Uma análise de cinco hospitais, em Londres e Brighton, revelou que foram diagnosticados 378 casos de hepatite C entre julho de 2013 e junho de 2018. As novas infeções atingiram um pico de 14 por 1000 pessoas estudadas em 2015, diminuindo para 4 por 1000 até 2018. O estudo foi publicado na revista “Clinical Infectious Diseases”
Os investigadores que lideraram o estudo do “Imperial College London” e do “Imperial College Healthcare NHS Trust” acreditam que o rastreio regular da hepatite C e a melhoria do acesso a novos tratamentos tem contribuído para reduzir significativamente a transmissão da infeção. Acreditam também que se este progresso se mantiver, Londres estará no bom caminho para atingir as metas estabelecidas pela “British HIV Association” de eliminar completamente a Hepatite C em pessoas com VIH em 2021
Os investigadores analisaram os dados de mais de 9.000 homens em risco de contraírem hepatite C de quatro centros hospitalares de Londres e um de Brighton – “St Mary’s Hospital” (parte integrante do “Imperial College Healthcare NHS Trust); “Royal Free NHS Trust”; “Mortimer Market Centre”; “Barts Health NHS Trust” e “Brighton & Sussex University Hospitals NHS Trust”.
Como cidades de vanguarda do “Global Fast-Track Cities for HIV”, Londres e Brighton têm demonstrado altas taxas de cobertura e sucesso no tratamento do VIH.
A Dra. Lucy Garvey, consultora em Medicina do “Imperial College Healthcare NHS Trust” e autora principal do estudo, afirmou que “a hepatite C pode, por vezes, causar doenças hepáticas graves e constitui uma das principais causas de mortalidade global. Cerca de 2,3 milhões de indivíduos em todo o mundo estão co-infectados com VIH e hepatite C e correm maior risco de a sua doença progredir em comparação com os que não estão infetados pelo VIH. No entanto, com os novos tratamentos contra a hepatite C, é possível curar completamente a doença. O nosso estudo demonstrou como, em Londres e Brighton, o rastreio regular e um maior acesso a estes novos tratamentos resultaram numa diminuição significativa de novos casos de hepatite C e de transmissão da infeção”.
O estudo atual baseia-se num trabalho anterior sobre infeção de hepatite C em 6.000 homens da cidade de Londres. Essa investigação revelava que os novos casos de hepatite C entre homens seropositivos de Londres diminuíram quase 70 por cento entre 2013 e 2018. A análise de três hospitais de Londres revelou que 256 homens foram diagnosticados entre 2013 e 2018. As novas infeções atingiram um pico de 17 para cada 1000 pessoas estudadas em 2015 e diminuíram para quatro até 2018.
Esta nova investigação, que analisa um maior número de pacientes, torna ainda mais evidente como o aumento do rastreio e a melhoria do acesso às novas terapêuticas podem reduzir o número de novas infeções por hepatite C.
Graham Cooke, professor de Doenças Infecciosas do “Imperial College London” e coautor do artigo, acrescentou: “este estudo baseia-se no nosso trabalho anterior e é encorajador ver que os nossos resultados foram repetidos numa coorte maior de pacientes e em mais áreas do Reino Unido. É uma ótima notícia que, na sequência do nosso estudo, o “National Health Service” (NHS) tenha alterado as suas orientações. Os pacientes terão maior acesso aos antivirais de ação direta (DAA) através dos serviços do NHS”.
As pessoas com VIH que contraem hepatite C correm um risco maior de progressão da doença e têm um risco mais elevado de cirrose e de cancro do fígado. A hepatite C é a principal causa de doença grave e de morte em pessoas co-infectadas com VIH/hepatite C.
Desde 2016, têm sido utilizados novos tratamentos, como os antivirais de ação direta (DAA). São tomados durante 8-12 semanas e altamente eficazes na cura da infeção em mais de 90 por cento dos doentes. Ao abrigo de diretrizes anteriores do NHS, as pessoas infetadas recentemente com hepatite C tinham de esperar seis meses antes de poderem ter acesso ao tratamento com DAA. Além disso, se um paciente adquirisse hepatite C pela segunda vez, não era elegível para um segundo tratamento com DAA, deixando-o potencialmente sem tratamento e aumentando o risco de transmissão.
Os pacientes foram monitorizados e analisados de seis em seis meses ao longo do estudo. A equipa constatou que, após o rastreio e tratamento regulares, os casos de hepatite C aguda recentemente adquirida caíram acentuadamente. Em 2018 foram os mais baixos registados em Londres, desde o ano de 2008, nos homens seropositivos.
Os investigadores sugerem que mais rastreio, prescrição mais ampla de terapias para a hepatite C, tais como os DAA, e tratamento mais precoce dos casos agudos, levaram a um declínio dos casos de hepatite C aguda. Contudo, a redução de casos ainda fica aquém do objetivo da Organização Mundial de Saúde de 90%, e as reinfeções permanecem elevadas. A equipa acredita que existe uma necessidade permanente de promover a redução do risco e conceber políticas de rastreio adequadas.
Na sequência das conclusões deste estudo, o NHS alterou as suas diretrizes sobre o acesso aos DAA. As pessoas recentemente infetadas com hepatite C já não têm que esperar seis meses antes de poderem aceder ao tratamento com DAA. Além disso, se um paciente for reinfetado com hepatite C, é agora elegível para um segundo tratamento de DAA.
Esta investigação é um exemplo do trabalho realizado pelo “Imperial College Academic Health Science Centre”, uma iniciativa que reúne o “Imperial College London”, o “Institute of Cancer Research” (ICR) e três trusts hospitalares do NHS. O seu objetivo é transformar os cuidados de saúde e as descobertas científicas em avanços médicos que beneficiem as populações locais, nacionais e globais, no menor espaço de tempo possível.
NR/AG/Adelaide Oliveira
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