Seis em cada dez suecos (62%) confiam nos cientistas para lidar com a pandemia provocada pelo SARS-CoV-2. Este dado representa um aumento de oito pontos percentuais em comparação com outra sondagem realizada em agosto.
A confiança nos investigadores que comentam a pandemia nos meios de comunicação aumentou durante o mês passado. No último inquérito, 85% afirmam que têm uma confiança elevada ou muito elevada nos investigadores, em comparação com 80% em agosto.
Contudo, a confiança nos políticos caiu para o seu nível mais baixo (21%) desde o início da sondagem, em março. Para outros grupos profissionais, a confiança permanece ao mesmo nível de agosto.
Entretanto, no Reino Unido, os dados das sondagens da “Health Foundation”, citados pela “Sky News”, com base num inquérito a 2.246 pessoas em julho, sugerem que 56% pensam que o governo não lidou bem com a pandemia, em comparação com 39% no mês de maio.
Quando questionadas sobre as suas opiniões acerca das diferentes medidas que o governo tomou para enfrentar a pandemia, um número significativamente menor de pessoas inquiridas sente que a resposta do governo é adequada (40%), em comparação com o mês de maio (58%).
A Dra. Jennifer Dixon, diretora executiva da “Health Foundation”, afirmou: “gerir a pandemia é uma tarefa complexa mas este inquérito mostra uma diminuição da confiança do público na forma como o governo está a lidar com a situação”.
A confiança do público na capacidade do governo para lidar com a pandemia foi gravemente afetada pela notícia de que o conselheiro do Primeiro-Ministro, Dominic Cummings, tinha aparentemente quebrado as regras de confinamento, revela um estudo da “University College London” (UCL).
Boris Johnson tinha dito anteriormente que não pensava “que alguém no Número 10 tenha feito alguma coisa para minar as nossas mensagens”. Mas a pesquisa, publicada na revista médica “The Lancet”, mostra uma clara diminuição da confiança a partir do dia 22 de maio – quando rebentou a notícia – e continuou a cair rapidamente nos dias que se seguiram.
A pesquisa mostra que o nível de confiança não recuperou nas semanas seguintes e que esta questão também teve impacto na vontade das pessoas para seguir as regras e as diretrizes do governo.
Mas a quebra de confiança no governo britânico não parece ter-se refletido na atitude do público em relação às administrações escocesa e galesa.
Em ambas as nações, a confiança aumentou. Aqueles que dizem não ter confiança na resposta escocesa caiu de 33% em março para 27% em setembro. Os valores, no País de Gales, também passaram de 26% para 25%, de acordo com uma pesquisa efetuada em outubro pela UCL e citada pelo “The Independent”.
Nos Estados Unidos, a confiança foi prejudicada pelas interferências da Casa Branca e pelos próprios erros da “Federal Drug Agency” (FDA). No início deste ano, a agência concedeu autorização de emergência à hidroxicloroquina, o medicamento para a malária erroneamente referido por Trump como tratamento para a Covid-19, e depois mudou de rumo quando se tornou claro que o medicamento poderia provocar complicações graves. Em agosto, o Comissário da FDA, Stephen Hahn, foi duramente criticado por descrever incorretamente os benefícios do plasma de doentes que tinham recuperado da Covid-19, declarações pelas quais pediu desculpa mais tarde.
A Casa Branca tem interferido repetidamente nas decisões dos profissionais da FDA, dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) e outras agências de base científica. Muitos dos principais cientistas americanos, incluindo alguns dos médicos mais ilustres da administração norte-americana, citados pelo “The Washington Post”, estão profundamente perturbados com a colisão entre a política e a ciência e lamentam os seus efeitos na saúde pública.
Os americanos há muito que confiam num exército invisível de profissionais do governo – cientistas, médicos, engenheiros, técnicos, estatísticos – para salvaguardar a segurança pública no contexto de uma economia de mercado livre. Mas a confiança na perícia governamental tem-se revelado frágil.
Uma sondagem Axios-Ipsos de meados de setembro revelou que mais de 40% dos americanos ou não confiam muito que a FDA olhe pelos seus interesses, ou não confiam mesmo nada.
Em contrapartida, a confiança política aumentou significativamente na Austrália em tempos de pandemia e contrasta fortemente com a Itália, o Reino Unido e os Estados Unidos. Pela primeira vez em mais de uma década, os australianos exibem níveis relativamente elevados de confiança política no governo federal (de 29 para 54%), e no Serviço Público Australiano (de 38 para 54%), revelam as últimas sondagens realizadas na Austrália.
