Francisco Ramos — substituído pelo vice-almirante Gouveia e Melo, que já integrava a ‘task force’ — renunciou ao cargo e afirmou numa declaração escrita que a decisão se deveu a irregularidades relativas ao processo de seleção para vacinação de profissionais de saúde no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa (HCV), do qual é presidente da comissão executiva.
Posteriormente, o diretor clínico e a enfermeira diretora do mesmo hospital anunciaram que tinham colocado os lugares à disposição, justificando a irregularidade com um lapso na seleção dos profissionais a vacinar contra a Covid-19, revelou o médico à Lusa.
No domingo, o responsável pela delegação do Norte do INEM, António Barbosa, tinha apresentado a demissão depois de ter assumido que tinha autorizado a vacinação de 11 funcionários de uma pastelaria próxima do instituto, alegando tratar-se de uma opção para evitar o desperdício das doses de vacina.
Outras alegadas irregularidades no INEM tinham sido denunciadas no dia 28 de janeiro pela Associação Nacional de Emergência e Proteção Civil, que divulgou também que o presidente do INEM, Luís Meira, “contrariou as indicações do Ministério da Saúde e vacinou dezenas de profissionais não-essenciais e que não são profissionais de saúde”.
Apesar das demissões e da polémica em torno dos casos de vacinação violando os critérios estabelecidos no plano nacional, continuam a suceder-se diariamente situações divulgadas por órgãos de comunicação social.
Na terça-feira a SIC noticiou que, no concelho de Sátão, no distrito de Viseu, o presidente e o vice-presidente da autarquia receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19.
De acordo com a SIC, o presidente justificou ter recebido a vacina por ser dirigente de uma fundação que gere dois lares e, o vice-presidente por fazer voluntariado, como médico numa outra instituição.
O responsável pela administração da Unidade Local de Saúde do Nordeste, que gere três hospitais e os 14 centros de saúde do distrito de Bragança, protagoniza, segundo a TSF, outro dos casos recentes, em que dirigentes e funcionários administrativos daquele organismo terão sido vacinados.
A primeira situação irregular a ser divulgada foi a do presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz, José Calixto, que justificou ter sido vacinado na qualidade de dirigente de um lar.
Sucederam-se os do presidente da Assembleia Municipal de Arcos de Valdevez e provedor da Santa Casa da Misericórdia, Francisco Araújo e de Elisabete Adrião, vereadora da Câmara do Seixal e responsável pelo Núcleo Local de Inserção de Sesimbra.
Nas últimas semanas vieram ainda a público alegados usos indevidos de vacinas no Centro de Apoio a Idosos de Portimão (cujos órgãos sociais foram incluídos na lista dos prioritários, no Hospital Narciso Ferreira, em Vila Nova de Famalicão (cujo administrador incluiu a filha e a mulher na lista de profissionais prioritários), no lar da Santa Casa da Misericórdia de Bragança (onde terão sido vacinados todos os órgãos sociais) e na Santa Casa da Misericórdia do Montijo, cujo provedor terá incluído a mulher na lista da vacinação.
A secção regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros denunciou também várias pessoas, incluindo um padre, que foram vacinados indevidamente contra a Covid-19 numa instituição de Valongo do Vouga, Águeda, no distrito de Aveiro.
Na segunda-feira a Procuradoria-Geral da República confirmou à Lusa que o Ministério Público já instaurou inquéritos relativamente “a alguns dos casos vindos a público, desde logo os respeitantes à Segurança Social de Setúbal, ao INEM de Lisboa e ao INEM do Porto”.
Na sexta-feira, a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) tinha anunciado que vai verificar o cumprimento das normas e orientações aplicáveis ao processo de administração da vacina contra a covid-19.
LUSA/HN
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