Entrevista a Susana Castro Marques, Diretora médica da Pfizer Portugal: 65 anos a pensar o futuro

09/23/2020
Em entrevista ao Healthnews, a Dra. Susana Castro Marques, Diretora Médica da Pfizer Portugal, fala dos objetivos do cargo que desempenha, do impacto da pandemia nas operações da empresa e do espantoso pipeline de investigação, que conta com 90 projetos de investigação em curso, entre os quais 54 novas entidades moleculares, 35 novas indicações e 1 biossimilar

Há 65 anos em Portugal, a Pfizer tem vindo, ao longo das últimas décadas a procurar sempre ir além dos limites da ciência, procurando sempre responder às necessidades médicas não satisfeitas em áreas como a inflamação, os anti-infeciosos, as doenças raras, a oncologia, as vacinas, anti coagulação e a cessação tabágica. Em entrevista ao Healthnews, a Dra. Susana Castro Marques, Diretora Médica da Pfizer Portugal, fala dos objetivos do cargo que desempenha, do impacto da pandemia nas operações da empresa e do espantoso pipeline de investigação, que conta com 90 projetos de investigação em curso, entre os quais 54 novas entidades moleculares, 35 novas indicações e 1 biossimilar

Healthnews (HN) –  Para contexto. Qual é a função desempenhada pela Diretora Médica em Portugal numa empresa da dimensão da Pfizer?
Dra. Susana Castro Marques  (SCM) A Direcção Médica na Pfizer tem como missão principal orientar a Companhia e os seus recursos em torno das necessidades da População, dos Doentes, dos Profissionais de Saúde e da Academia em Portugal, relativamente a 3 aspectos essenciais:

  • no acesso da nossa População e Doentes a vacinas e terapêuticas inovadoras, desde a fase de ensaios clínicos até à correcta selecção e administração dos mesmos – trabalhamos diariamente para que as vacinas e medicamentos que desenvolvemos e produzimos cheguem a quem mais precisa e vai beneficiar deles;
  • na colaboração com os Profissionais de Saúde relativamente à educação e actualização científica, quer das suas próprias equipas, quer da literacia em saúde da população – trabalhamos para que todos tenham mais e melhor conhecimento sobre a saúde, sobre a doença e sobre a correcta utilização das vacinas e medicamentos;
  • em parcerias com Clínicos, Investigadores e com a Academia para analisarmos que tipo de dados e estudos são necessários no nosso País, numa visão estratégica conjunta de curto-médio e longo prazo – trabalhamos para identificar prioridades ao nível da Investigação Nacional e contribuir para a sua implementação e publicação.

Como é que fazemos isto no dia-a-dia? Como Directora Médica sou uma das muitas vozes e ouvidos da área médica da Companhia, e não faço nada isoladamente. Nem fora da Pfizer, nem dentro da Pfizer.

Externamente, como Directora Médica assumo, juntamente com o Director Geral, um papel muito activo na comunicação sobre a Pfizer e sobre a Indústria Farmacêutica, a todos os níveis. Falamos com Autoridades, Sociedades Médicas, Associações Profissionais, Profissionais de Saúde, Associações de Doentes, Estudantes. Falamos com os Media. Queremos abrir cada vez mais a Pfizer a todos – queremos falar mas queremos igualmente ouvir todos.

Todas as equipas médicas da Pfizer estão unidas no mesmo propósito e sentido de missão, e a minha coordenação funcional é muito fácil até – procuro criar fóruns de discussão interna e dar espaço para que todos se exprimam e partilhem experiências e aprendizagens dos sucessos e insucessos. Temos um objectivo comum de expandir o conhecimento interno e externo sobre o papel de pilar estratégico que a área médica ocupa nas nossas equipas multidisciplinares e queremos contribuir activamente para a educação de todos sobre o valor das vacinas e medicamentos e como obter informação credível sobre a sua correcta utilização. Vivemos tempos que demonstram o papel da Indústria Farmacêutica e o seu contributo para a nossa Sociedade.

