alguns países, em qualquer espaço aberto (é bom ter presente o que se dizia sobre o tema há 2 ou 3 meses …). Tal não tem sido totalmente eficaz, mas tem permitido um controlo “aceitável” da situação pandémica em Portugal como é disso revelador (qual “prova do algodão” …) a confrontação com o período de confinamento “imposto” anteriormente por nós vivenciado.
Tal reflecte-se, de resto, na muito menor pressão sobre as unidades de saúde (mensurada pelo número de internamentos hospitalares, incluindo os cuidados intensivos), com excepção das Unidades de Saúde Pública (USP), reiteradamente esquecidas ou mal compreendidas, e dos seus profissionais de saúde como acontece, no caso dos Médicos de Saúde Pública e, de resto, de outra qualquer especialidade do âmbito do que os anglófonos denominam Medicina Social em que não há “clientes” individuais. Do muito que se lê, para alguns até seriam substituíveis por uma qualquer app, sem contradizer o interesse que tal tipo de instrumento pode ter no âmbito da prevenção.
O que deve ser relevado é que apesar do papel dos Médicos de Saúde Pública ser pouco reconhecido, seis meses de combate à pandemia (que é muito tempo) não aumentou suficientemente o pouco conhecimento das competências e atribuições da Saúde Pública, entendida como uma área científica de abordagem dos problemas de saúde de grupos de pessoas e de forma organizada e designadamente, como se referiu, dos Médicos dessa especialidade.
Mas uma coisa é certa, há mais de seis meses que as USP se encontram permanentemente pressionadas, quase sempre ainda, e como se não fosse suficiente, com recursos (de vária natureza) acanhados e com muitos dos seus profissionais de saúde em disponibilidade permanente e, como se não bastasse, muitos com os seus telefones de serviço disponíveis H 24 para todos os cidadãos (imagine-se o que se poderá passar num Concelho de algumas centenas de milhares de habitantes e uns milhares de forças vivas organizadas ou uma divulgação em espelho de igual iniciativa em relação a um qualquer outro dirigente membro do governo!).
E, apesar disso, nem “palmadas”, nem “palmas” terão tido e, que saiba, o Ministério da Saúde ainda não tem nos seus quadros super-homens nem super-mulheres que possam responder a tal tipo de “intempérie”.
Não aplaudo, porque não dedico magna simpatia a tal tipo de manifestações, mas agradeço, comprometido, o seu grande empenho e dedicação à Res publica e por me manterem mais protegido do que estaria sem os seus conhecimentos e acções e espero que mantenham a sua disponibilidade e empenho em “combater”, tecnicamente (e não só!), a actual situação pandémica.
… e, afinal, é tão fácil dizer obrigado…
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