Delírio pode ser um sintoma precoce da Covid-19

17 de Novembro 2020

Especialmente nas pessoas mais velhas, a presença deste estado de confusão, quando acompanhado de febre alta, deve ser considerado um sintoma precoce da doença.

Delírio acompanhado de febre pode ser um sintoma precoce da Covid-19.

Esta é a principal conclusão de uma revisão dos estudos científicos realizados por investigadores da Universitat Oberta de Catalunya (UOC) e publicados no Journal of Clinical Immunology and Immunotherapy.

Os investigadores advertem que, juntamente com a perda do olfato, do paladar, e as dores de cabeça que aparecem dias antes do início da tosse e das dificuldades respiratórias, alguns pacientes também apresentam delírio. Por essa razão, especialmente nas pessoas mais velhas, a presença deste estado de confusão, quando acompanhada de febre alta, deve ser considerada um sintoma precoce da doença.

“O delírio é um estado de confusão em que a pessoa se sente fora da realidade, como se estivesse a sonhar”, explica Javier Correa, atualmente investigador da UOC. “Devemos estar vigilantes, e mais ainda numa situação epidemiológica como a atual, porque um certo estado de confusão numa pessoa pode indicar que está infetada”.

Javier Correa, em conjunto com o investigador do grupo Cognitive Neuro Lab da UOC, Diego Redolar Ripoll, analisou os estudos científicos publicados sobre os efeitos da Covid-19 no sistema nervoso central, ou seja, no cérebro. A revisão constatou que, embora desde o momento em que os primeiros casos de pneumonia foram tornados públicos na China (31 de dezembro de 2019) até hoje, grande parte da investigação tem-se centrado nos danos que a Covid-19 causa nos pulmões e noutros órgãos, como os rins e o coração, mas há cada vez mais indícios de que o coronavírus também afeta o sistema nervoso central e causa perturbações neurocognitivas, como dores de cabeça, delírio e episódios psicóticos.

“As principais hipóteses para explicar como o SARS-CoV-2 afeta o cérebro apontam para três causas possíveis: hipoxia ou falta de oxigénio nos neurónios, inflamação do tecido cerebral devido à tempestade de citocinas, e o facto de o vírus ter a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica e invadir diretamente o cérebro”, explicou Javier Correa, acrescentando que estes três fatores, só por si, poderiam explicar o delírio. A este respeito, recorda que em amostras do cérebro de pessoas que morreram devido à infeção, foram detetados danos por hipoxia e que o vírus também foi isolado nesses tecidos.

Segundo os investigadores, é muito provável que o delírio, os défices cognitivos e as anomalias comportamentais sejam causados pela inflamação sistémica do organismo e pelas condições de hipoxia, que também provocam a inflamação do tecido neuronal e danificam áreas como o hipocampo, que estão associados a problemas cognitivos e perturbações comportamentais com aqueles que apresentam os doentes com delírio.

NR/HN/Adelaide Oliveira

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