Tenho igualmente plena noção das minhas responsabilidades enquanto Directora Médica relativamente às preocupações éticas da nossa Companhia, e no garantir de que estas se aplicam sempre de forma correta e rigorosa na estrutura organizacional e no nosso trabalho, algo fundamental para uma maior transparência e credibilidade, não só das relações entre os Profissionais de Saúde e a Indústria Farmacêutica, como também para a transparência e rigor de todas as operações e atividades da Pfizer e deste sector. A Pfizer completou o ano passado 170 anos de história e está em Portugal há 65 anos, por isso sinto que temos o dever inquestionável perante a População, os Doentes, os Profissionais de Saúde, a Academia e a Indústria Farmacêutica de nunca comprometermos a Integridade e a busca pela Excelência no nosso trabalho, tal como nunca o fazemos com o rigor com que avaliamos a Eficácia e a Segurança das nossas vacinas e medicamentos.

HN –  65 anos é muito tempo. Como tem sido feito este percurso?
SCM – Graças aos avanços da medicina, ter 65 anos hoje é ter ainda um longo caminho pela frente! A Pfizer comemora 65 anos em Portugal e durante todos estes anos procurou sempre ir além dos limites da ciência.

Tem sido um percurso cheio e gratificante, feito lado a lado com os avanços do País, as mudanças sociais e económicas, os momentos altos e as fases mais críticas, como a que vivemos actualmente. Mas em todos os momentos, temos procurado dar a nossa contribuição para responder, passo a passo, às necessidades médicas não satisfeitas em diversas áreas como a Imunologia & Inflamação, os Anti-Infeciosos, as Doenças Raras, a Oncologia, as Vacinas e as Doenças Cardiovasculares e Metabólicas, honrando assim o nosso principal propósito – trazer inovação que transforma a vida dos doentes.

Foram décadas que também viram nascer, em 1956, aquele que é hoje o mais antigo e prestigiado Prémio de Investigação Biomédica em Portugal – Os Prémios Pfizer – que resultam de uma parceria entre a Pfizer e a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, com o objetivo de contribuir para a dinamização da investigação em ciências da Saúde em Portugal. Ao longo dos anos, foram financiados mais de 200 projectos, quer de Investigação Básica, quer de Investigação Clínica e distinguidos mais de 700 Investigadores – e não há ninguém que trabalhe na Pfizer que não sinta um orgulho imenso nestes Prémios.

Para a Pfizer este ano, em que assinalamos os 65 anos em Portugal, nas circunstâncias que estamos a viver e com o compromisso que assumimos enquanto Companhia relativamente à pandemia por COVID-19, é um momento de renovação, de olharmos para o futuro com a confiança de que a ciência vai vencer. Este é o nosso compromisso com a investigação e a inovação e, sobretudo, com os Portugueses.

HN –  Como é que a Pfizer tem contribuído para ajudar Portugal, sobretudo durante a pandemia da COVID-19?
SCM – Acredito que a forma mais imediata de contribuir para ajudar o País é garantir que continuamos a fazer o que sabemos fazer melhor: disponibilizar medicamentos e vacinas a quem deles precisa e quando precisam; continuar a apoiar programas de investigação e formação e continuar a desenvolver programas de apoio e informação aos doentes e seus cuidadores.

A Pfizer realiza um importante investimento no desenvolvimento do conhecimento científico nacional, através de parcerias e protocolos com os Institutos de Investigação Biomédica; apoia bolsas de investigação em inúmeras áreas, em parceria com Sociedades Médicas e Institutos de Investigação; apoia a formação médica, de forma a permitir aos Clínicos um melhor conhecimento dos medicamentos e vacinas e, obviamente, apoia a informação aos Doentes e à População, permitindo melhorar o seu grau de conhecimento sobre a sua saúde e doença.

Especificamente relacionado com a pandemia da COVID-19, A Pfizer e a Pfizer Foundation doaram 40 milhões de dólares para apoiar e responder às necessidades das comunidades mais afetadas em tudo o mundo. O donativo foi ao encontro das necessidades urgentes de quem está na linha da frente no combate desta pandemia. Os apoios financeiros foram disponibilizados a Organizações Não Governamentais Internacionais (ONGI) e parceiros que apoiam diretamente os Sistemas de Saúde.

