Especialista brasileira nega efeitos colaterais em vacina fora do prazo

3 de Julho 2021

A professora de imunologia brasileira Anamélia Lorenzetti Bocca disse na sexta-feira à Lusa que "não há nenhum efeito colateral descrito até ao momento" em caso de aplicação de uma vacina contra a covid-19 fora do prazo.

O jornal Folha de S. Paulo noticiou, na sexta-feira, que pelo menos 26 mil doses de vacinas contra a covid-19 da fabricante AstraZeneca fora do prazo de validade foram já administradas no Brasil.

Questionada sobre o que é que acontece ao organismo de uma pessoa que tomou uma vacina contra a covid-19 fora do prazo, Anamélia Bocca afirmou: “não acontece praticamente nada, além da não imunização”.

“A pessoa não vai gerar resposta imunológica efetiva como se tivesse tomado a vacina no prazo correto. Por exemplo, se estivesse fora do prazo, o vírus replicante, usado na vacina da Astrazeneca, pode ter morrido, pode não replicar, entre outras situações. Então, há algumas possibilidades que fazem com que o indivíduo não desenvolva uma resposta imune”, explicou.

“A pessoa não ficará imunizada, mas não tem nenhum efeito colateral descrito, até agora, de que isso possa trazer complicações para as pessoas”, reforçou a especialista, que é coordenadora do laboratório de Imunologia aplicada da Universidade de Brasília.

Caso realmente tenham sido administradas vacinas fora do prazo no Brasil, Anamélia Bocca afirmou que esses cidadãos terão de ser chamados novamente para receberem novas doses de vacinas e serem efetivamente imunizados.

Para saberem se fazem parte da lista de pessoas que alegadamente não ficaram imunizadas, a especista lembrou que o comprovativo de vacinação que receberam contém informações sobre o lote em que a vacina estava inserida e aconselhou os cidadãos a irem ao ‘site’ da Folha de S. Paulo, que divulgou as cidades e os lotes das vacinas aplicadas fora do prazo, para confirmarem os dados.

Contudo, a professora universitária tem acompanhado a situação de perto e disse acreditar tratar-se de um problema administrativo de inserção de dados e não de administração de vacinas fora do prazo.

“O Governo do Distrito Federal emitiu um comunicado dizendo que, na verdade, as vacinas foram aplicadas no prazo de validade, mas entraram no cadastro do Sistema Único de Saúde (SUS) posteriormente, já depois do prazo de validade. Isso é um problema administrativo e não de aplicação da vacina fora do prazo”, salientou, em declarações à Lusa, em Brasília.

“Todo o sistema do Plano Nacional de Imunização (PNI) recebe os lotes e verifica-os. Existem protocolos de recebimento e de entrada no sistema com os prazos de validade. Então, receberam as vacinas nos prazos de validade correto, mas, na hora de colocar no sistema do SUS, as Secretarias de Saúde dizem que colocaram depois e, por isso, aparentam que foram administradas fora do prazo”, disse.

Na sexta-feira, logo após a reportagem, várias prefeituras brasileiras emitiram comunicados em que negaram a aplicação de vacinas contra a covid-19 fora do prazo de validade, alegando tratar-se de falhas na inclusão de dados no sistema informático do SUS.

De acordo com as autarquias, o SUS, que integra Governo central, Estados e municípios, recebeu anotações da aplicação de vacinas com atrasos até dois meses, principalmente nas primeiras semanas de vacinação no país, que teve início no final de janeiro deste ano.

“Possivelmente, estamos perante um problema administrativo. Primeiros fazemos um cadastro manual e só depois é que é inserido no sistema. Agora, as autoridades vão comparar ambos os registos, para confirmar as datas e averiguar a situação. Há forma de comprovar o dia real da aplicação”, concluiu Anamélia Lorenzetti Bocca.

O Brasil, um dos países mais afetados pela pandemia, totaliza 521.952 mortes e mais de 18,6 milhões de casos positivos de covid-19.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 3.957.862 mortos em todo o mundo, resultantes de mais de 182,5 milhões de casos de infeção, segundo o balanço mais recente feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 17.108 pessoas e foram confirmados 884.442 casos de infeção, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

HN/NR/LUSA

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