Ana Rita Sousa: “Felizmente temos a aprovação de várias opções de terapêutica adjuvante para tumores para os quais não tínhamos grandes opções”

03/31/2021
Estima-se que a taxa de incidência de Melanoma em Portugal seja de 10 em 100 mil pessoas/ano, tendo sido diagnosticados mais de mil doentes em 2020. Em entrevista à HealthNews Ana Rita Sousa, oncologista médica, do Centro Hospitalar de Lisboa Norte, salienta a aprovação de novas terapêuticas capazes de aumentar a sobrevivência dos doentes e o risco de recidiva.

Healthnews (HN) – O melanoma é um tipo de cancro de pele que, apesar de ser menos frequente, é considerado um dos mais graves. Quais as manifestações clínicas?
Ana Rita Sosa (ARS) – Os principais sinais são: o aparecimento de uma lesão cutânea ou uma lesão que já pode existir previamente, mas que muda de características. Portanto, na maioria das vezes este diagnóstico é feito pelo próprio doente ou no exame objetivo é feito este alerta, em que o médico verifica uma lesão que apresenta sinais de alarme.

A nível do exame um dos fatores que estão mais associadas a esse tipo de cancro é a mudança de coloração de um sinal ou um sinal assimétrico (que tenha crescido ou que tenha mudado nos últimos tempos). Estes acabam por ser sinais que todos nos deveríamos estar alerta.

Quando é feito o diagnóstico os doentes são referenciados ao dermatologista que faz uma biopsia.

HN – Sublinhou a importância de estarmos sensibilizados para estes sinais. Os médicos de medicina geral e familiar não desempenham um papel essencial neste aspeto?
ARS – Claro que sim. A maioria dos nossos doentes são referenciados pelo próprio médico de família para uma consulta de especialidade.

HN – Existem sítios áreas que suscitem maior preocupação?
ARS – De acordo com os vários subtipos de melanoma sabemos que há alguns que ocorrem em locais mais associados à exposição solar, mas também há outros sítios em que pode haver um outro tipo de melanoma.

No fundo, não é tanto a localização que importa, mas sim é importante vigiarmos e estarmos atentos àquilo que se passa no maior órgão que temos, a pele.

HN – Qual a importância de um diagnóstico precoce?
ARS – O diagnóstico precoce é sempre no intuito de ser diagnosticado numa face em que seja possível diminuir a hipótese de haver disseminação para outros órgãos. Sabemos que qualquer tipo de cancro ou tumor maligno em estadios mais avançamos são mais agressivos e têm maior probabilidade de recidivar.

HN – Quais os fatores de risco que podem conduzir a este tipo de cancro?
ARS – Os fatores de risco incluem: a radiação ultravioleta (quando a pessoa está sujeita a elevada exposição solar); pessoas com tom de pele mais clara, com fototipo 1 e 2, têm maior probabilidade de ser atingidas; pessoas ruivas e pessoas que têm um grande número de sinais estão, também, sujeitas a maior risco deste diagnóstico.

HN – Existem diferenças estatísticas em função do género e idade?
ARS – Habitualmente o sexo masculino é onde se regista mais casos, mas a diferença não é muita.

Relativamente à idade temos vindo a assistir a diagnósticos em faixas etárias mais jovens, talvez associada a esta exposição solar cada vez mais precoce.

HN – Que tipo de terapêutica é utilizada em estadios iniciais e nos casos mais avançados?
ARS – Em estadios mais iniciais a terapêutica é habitualmente cirúrgica. Quando se opta por fazer apenas uma cirurgia é porque o doente foi diagnosticado numa fase mais precoce e, portanto, há menor risco de haver uma recidiva.

Nos casos de estadio intermédio, em que sabemos que existe algum risco de recidiva, aconselhamos, para além da cirurgia, a realização da terapêutica adjuvante. Felizmente neste momento temos a aprovação de várias opções de terapêutica adjuvante para tumores para os quais não tínhamos grandes opções.

Em contexto metastático (ou seja, quando vamos fazer alguma terapêutica paliativa por haver doença disseminada ou que não seja operável) temos duas opções: a terapêutica com imunoterapia ou terapêutica alvo para os melanomas que apresentem a mutação da BRAF.

HN – Recentemente foi aprovado o financiamento de pembrolizumab (KEYTRUDA) em monoterapia para o tratamento adjuvante de adultos com melanoma em estadio III com envolvimento de gânglios linfáticos que foram submetidos a resseção completa. Quais os benefícios desta nova indicação?

ARS – Esta terapêutica, já aprovada,  vai aumentar a potencialidade de cura e vai diminuir o risco de recidiva.

Entrevista de Vaishaly Camões

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