No nosso País, temos trabalhado lado a lado com as instituições nacionais, como por exemplo a Plataforma “Todos Por Quem Cuida” criada pela Ordem dos Médicos, Ordem dos Farmacêuticos e APIFARMA, no sentido de identificar as maiores necessidades dos Profissionais de Saúde, fazendo chegar aos Hospitais e Centros de Saúde os materiais necessários.

HN –  Qual o impacto da Pandemia nas operações da Pfizer?
SCM – A Pfizer, através do seu plano de contingência, tem procurado dar resposta a três preocupações fundamentais: a saúde e segurança dos seus colaboradores, assegurar o fornecimento contínuo dos nossos medicamentos e vacinas, e usar os nossos recursos de Investigação & Desenvolvimento para procurar dar uma resposta a esta pandemia em termos terapêuticos e de prevenção.

Desde o dia 13 de março, ainda antes de ser decretado o estado de emergência, até ao início de julho, todos os mais de 200 colaboradores da Pfizer estiveram em regime de teletrabalho e todas as participações em congressos nacionais e internacionais foram suspensas. Antecipando a exigência desses tempos na gestão do dia-a-dia e, concretamente, na compatibilização da vida pessoal e profissional, reforçámos o apoio para com os nossos colaboradores e incentivámos a adoção de métodos de trabalho que permitiram dedicar tempo à família, não esquecendo a saúde emocional, tão importante para ultrapassar da melhor forma o momento que vivemos.

Adicionalmente, a Pfizer tem monitorizado de forma consistente e rigorosa o fornecimento de todos os medicamentos e vacinas, tendo um dos sistemas de cadeia de abastecimento mais sofisticados da nossa Indústria, com mais de 40 fábricas próprias e 200 fornecedores globalmente. Além disso, ainda:

  • Aumentámos a produção;
  • Ajustámos a procura para os medicamentos mais necessários;
  • Autorizámos horas extraordinárias em muitas fábricas para responder a estas necessidades adicionais;
  • Implementámos uma monitorização da procura e um processo de gestão de encomendas melhorados;
  • Instituímos um programa de controlo de logística melhorado para assegurar que os nossos medicamentos e vacinas são transportados das fábricas para os Países e
  • Fizemos uma avaliação de risco dos nossos principais fornecedores nas regiões afetadas para trabalhar e para acelerar as encomendas conforme necessário.

 HN –  Quais são as mais recentes novidades no portfólio da Pfizer?
SCM – A Pfizer tem hoje um dos mais fortes e promissores pipelines da nossa história, que perspetivamos poder vir a disponibilizar à nossa População no decorrer dos próximos anos. Trata-se de um conjunto de 90 projetos de investigação em curso, entre os quais 54 novas entidades moleculares, 35 novas indicações e 1 biossimilar.

Como plataforma chave de Investigação & Desenvolvimento, a Pfizer está também a investir na medicina de precisão, partindo da nossa experiência na área da Oncologia para alargar os benefícios da medicina de precisão a outras áreas, como Doenças Raras e Imunologia. Estamos a explorar biomarcadores genéticos, fenotípicos e funcionais para identificar populações alvo que irão guiar as estratégias clínicas. Estamos a trabalhar no sentido de tornar real a promessa da terapia génica, sobretudo para os doentes que vivem com doenças genéticas raras e que não encontram resposta nas terapêuticas atuais. A terapia génica é a próxima geração de medicamentos direcionados para a causa subjacente de uma doença genética. Tem o potencial de oferecer aos doentes um benefício clínico transformacional e melhorar drasticamente a qualidade de vida. Essas terapêuticas inovadoras e únicas irão transformar o paradigma de tratamento em todo o mundo nos próximos anos. Inspirados pelos doentes e pelas suas necessidades de saúde, estamos empenhados em criar um impacto genuíno e positivo na Saúde Pública e assegurar que as pessoas têm a oportunidade de usufruir de uma vida saudável. Começando com a investigação e desenvolvimento de novas terapêuticas e englobando uma visão de qualidade em cuidados de saúde, trabalhamos em conjunto para que as pessoas e os doentes, em todo o mundo, tenham acesso aos cuidados de saúde de que necessitam.

