Como calcular um distanciamento social mais seguro

24 de Novembro 2020

Um novo modelo matemático fornece informações mais precisas sobre o distanciamento social. A investigação é publicada no Elsevier's International Journal of Multiphase Flow.

A regra dos dois metros nem sempre se aplica e deve ser tratada com cautela.

Um novo modelo matemático fornece informações mais precisas sobre o distanciamento social. A investigação é publicada no Elsevier’s International Journal of Multiphase Flow.

A atualização da investigação realizada durante décadas revela que a tosse e espirros de uma pessoa com Covid-19 evaporam quase instantaneamente, transformando-se em gotículas minúsculas, transportadas pelo ar. Dependendo do ambiente, estes “núcleos de gotículas” podem percorrer longas distâncias – até vários metros.

“Em espaços fechados e mal ventilados, o vírus pode espalhar-se a distâncias muito maiores”, diz um dos investigadores do estudo, Sivaramakrishnan Balachandar, professor de Engenharia Mecânica e Aeroespacial na Universidade da Florida (Estados Unidos). “Portanto, é necessário que as diretrizes incorporem algumas nuances, dependendo da situação”.

Balachandar e colegas desenvolveram um modelo matemático para o estudo da propagação aérea do vírus que pode indicar distâncias sociais seguras em situações específicas: uma cabine de avião, uma sala climatizada, ou ao ar livre no tempo húmido do Inverno.

“Usando a nossa teoria, é possível prever a probabilidade de alguém inalar um aerossol carregado de vírus”, explica o coautor do estudo Alfredo Soldati, professor de Fluidos Mecânicos na TU Wien, na Áustria.

O SARS-CoV-2 vive no muco e saliva que reveste os nossos pulmões e vias respiratórias. Os cientistas sabem que quando falamos, espirramos, tossimos e cantamos, emitimos gotículas de vários tamanhos carregadas de vírus.

As atuais diretrizes de distanciamento social da pandemia baseiam-se na investigação realizada na década de 1930. As suposições sobre a distância percorrida pelas gotículas emitidas pelo nariz e pela boca, baseiam-se em dados e modelos ainda mais antigos, datados de cerca de 1910. Estes modelos assumem que gotas mais pequenas evaporam-se no ar, tornando-se inofensivas, e que a gravidade rapidamente força as gotas maiores a caírem no chão, a cerca de um metro ou mais da pessoa que as emite.

Estes pressupostos simplistas formam a base das medidas de segurança atuais e não têm em conta a utilização das máscaras, que alteram o padrão das gotas e reduzem o seu tamanho.

“Alguns promoveram a ideia de que quando as gotículas evaporarem não restará nada para se espalhar”, diz Balachandar. “Isto é claramente incorreto, pois sabemos que quando a água de uma gota se evapora, o vírus permanece ativo como um núcleo de gotículas, também conhecido como uma partícula de aerossol”.

Os médicos contactaram os autores do estudo nas fases iniciais da pandemia. Queriam saber como ventilar as enfermarias de doentes com Covid-19. Para encontrar a resposta, a equipa de investigadores procedeu à revisão de centenas de artigos sobre a distribuição e evaporação de gotículas, e utilizou a informação para chegar a uma teoria abrangente.

Os investigadores pretendem desenvolver uma ferramenta online simples para determinar a distância social segura para evitar a transmissão em qualquer situação específica. Entretanto, lembram que o coronavírus é transportado por pequenas gotículas que permanecem no ar durante horas, aderindo à pele e a tudo o que tocam.

“Use o distanciamento social de dois metros como orientação, mas seja cauteloso”, diz Balachandar. “Num elevador mal ventilado ou numa sala fechada, por exemplo, as projeções de gotículas de um indivíduo infetado podem durar muito tempo e viajar distâncias mais longas. Portanto, seja inteligente”.

Informação bibliográfica completa:
Balachandar, S. et al: “Host-to-Host Airborne Transmission as a Multiphase Flow Problem for Science-Based Social Distance Guidelines,” International Journal of Multiphase Flow (2020), DOI: https://doi.org/10.1016/j.ijmultiphaseflow.2020.103439

NR/HN/Adelaide Oliveira

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