A presença do estigma específico a certas condições de saúde foi observada na pandemia do VIH, nos surtos do vírus Ebola e do vírus Zika, e agora na pandemia de Covid-19. A ONUSIDA alerta que “a antecipação do estigma durante uma pandemia pode interferir na adoção de medidas preventivas, testagem oportuna e adesão ao tratamento”.
Como consequência do medo e da incerteza que surgem durante uma pandemia, o estigma e a discriminação manifestam-se rapidamente, expondo as pessoas à violência, ao assédio e ao isolamento, e dificultando a prestação de serviços essenciais de saúde e a adoção de medidas de saúde pública para controlar a pandemia, alerta a ONUSIDA no documento “Abordando estigma e discriminação na resposta à Covid-19”.
“O estigma que surge durante uma pandemia pode exacerbar as desigualdades existentes, incluindo as que estão relacionadas com a raça, status socioeconómico, ocupação, género, status de imigração e orientação sexual”, assinalam os peritos.
Muitas formas de estigma e discriminação surgiram desde a identificação da Covid-19: “a xenofobia tem sido direcionada às pessoas consideradas responsáveis por “trazerem” a Covid-19 para os países. Pessoas que se recuperaram da Covid-19, trabalhadores e trabalhadoras essenciais, como profissionais de saúde e populações que enfrentam o estigma e a discriminação pré-existentes (por exemplo, pessoas que vivem com VIH, pessoas de minorias sexuais e de género, profissionais do sexo, migrantes), têm sido sujeitas a abuso verbal e físico”.
De acordo com a ONUSIDA, “em vários países, as pessoas que vivem com VIH relatam terem sido obrigadas a revelar o seu estado serológico quando procuram serviços de tratamento, testagem e prevenção para o
VIH durante os lockdowns, especialmente adolescentes, mulheres e pessoas trans. Tem sido relatado um aumento do número de casos de violência
entre mulheres e pessoas de minorias sexuais e de género como resultado de ordens de permanência em casa e medidas de distanciamento físico. Têm sido documentados ataques contra jovens lésbicas, homens gays, bissexuais e pessoas trans sob o pretexto de medidas de fiscalização de saúde pública, e falta de proteção social e segurança de renda para profissionais do sexo”.
“São urgentes esforços para eliminar o estigma e a discriminação existentes e relacionados com a Covid-19 e devem ser uma componente integral dos esforços mundiais para responder à pandemia. É necessário que se tenha uma especial atenção para garantir que as pessoas de populações vulneráveis, incluindo minorias raciais e de género, sejam protegidas durante a resposta à Covid-19 e não sejam mais marginalizadas, pois novas evidências sugerem que essas populações estão a sofrer altas taxas de morbidade e mortalidade relacionadas com a Covid-19”.
“O envolvimento e a participação de todos os setores da comunidade no desenvolvimento de respostas de saúde pública específicas ao contexto da Covid-19 são fundamentais”, refere a ONUSIDA. Nesse sentido, “as redes de pessoas que vivem com VIH, populações-chave e grupos de mulheres, apresentam três décadas de experiência na implementação de programas de redução do estigma no contexto do VIH, que pode ser utilizada pelos países para informar e apoiar as respostas de saúde pública à Covid-19 centradas na comunidade”.
Em 2020, a Parceria Global para Eliminar todas as Formas de Estigma e Discriminação Relacionados com o VIH, coorganizada pela ONUSIDA, lançou um relatório que revisou as últimas evidências que têm dado um bom resultado no combate ao estigma e à discriminação relacionados com o VIH.
O relatório fornece recomendações baseadas em evidências para seis contextos interligados: comunidade, local de trabalho, educação, assistência médica, justiça e contexto de emergência/humanitário. Muitas dessas recomendações, baseadas em evidências do que funciona no combate ao estigma e à discriminação relacionados com o VIH, são aplicáveis na abordagem dos mesmos problemas, mas agora relacionados com a Covid-19, defendem os peritos.
AO
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