Jorge Noël Barreto, Direção Nacional de Saúde de Cabo Verde: “Nenhum país estava preparado para fazer face a esta pandemia e Cabo Verde não foi exceção”

01/08/2021
Em entrevista exclusiva à HealthNews Jorge Noël Barreto realça o balanço “bastante positivo” da gestão da pandemia e diz que o governo “está a fazer tudo” para garantir a vacinação a partir de abril.

Apesar das dificuldades que o vírus impôs aos sistemas de saúde de todo o mundo, o Diretor-Nacional da Saúde de Cabo Verde garante que o país começou a organizar-se “assim que teve conhecimento da situação na China”. 

HealthNews (HN) – Tomou posse como Diretor Nacional da Saúde em vésperas de pandemia. Passado pouco mais de um ano, qual o balanço que faz do trabalho realizado?

Jorge Noël Barreto (JNB) – Apesar dos vários constrangimentos que foram surgindo ao longo deste período, o balanço é bastante positivo. O país conseguiu ir dando as respostas necessárias, na medida do possível e com os recursos disponíveis em cada momento, o que poderá ter contribuído bastante para uma evolução menos catastrófica da pandemia em Cabo Verde. Muitos documentos técnicos foram produzidos, muitos profissionais de saúde foram recrutados, a reorganização dos serviços para permitir maximizar a capacidade de resposta, entre outras medidas, terão contribuído para que, no cômputo geral, o balanço seja considerado bastante positivo.

HN- O País estava preparado para fazer face à pandemia?

JNB- Nenhum país estava preparado para fazer face a esta pandemia e Cabo Verde não foi exceção. Contudo, o país começou a organizar-se a partir de janeiro de 2020, assim que teve conhecimento da situação na China, com a elaboração do Plano de Contingência, que foi o documento orientador das ações de preparação e resposta seguintes. De forma geral, o Governo foi disponibilizando um conjunto de medidas e recursos conforme a pandemia foi evoluindo no país, permitindo uma resposta bastante satisfatória, considerando que era uma situação que não estava prevista e causada por um vírus novo. É claro que isto tudo também não seria possível sem o apoio dos parceiros de desenvolvimento de Cabo Verde.

HN- De que forma a Pandemia impactou o Serviço Nacional de Saúde de Cabo Verde?

JNB- A pandemia de COVID-19 afetou e ainda afeta a saúde em todas as suas vertentes, como jamais visto nos últimos cem anos. Esta situação obrigou a uma reorganização do Serviço Nacional de Saúde para dar a resposta necessária, afetando, em parte, a atenção que se deve dar a outras doenças como, por exemplo, a hipertensão arterial e a diabetes. Esta reorganização acabou por determinar automaticamente numa sobrecarga de trabalho para os profissionais de saúde, mas que deram e continuam a dar tudo de si para que os resultados sejam cada vez melhores e com menos impacto negativo possível. Para além das condições para a prestação de cuidados de saúde, a COVID-19 trouxe desafios em relação às condições laboratoriais, que foram melhoradas para dar resposta à demanda, no que toca ao diagnóstico da infeção por SARS-CoV-2 e também na adoção de soluções de tecnologia digital para uma melhor resposta. O grande desafio será continuar a ter recursos disponíveis para fazer face à pandemia e continuar a dar resposta aos outros problemas de saúde.

HN- Quais as principais alterações operadas para dar resposta à situação?

JNB- Houve reorganização do atendimento das pessoas que procuravam os serviços de saúde para reduzir a probabilidade de propagação; houve disponibilização de uma linha telefónica gratuita para questões ligadas à saúde, especialmente em relação à COVID-19, abrangendo a parte da saúde mental também; houve reorganização do aviamento das receitas dos doentes crónicos, a disponibilização de mais aparelhos para a abordagem de casos graves de COVID-19 e o reforço da mão de obra (profissionais de saúde). São alguns exemplos de alterações feitas para dar resposta à situação.

HN- Quais as principais medidas de contenção da pandemia adotadas?

JNB- O Governo emitiu várias medidas de contenção e de mitigação da pandemia, nomeadamente a restrição de circulação das pessoas, a utilização de máscaras faciais, a reorganização do período laboral para evitar aglomerações desnecessárias, a suspensão de viagens internacionais e interilhas, as orientações de quarentena, a disponibilização de condições para o diagnóstico possibilitando a identificação de focos de infeção atempadamente para a adoção das precauções e a divulgação de informações sobre as medidas preventivas poderão ser apontadas como algumas das principais ações de contenção adotadas no contexto da pandemia.

HN- O número de novos casos está a aumentar. Quais as hipóteses que colocam para justificar este aumento?

JNB- Neste momento, o número de casos não parece estar a aumentar. Aliás, desde início de novembro de 2020 que se tem notado uma tendência estacionária com evolução para diminuição do número de casos por semana.

HN- Que resposta encontraram para a manutenção da assistência “não-covid”?

JNB- Passou por uma reorganização dos serviços com os recursos disponíveis, continuando a apostar na promoção da saúde e do autocuidado.

HN- Já há vacina. Cabo Verde tem suprimento contratado ou já recebido?

JNB- O país está no processo de acesso a vacinas e está a fazer de tudo para que a partir de abril deste ano possam estar disponíveis para serem aplicadas. Entretanto, convém realçar que é um processo dinâmico que depende de vários intervenientes nacionais e internacionais, daí a data apresentada ser uma previsão.

HN- De quantas doses dispõe (ou já tem contratadas) Cabo Verde?

JNB- Na primeira fase, prevê-se a disponibilização de cerca de 220 mil doses para a vacinação de grupos prioritários, à semelhança de outros países.

HN- Como será implementado o programa de vacinação? Quando pensam poder estar concluído?

JNB- A vacinação vai depender das características das vacinas que estiverem disponíveis, mas pretende-se adotar uma estratégia mista, ou seja, a deslocação de pessoas a postos de vacinação e também a deslocação de equipas de vacinação a instituições e a localizadas mais remotas ou de difícil acesso. Não há um prazo definido para a conclusão da vacinação nesta primeira fase, pois depende das características das vacinas disponibilizadas. Tanto poderá ser feita em 15 dias, como em 30 dias.

Entrvista MMM/AL/HN

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