A seleção do parceiro acaba por acontecer no aparelho reprodutor da mulher

28 de Agosto 2020

O aparelho reprodutor feminino tem a última palavra na escolha do parceiro, de acordo com novas investigações da Universidade da Finlândia Oriental.

Alcançar a gravidez demonstrou ser mais provável entre parceiros com  Antígenos Leucocitários Humanos (HLA) dissimilares. Espera-se, portanto, que os seres humanos escolham parceiros reprodutivos com HLA diferentes.

Estudos anteriores demonstraram que as preferências por parceiros com HLA diferentes fazem-se por intermédio dos odores corporais ou pelas preferências faciais. No entanto, não estava claro se as preferências de acasalamento baseadas no HLA poderiam ocorrer após as relações sexuais no aparelho reprodutor feminino.

Investigadores da Universidade da Finlândia Oriental mostraram agora que o sistema reprodutor feminino é capaz de mediar a seleção sexual pós-copulatória (conhecida como a “enigmática escolha feminina”) em relação ao esperma de homens com diferente HLA. Isto indica que a tendência final para o acasalamento entre parceiros geneticamente compatíveis só ocorre após a cópula, ao nível dos gâmetas.

Os investigadores realizaram duas experiências, onde ativaram esperma de múltiplos homens com fluido folicular ou muco cervical de diferentes mulheres. Seguidamente, examinaram a motilidade e outras alterações fisiológicas funcionalmente importantes do esperma, em todas as combinações macho-fêmea possíveis. Todos os participantes realizaram a genotipagem dos alelos do HLA de classe I e II.

Em ambos os estudos, os resultados mostraram que a capacidade de fertilização e a viabilidade dos espermatozóides dependem fortemente da combinação macho-fêmea. Por outras palavras, as secreções reprodutivas das mulheres tiveram um efeito mais forte no desempenho do esperma de alguns machos do que noutros. Os dois conjuntos de dados também mostraram que o desempenho do esperma foi melhor em combinações machos-fêmeas com HLA dissimilares do que em combinações machos-fêmeas com HLA similares.

Em conjunto, os resultados indicam que a capacidade de fertilização do esperma depende da compatibilidade imunogenética dos parceiros reprodutivos e que a fusão dos gâmetas pode ser um processo altamente seletivo.

“Estas descobertas podem ter implicações importantes para uma compreensão mais profunda da seleção sexual e do processo de fertilização em humanos e outros mamíferos”, referiu Jukka Kekäläinen, professor associado da Universidade da Finlândia Oriental.

“Uma vez que os gâmetas de alguns parceiros podem ser imunologicamente mais compatíveis do que outros, os nossos resultados também podem abrir novas possibilidades para o desenvolvimento de diagnósticos de infertilidade mais precisos”, acrescentou Annalaura Jokiniemi, outra das autoras desta investigação.

Mais informação:

Research articles:
Jokiniemi, A., Magris, M., Ritari, J., Kuusipalo, L., Lundgren, T., Partanen, J., Kekäläinen, J. Post-copulatory genetic matchmaking: HLA-dependent effects of cervical mucus on human sperm function. Proceedings of the Royal Society B (2020).

NR/HN/Adelaide Oliveira

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