Em termos de lançamentos e no caso concreto de Portugal, nos últimos 2 anos foram disponibilizados 10 novos medicamentos em áreas tão diversas como a Oncologia, Imunologia & Inflamação e Anti-Infeciosos. O desafio que vivemos é garantir que todos os doentes em Portugal têm acesso ao tratamento que necessitam, quando necessitam, independentemente do local onde são tratados.

HN –  Relativamente à vacina que estão a desenvolver com a BioNTech, quais são as V/ expetativas?
SCM – Na abordagem a esta pandemia, entende-se que a vacinação poderá desempenhar um papel crítico na diminuição das taxas de infecção, gravidade da doença e mortalidade em todo o mundo. A Pfizer e a BioNTech estão a trabalhar em conjunto para desenvolver, testar e produzir uma vacina de RNA mensageiro (mRNA).

Após análise extensa dos dados pré-clínicos e dos ensaios clínicos de Fase 1/2, que avaliaram a segurança, tolerabilidade e potencial eficácia de 4 vacinas-candidatas mRNA, e em coordenação com a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos da América (EUA) e com outras Autoridades Regulamentares, a Pfizer e a BioNTech decidiram avançar com a vacina-candidata BNT162b2 para a Fase 2/3 de desenvolvimento clínico, numa dose de 30 µg num regime de 2 doses. Esta vacina-candidata BNT162b2, que recentemente recebeu a designação de Fast Track pela FDA dos EUA, codifica a sequência genética para a produção completa de uma glicoproteína “espícula” (S) optimizada do SARS-CoV2, que é o alvo dos anticorpos neutralizantes contra o vírus. Esta vacina não contém nenhum vírus vivo nem partes do vírus que possam provocar doença por COVID-19 a quem for administrada. O ensaio clínico de Fase 2/3, que irá avaliar se a vacina-candidata BNT162b2 é segura e eficaz na prevenção da COVID-19 está a decorrer em mais de 120 centros e irá envolver 44.000 participantes.

Caso se obtenham resultados de eficácia e segurança robustos, a Pfizer e a BioNTech irão submeter o pedido de avaliação às Autoridades Regulamentares em outubro de 2020 e, caso seja obtida autorização, têm previsto fornecer até 100 milhões de doses da vacina até ao final de 2020 e cerca de 1,3 mil milhões de doses até ao final de 2021.

Apesar deste trabalho de desenvolvimento de uma potencial vacina para a COVID-19 estar a decorrer a uma velocidade sem precedentes, a Pfizer e a BioNTech não estão a comprometer de forma alguma os parâmetros de qualidade e a monitorização rigorosa da segurança dos participantes nos ensaios clínicos. Estamos a seguir todos os passos regulamentares e operacionais que aconteceriam em qualquer outro ensaio clínico. Este processo de desenvolvimento tem requerido de ambas as Companhias um esforço de mobilização de recursos a uma escala nunca vista, justificada pela crise global que vivemos. Temos trabalhado igualmente com as Agências Regulamentares continuamente, fornecendo dados em tempo real e recebendo a revisão e orientação técnica a uma velocidade superior ao habitual, de forma a que uma potencial vacina, segura e eficaz, possa ser disponibilizada o mais rapidamente possível.

Este extenso trabalho só é possível graças à dedicação e ao trabalho de milhares de pessoas, na Pfizer e na BioNTech, nas Agências Regulamentares, nos Centros de Estudo e finalmente, e fundamentalmente, de todos os voluntários que, ao participarem nestes ensaios clínicos, estão a contribuir para o avançar da ciência, e se tudo correr de forma positiva, para uma vida melhor para todos nós.

 

HN/João Marques

 

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