Embora uma maioria significativa dos australianos (60%) pense que a Covid-19 representa um nível “elevado” ou “muito elevado” de ameaça financeira para si próprios e para as famílias, estão muito menos preocupados do que os seus homólogos em Itália, Reino Unido e Estados Unidos relativamente à ameaça que representa para o país (33%), para si próprios (19%), ou para o seu emprego ou negócio (29%).
A investigação efetuada em setembro pela Eurofund – Agência Europeia para as Políticas Sociais – mostra que a confiança na União Europeia (UE) aumentou durante a pandemia, mas o mesmo não se pode dizer dos governos nacionais.
Na Bulgária, a confiança na UE aumentou entre abril e julho, passando de 4 para 4,5 numa escala de dez pontos. Contudo, os búlgaros estão a dar uma pontuação muito baixa ao governo em termos do seu apoio durante a crise: 3,3 em abril e 2,9 em julho. Apenas na Polónia a confiança no governo é inferior à da Bulgária (2,6 e 2,4) mas, por outro lado, a sua confiança na UE é significativamente mais elevada (5,1 e 6,2).
O inquérito concluiu que a confiança na União Europeia aumentou significativamente desde abril e é agora mais elevada do que a confiança nos governos nacionais. O estudo sugere que existe uma forte ligação à assistência financeira e refere que a confiança “é significativamente mais elevada entre os inquiridos que receberam apoio financeiro durante a pandemia do que entre os inquiridos cujo pedido de apoio foi rejeitado”.
O maior aumento da confiança na UE foi registado em dois dos países mais afetados pela pandemia: Itália, onde passou de 4,1 para 5,2 e em Espanha, onde aumentou de 4 para 5,1. Os autores do estudo atribuem estes valores à ajuda na recuperação da economia acordada pelos líderes da UE.
Contudo, há um declínio significativo da confiança na UE na Dinamarca, Países Baixos e Suécia, três dos países que defendem uma resposta europeia à pandemia mais conservadora.
O inquérito também mostra que embora os jovens estejam menos preocupados com a sua situação financeira, são os mais afetados pelas restrições. “Sentem-se mais excluídos da sociedade” e “ainda não se recuperaram dos danos mentais causados pela pandemia”, refere o estudo.
Apenas três países viram aumentar a confiança tanto no governo nacional como na UE: Espanha, França e Luxemburgo.
Na Rússia, cerca de 62% da população aprova as medidas tomadas pelas autoridades regionais para combater a pandemia e resolver os problemas relacionados com a Covid-19. Ao mesmo tempo, 66% da população pensa que o número de casos foi manipulado pelo governo.
Não existe informação fiável sobre o que os russos pensam da estratégia do Kremlin relativamente à pandemia. Em geral, a confiança no Presidente Putin caiu em outubro para o seu nível mais baixo dos últimos anos – apenas 30%. (Pesquisa da empresa privada russa de sondagens “Levada Centre”: https://www.levada.ru/2020/11/02/koronavirus-strahi-i-mery/).
Na China, globalmente as sondagens mostram confiança nas ações governamentais para travar a Covid-19. As percentagens variam entre 75 e 80%, dependendo das perguntas formuladas. Ao mesmo tempo, muitos observadores advertem que nem todas as sondagens na China são fiáveis devido a compreensíveis problemas políticos.
Por exemplo, “The Diplomat” (https://thediplomat.com/2020/05/covid-19-and-trust-in-the-chinese-government-what-do-we-actually-know) escreve: “É tentador considerar uma ligação causal entre a confiança no governo chinês e o aumento do desempenho na contenção do vírus. Tal afirmação, contudo, é demasiado geral e pode não ser inteiramente digna de confiança no contexto chinês. É importante distinguir entre níveis de governo, considerar os desafios da realização de pesquisas na China, e refletir sobre como, e se, sabemos a diferença entre o cumprimento voluntário e forçado”.
…E nem sequer estamos a discutir a Coreia do Norte, onde as autoridades tomaram medidas extremas para combater o coronavírus, incluindo a colocação de minas terrestres em áreas fronteiriças com a China, de acordo com o “National Intelligence Service” de Seul.
AG/HN/Adelaide Oliveira
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