Abílio Gomes da Silva, de 77 anos, residente no concelho de Espinho, no distrito de Aveiro, foi transportado de ambulância terça-feira à noite para o hospital na sequência de uma queda e ficou internado devido a uma fratura no nariz, sem acompanhamento familiar, já que a sua mulher não foi autorizada a pernoitar na unidade devido às restrições impostas pela Covid-19.
Segundo a filha do doente, Liliana Bastos, o pai recebeu alta médica por volta das 08:00, tendo a sua mulher sido chamada ao hospital, mas já não o encontrou, uma vez que, tendo sido remetido para a sala de espera sem supervisão, o idoso deixou o hospital pelo seu próprio pé, “sem telemóvel nem dinheiro”, embora constasse do seu processo clínico que sofria de Síndrome de Alzheimer – doença neurodegenerativa crónica que constitui a forma mais comum de demência.
Depois de alertarem as autoridades policiais, familiares e amigos encetaram buscas por iniciativa própria e difundiram vários alertas nas redes sociais, sendo que, por volta das 20:30, parentes próximos do desaparecido foram contactados por uma clínica de diálise situada na Rechousa, também no concelho de Gaia, a poucos quilómetros do Hospital Santos Silva.
“O meu pai está bem, mas não vamos conseguir saber ao certo o que aconteceu, porque ele não se vai lembrar”, disse Liliana Bastos à Lusa.
Fonte oficial do Hospital Santos Silva, que faz parte do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, admitira ao fim do dia à Lusa que o septuagenário estava identificado como portador de Alzheimer e foi deixado sozinho na sala de espera da unidade, enquanto o segurança de serviço contactava a respetiva família. “No entanto, o utente ausentou-se neste breve período”, referiu.
Entretanto, a direção do estabelecimento foi informada pela família de Abílio Silva que este já foi encontrado e se encontra bem, pelo que fonte oficial do hospital agradeceu “o envolvimento de todos os que ajudaram nas buscas”.
Liliana Bastos reconheceu que o próprio hospital teve um papel ativo nessas operações, mas afirma que o caso “terá de ter consequências”.
“Com ou sem Covid-19, com ou sem pressas, não é admissível que isto aconteça e vamos refletir sobre a atitude a tomar para com o hospital, não tanto por nós, mas para evitar que isto se repita com outras pessoas”, afirmou.
“A minha família por acaso tem recursos e muitos amigos de várias áreas, que se disponibilizaram logo para ajudar, mas pessoas mais modestas, com menos conhecimentos, podem estar a passar por isto mais vezes, sem terem meios para encontrar os seus idosos”, declarou Liliana Bastos.
Sobre os recursos humanos e técnicos disponíveis para sinalizar devidamente doentes com Alzheimer e assegurar o seu acompanhamento contínuo em meio hospitalar, a filha de Abílio Silva acrescentou: “Penso que já existem pulseiras especiais para isso. Eles, no hospital, é que não as colocaram no meu pai”.
LUSA/HN
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