Única leprosaria do país tem núcleo museológico que abre na terça-feira na Tocha, Cantanhede

6 de Setembro 2021

O antigo Hospital Colónia Rovisco Pais, que foi a única leprosaria do país, vai ter um núcleo museológico, que abre na terça-feira, no Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro - Rovisco Pais, na Tocha, concelho de Cantanhede.

O núcleo, instalado numa das alas da capela que integra o complexo de edifícios daquele centro do distrito de Coimbra, “revela ao público, pela primeira vez, um conjunto significativo de património cultural e científico do antigo hospital”, refere uma nota de imprensa.

“O percurso expositivo convida o visitante a conhecer a última leprosaria portuguesa, criada em 1947 e extinta em 1996, através de fragmentos do passado – objetos, fotografias e documentos vários – representativos das atividades desenvolvidas no hospital”, adianta a nota, destacando que proporciona, igualmente, “uma viagem no tempo, à história da Medicina, da saúde e da assistência social no século XX durante a época em que a doença de Hansen [lepra] proliferou em Portugal”.

O espaço museológico, há muito ambicionado, está dividido em seis áreas temáticas: “Hospital Colónia Rovisco Pais, a última e única leprosaria nacional”, “Cronologia do combate e erradicação da doença de Hansen em Portugal”, “A doença e os doentes”, “O laboratório, a farmácia e os tratamentos”, “A assistência clínica”, “O quotidiano na aldeia terapêutica” e “A assistência à família dos doentes de Hansen”.

A criação do Núcleo Museológico do Hospital Colónia Rovisco Pais surge no âmbito do projeto “Rovisco Pais old leprosy – a museological nucleus and storytelling website”, desenvolvido no centro e apoiado pela Sasakawa Health Foundation, criada em 1974 no Japão para erradicar a lepra do mundo.

“Um projeto abrangente, desenvolvido nos últimos anos, cuja finalidade tem sido a recuperação do património do antigo Hospital Colónia Rovisco Pais, a única leprosaria nacional, a integrar numa rede internacional de museus de antigas leprosarias ‘in situ’ e nas rotas do turismo de saúde, da religião e da ciência”, acrescenta a nota.

À agência Lusa, a presidente do Conselho Diretivo do Centro de Medicina de Reabilitação, Isabel Bento, disse hoje que este núcleo “vem do trabalho de conselhos diretivos anteriores” e “surge da vontade de muitas pessoas que aqui têm trabalhado e queriam preservar estas memórias”.

Aquela fundação já apoiou, com cerca de 120 mil euros, este projeto que, segundo Isabel Bento, quer crescer.

“Temos um manancial de informação. O espaço não chega, mas foi o espaço disponível. É uma excelente oportunidade de virmos a concretizar mais do que um pequeno núcleo”, declarou.

Enumerando peças que o núcleo tem, desde material hospitalar ou peças do quotidiano, Isabel Bento destacou “um chapéu de palha de aba larga que foi usado por uma mulher que sofreu, que esteve aqui prisioneira da sua doença”, fazendo uma analogia com o presente, marcado pela pandemia de Covid-19.

“Foram pessoas ou famílias inteiras que, em nome do bem comum e da saúde pública, viveram aqui confinadas enquanto a doença não teve cura”, observou.

Isabel Bento adiantou que a lepra “foi considerada erradicada em Portugal na década de 70 do século passado” e o hospital fechou portas em 1996, dando lugar ao Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro – Rovisco Pais.

A curadora da exposição, a historiadora Cristina Nogueira, adiantou que o núcleo museológico tem cerca de mil peças.

“É um espaço que está muito ligado ao que vivemos hoje, com a pandemia. Tem muitas similitudes, incluindo a postura do Homem e da sociedade relativa à doença e à cura. A História repete-se com um enquadramento e contexto diferentes, mas repete-se nos traços principais”, assinalou.

Segundo a historiadora, quem visitar o núcleo “fará uma reflexão, também, sobre como foi evoluindo a saúde e a assistência médica”, notando que “todas as peças remetem para uma história que, no caso deste antigo hospital, ainda tem muito para descobrir e contar”.

Rovisco Pais (1862-1932) foi um proprietário e industrial de cervejas, “benemérito de várias instituições de assistência social e de saúde, entre as quais a Misericórdia e os hospitais civis de Lisboa”, esclareceu a historiadora.

“A ligação com o antigo hospital Rovisco Pais advém da sua herança que deixou aos hospitais civis para ser usada para fins de assistência médica. O Estado tinha tomado várias diligências para criar uma resposta para a doença de Hansen e quando essa herança foi para os hospitais houve a ideia de aplicar parte numa leprosaria nacional”, explicou.

O médico Bissaya Barreto (1886-1974), que na região Centro “era uma autoridade na concretização de respostas a nível de assistência social e médico-hospitalar, foi a pessoa designada para concretizar a leprosaria”, disse Cristina Nogueira.

Segundo a historiadora, “foi Bissaya Barreto quem propôs o nome de Rovisco Pais” para a leprosaria, cujos “princípios orientadores foram definidos” pelo médico “com base no que foi estabelecido previamente pela Direção-Geral da Saúde”.

A abertura do núcleo, na terça-feira, é antecedida, às 14:00, pela inauguração, onde vai estar representada a fundação nipónica.

A visita é gratuita e acompanhada por um guia, devendo ser agendada através dos contactos 231440900 ou secretariado@roviscopais.min-saude.pt.

LUSA/HN

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