Cerca 15% da população sente dor persistente na cara, boca ou maxilares, e a evidência revela que as dores são três vezes mais comuns nas mulheres do que nos homens. Além disso, há uma ligação com o aumento do stresse no dia a dia das mulheres.
Per Alstergren, professor e consultor sénior da Faculdade de Odontologia Universidade de Malmö (Suécia) tem vindo a investigar como a dor persistente afeta o cérebro.
“Muitas pessoas com dor crónica sofrem de stresse negativo na vida e isso tem, inevitavelmente, consequências físicas”.
“Quando estamos stressados, apertamos os maxilares. Há uma teoria segundo a qual isso é um velho reflexo do tempo da Idade da Pedra que visa proteger o maxilar inferior, bastante flexível”, explica o docente.
“Infelizmente, o problema começa logo na puberdade, e é mais comum entre as raparigas. Torna-se necessário realizar um trabalho de prevenção para que os problemas sejam descobertos antes de se tornarem constantes e mais difíceis de tratar”, acrescenta.
Quando os jovens vão a um consultório fazer o controlo dentário regular, essa constitui uma boa oportunidade para detetar os problemas. Per Alstergren, que também trabalha em Reabilitação Especializada da Dor num hospital universitário no sul da Suécia, está numa posição ideal para estudar o hiato que existe entre os cuidados dentários e médicos.
“Muitos dos nossos pacientes com problemas de dor crónica entram numa espécie de limbo entre os cuidados dentários e médicos. A dor afeta a sua qualidade de vida e muitos estão de baixa por doença prolongada”.
O docente investiga a artrite em pessoas com perturbações reumáticas, especialmente em pacientes pediátricos. “Investigamos a dor, degradação e problemas de crescimento na articulação da mandíbula. O nosso objetivo é encontrar sinais precoces com a ajuda, por exemplo, de biomarcadores na saliva ou no sangue, ou de imagens de ressonância magnética”.
Outra linha de investigação consiste em mapear as alterações que a dor crónica causa no cérebro, e compreender se tais alterações são reversíveis.
“Há indicações de que a estrutura e função do cérebro muda com a dor crónica, mas não se sabe exatamente o que significam essas mudanças. Todas as impressões sensoriais são controladas por centros dedicados no cérebro, tais como os centros de visão e de audição. Mas na dor, vemos que são ativadas grandes partes do cérebro”.
Primeiro, todos os pacientes do estudo são examinados com uma câmara magnética, para determinar se as estruturas do cérebro foram afetadas pela dor crónica. Seguidamente, metade dos pacientes são submetidos a uma terapia cognitiva comportamental baseada na Internet, denominada “Cognitive Behavioral Therapy”(CBT), enquanto a outra metade recebe uma placa oclusal. Em seguida, são reexaminados para ver se as intervenções com CBT ou com o aparelho oclusal restauraram as estruturas e funções afetadas pela dor.
“O estudo começou em 2016 e estamos agora a analisar o material recolhido. Embora se esperem resultados do tratamento no grupo que recebeu CBT, resta saber se a melhoria também significa que o cérebro sarou. Seria fantástico se fosse esse o caso”, diz Per Alstergren.
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NR/HN/Adelaide Oliveira
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