Investigadores estão a desenvolver um novo sistema de refrigeração que permite a conservação e transporte de vacinas a temperaturas até -200ºC

28 de Dezembro 2020

Investigadores da Universidade Politécnica de Valência (UPV) estão a desenvolver um novo sistema de refrigeração, alimentado por energia elétrica, que permite a conservação e transporte de vacinas ou outro material médico a temperaturas até -200ºC

Os investigadores desenvolveram um novo sistema autónomo ultra-frio (Contentor Autónomo Ultra-frio – CAU) que permite a conservação e o transporte de vacinas contra a Covid-19, que requerem temperaturas muito baixas. O sistema é capaz de atingir até -200 graus centígrados, utilizando apenas ar ambiente como fluido de arrefecimento e energia elétrica.

Desenvolvido por peritos do Instituto Motores Técnicos (CMT) da Universidade de Valência , o Contentor Autónomo Ultra-frio pode ser adaptado a todos os tipos de câmaras, desde as dos furgões de distribuição farmacêutica, até aos frigoríficos industriais, grandes contentores de mercadorias ou centros logísticos de armazenamento e distribuição.

Com este contentor “poderíamos abranger todo o processo de transporte e armazenamento das vacinas, assegurando sempre que as câmaras são mantidas à temperatura necessária para garantir a sua correta conservação”, assinala Vicente Dolz, investigador da CMT- Motores Térmicos da UPV. “O sistema alcança até -200º C estáveis e, alimentado por energia elétrica, é totalmente autónomo”.

As últimas tecnologias aplicadas ao fabrico de vacinas envolvem a preservação do material genético do vírus a temperaturas criogénicas (-70°C). Atualmente, a solução é utilizar gelo seco, que sublima a -78°C, ou azoto líquido, que evapora a -196°C, para arrefecer as caixas de[1] vacinas.

Contudo, de acordo com os investigadores da CMT, esta tecnologia tem alguns inconvenientes: não é fácil controlar a temperatura e os frascos, quando submetidos temperaturas demasiado extremas, podem danificar-se. Além disso, prevê-se uma falta de abastecimento de gelo seco devido à escassez na produção de CO2 puro.

“A atual emergência de saúde e as novas técnicas de fabrico de vacinas requerem novas técnicas de refrigeração a temperaturas muito baixas. As restrições industriais e fiscais para o fabrico e comercialização de fluidos refrigerantes tradicionais tornam necessário procurar novas tecnologias de ultra-refrigeração que sejam eficientes, mas ao mesmo tempo amigas do ambiente e que minimizem as emissões de CO2. O sistema que concebemos nos nossos laboratórios responde a esta necessidade”, explica José Ramón Serrano, investigador do CMT.

“Para conseguirmos manter a cadeia de frio no transporte das vacinas, utilizamos a expansão do ar num ciclo de Brayton invertido. Controlando a velocidade de rotação dos compressores do ciclo, com um variador de frequência, controla-se a potência e, portanto, a temperatura do processo”, explica José Ramón Serrano.

Como as vacinas já chegam dentro de caixas isolantes e carregadas com gelo seco, o CAU apenas mantém a cadeia de frio. Isto permite o armazenamento ou o transporte das caixas de vacinas indefinidamente, dentro do contentor, sem a necessidade de substituir ou controlar o gelo seco. “Tudo o que se tem de fazer é fornecer elétrica energia à máquina. Também pode ser uma alternativa ao gelo seco se a CAU for utilizada diretamente para armazenar vacinas no local de produção”, conclui Serrano.

A equipa da CMT tem um protótipo do CAU em funcionamento numa das suas bancadas de testes laboratoriais.

NR/AG/Adelaide Oliveira

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Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

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