Os vizinhos e outros voluntários, tentam prestar-lhes atenção, mas muitos deles estão deprimidos, não têm poupanças insuficientes para manter uma alimentação equilibrada, precisam de medicamentos e de atenção médica.
“Tem havido uma emigração muito grande da segunda e terceiras gerações e aqueles que continuam a resistir são os que têm mais anos na Venezuela. A nossa comunidade está a envelhecer muito rapidamente”, diz à Lusa Fernando Campos, conselheiro das comunidades portuguesas.
Segundo o dirigente comunitário português, “há uma preocupação muito grande do nosso consulado-geral de Caracas”, mas em tempo de pandemia da covid-19, “é preciso fazer outas atividades, aproximar-se das pessoas, mesmo com as dificuldades que há”.
“Agora (em pandemia) as instituições e os clubes não estão a fazer praticamente nada, mas é preciso resgatar as atividades, talvez até no Santuário da Virgem de Fátima, não só para angariar dinheiro para a nossa comunidade, para dar a atenção e ouvir essas pessoas já de muita idade que estão aí”, disse à Agência Lusa.
Trinidad Cabezas, uma enfermeira que há 40 anos que dirige a Casa Lar La Trinidad, que acolhe idosos “portugueses, espanhóis, italianos, e muitíssimos venezuelanos”, insiste que as pessoas “deveriam saber muito sobre os idosos e o principalmente sobre o que eles precisam”.
“Desde um sorriso, pão, roupa, creme de dentes, e principalmente o carinho de que tanto precisam e que às vezes lhes é negado por serem idosos, ou porque a ocupação que temos é muito agitada e pensamos muito pouco sobre eles”, exemplificou.
A comunidade vive um contexto de pandemia, “mas é também verdade que a distância mata os idosos. Não se deve deixar de os visitar, com controle e cuidados, em pequenos grupos como recomenda o Governo. Mas, não devemos deixá-los de lado, porque a tristeza e a depressão também levam à morte”, disse à Agência Lusa.
Rosa Mida Vidal é uma das voluntárias que atende um português idoso que chegou à Venezuela há em 1954 e que dois anos depois começou a trabalhar nos terrenos de um conjunto residencial onde agora vive na solidão.
“É uma pessoa que chegou do estrangeiro e veio para trabalhar, que toda a sua vida se dedicou a trabalhar. Hoje, lamentavelmente conta apenas com ele mesmo e o apoio dos vizinhos que o ajudam”, explicou.
“Entre os vizinhos o alimentávamos e depois decidi buscar ajuda na Embaixada de Portugal, de onde é natural, para que lhe dessem uma mão, porque ele não quer ir embora do país e os familiares tampouco o atendem”, explicou.
“Gostava que vivesse de maneira digna e com carinho, porque às vezes a saúde também depende do carinho que damos às pessoas. Que alguém o ajude”, disse, salientando que existem casos de portugueses esquecidos pela família, que vivem com necessidades e que “o que trabalharam e as poupanças que possuem não chega para alimentarem-se e cuidar da saúde”.
O idoso, José Pereira, que é atendido por esta voluntária, tem outra preocupação: “ficar bem” de saúde.
“Já não posso estar aqui. Estou habituado a trabalhar muito e tenho mais de um ano sem fazer nada. Sempre trabalhei e agora estou parado, aborrecido. As coisas estão difíceis”, disse.
A comunidade portuguesa de lusodescendente na Venezuela já chegou a ser de meio milhão de pessoas, um número que tem diminuído devido à crise económica e ao bloqueio social. Só os mais idosos ou os alinhados com o regime permanecem no país.
NR/HN/LUSA
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