Direção da OMS não investigou acusações de abuso sexual na RDCongo

12 de Maio 2021

A direção da Organização Mundial de Saúde (OMS) estava a par das acusações de assédio sexual durante o surto de Ébola em 2019, e não as investigou, de acordo com uma investigação da Associated Press.

De acordo com a investigação da AP, baseada em relatórios, email internos, reuniões e entrevistas aos intervenientes, em 2019 a direção da OMS foi informada por uma enfermeira, Shekinah, que um médico canadiano, Boubacar Diallo, que se vangloriava de ser amigo do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, lhe ofereceu um emprego em troca de sexo.

“Dadas as dificuldades financeiras da minha família, eu aceitei”, contou a enfermeira de 25 anos, que passou a ganhar o dobro do que ganhava até então.

“Quando um funcionário e três peritos em Ébola a trabalhar na RDCongo informaram a direção da OMS sobre as preocupações face aos abusos sexuais de Diallo, foi-lhes dito que não abordassem o assunto”, lê-se na investigação da AP, que vinca que a direção da OMS foi não só informada, como questionada sobre o que devia ser feito perante as acusações.

Para além de Diallo, também o médico Jean-Paul Ngandu estará envolvido, sendo acusado de engravidar uma jovem e de ter feito um acordo financeiro, assinado por membros da OMS enquanto testemunhas, para que o caso não fosse divulgado.

“Num contrato feito num notário e obtido pela AP, dois funcionários da OMS, incluindo um diretor, assinaram como testemunhas confirmando que Ngandu iria pagar à jovem, suportar os custos de saúde e comprar-lhe terras”, lê-se na investigação da AP sobre os abusos na RDCongo.

Ngandu nega ter feito qualquer coisa de errado e diz que assinou o acordo “para proteger a integridade e a reputação da OMS”, segundo a AP, que aponta que a investigação revelou que pelo menos oito diretores assumiram em privado que a Organização não fez o suficiente para impedir estes abusos.

“Não se pode apontar para este caso e dizer que houve uma operação no terreno que correu mal, de certa forma isto é a ponta do iceberg”, disse o chefe de emergências, Michael Ryan, numa reunião interna.

No dia 15 de outubro, o responsável máximo da OMS nomeou um painel independente para investigar estas e outras acusações sobre os abusos sexuais na RDCongo, cujas conclusões deverão ser conhecidas em agosto.

LUSA/HN

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