Professora Doutora Sofia Melo Refoios Psicóloga Clinica e Sexóloga

VIH e Saúde Sexual

12/22/2020

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VIH e Saúde Sexual

22/12/2020 | Opinião, SIDA

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) destrói ou pode prejudicar as funções do sistema imunitário, conduzindo ao estado mais avançado da infecção por VIH – a Síndrome de Imunodeficiência Humana Adquirida (SIDA) que foi observada clinicamente pela primeira vez em 1981. Esta infecção tornou-se pandémica e propagou-se rapidamente por todo o mundo, tendo sido responsável pela morte de milhões de pessoas, levando à criação de programas e de estratégias inovadoras e de continuidade que integram a natureza biopsicossocial da doença, de forma a que o melhor conhecimento sobre a mesma permita caminhar-se para a sua erradicação.

Se inicialmente a visão que existia sobre a infecção pelo VIH era fatalista, uma sentença de morte, estigmatizando e discriminando a Pessoa que vive com o VIH e SIDA (PVVIH), hoje em dia testemunhamos ao surgimento de progressos ao nível do diagnóstico e do tratamento desta infecção e de uma abordagem de saúde pública, onde o acesso ao Tratamento Antirretroviral (TARV) eficaz colocou o VIH comparado a outras doenças crónicas e controláveis, aumentando significativamente a esperança de vida das PVVIH e potenciando a promoção da sua qualidade de vida. O objectivo do tratamento é que a PVVIH apresente carga viral suprimida, sendo que a OMS, com o intuito de eliminar esta epidemia e o estigma associado, defende que o TARV pode, também, ser prevenção na medida em que indetectável = intransmissível. Quer isto dizer, que quando a PVVIH apresenta carga viral indetectável, por pelo menos seis meses, poderá não transmitir o vírus a uma pessoa seronegativa, através de relações sexuais. Este grande avanço no tratamento do VIH fomentou o aparecimento de repercussões científicas, sociais, políticas e de saúde pública, mas sobretudo ao nível da vivência da sexualidade das PVVIH e dos casais serodiscordantes, aumentando o auto-conceito destas e tornando-as agentes activos de prevenção.

Em termos preventivos o que os estudos nos indicam, e o que transmutou a interpretação do que significa viver actualmente com o VIH, foca-se no acesso ao TARV, na adesão ao mesmo por todas as PVVIH, na carga viral indetectável (I=I), nas novas formas de prevenção do VIH: a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição (PPE) e no uso do preservativo associado a comportamentos de risco, nomeadamente a uma pessoa seropositiva para o VIH ou para outra Infecção Sexualmente Transmissível (IST), reduzindo e quebrando a cadeia de transmissão destas IST, levando ao que hoje se designa por “sexo mais seguro” e à vivência de uma sexualidade sem medos e ansiedades. Não podemos desvalorizar a possibilidade de contrair re-infecções e/ou coinfecções, continuando a LPCS a defender o uso consistente do preservativo, independentemente do seu estatuto serológico.

Paralelamente a todas as consequências clínicas, o estigma, preconceito e discriminação poderão impulsionar a manifestação de um conjunto de repercussões sociais e psicoemocionais responsáveis pelo isolamento social e sexual das PVVIH e pelo aparecimento de comorbilidades a nível da saúde mental, sendo que a LPCS disponibiliza apoio psicológico, que visa desenvolver abordagens de cuidado e prevenção, assim como promover o bem-estar mental, psicológico, emocional e sexual, não negligenciando a adesão à terapêutica, e o combate ao estigma e à discriminação sentidas, vividas e percepcionadas.

Sendo a sexualidade e a actividade sexual partes integrantes do ser humano, assumindo um papel preponderante para o bem-estar sexual e saúde em geral, a LPCS disponibiliza também consultas de sexologia individuais, assim como, terapia de casal, com enfoque nos casais serodiscordantes, porque independentemente dos medos, receios, obstáculos e barreiras, as PVVIH têm direitos sexuais e, consequentemente, direito à sua saúde sexual, mesmo que esta seja desafiada por aspectos socioeconómicos e culturais, onde se aborda a importância da PVVIH ter direito e acesso a uma vida sexual salutar, como prevenir e tratar as IST, como proteger a sua saúde sexual, e as consequências positivas da adesão à TARV, procurando torná-la num agente activo de prevenção e no combate ao estigma e discriminação, no sentido de terem a consciência do papel fulcral que desempenharão no controlo da epidemia do VIH, evitando a transmissão do vírus.

A percepção da sexualidade alterou-se com a epidemia do VIH, descentralizando o objecto de estudo da resposta sexual humana para a análise do comportamento sexual, principalmente associado ao risco, emergindo o desenvolvimento de políticas e programas de prevenção, de intervenção e de acção que permitiram a recolha de informação. Estes, procuravam entender epidemiologicamente o VIH, associados aos comportamentos sexuais, em diversos grupos populacionais, na medida em que a forma de transmissão mais comum desta infecção é através do contacto sexual (relações sexuais anais, vaginais e/ou orais desprotegidas), e destinavam-se a trabalhar a literacia em saúde, a promover a saúde e a prevenção da infecção/doença, e a minimizar significativamente os comportamentos de risco associados à transmissão do VIH, visando a mudança dos mesmos.

Com o intuito de contribuir para o erradicar do VIH e para se alcançar zero estigma e discriminação, as consultas de sexologia da LPCS dão ênfase à abordagem da Saúde Sexual e Direitos Sexuais da PVVIH e avalia-se os comportamentos sexuais não os dissociando ao contexto cultural da pessoa, e aos factores que poderão ser predisponentes e precipitantes da existência de comportamentos menos seguros e/ou que poderão agir como barreiras à sua mudança. Em consulta, procuramos perceber e considerar as necessidades e os direitos de saúde sexual das PVVIH, e porque temos consciência de que muitas relações sexuais existem sem o uso de protecção/prevenção, da importância do uso consistente do preservativo, no sentido de a pessoa proteger-se a Si e a terceiros, de adquirir informações e ferramentas que permitam cuidar da sua própria saúde, e, concomitantemente, da saúde dos mais próximos, porque NA SIDA EXISTE VIDA!

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