José Maria Neves diz que crise é o maior adversário e critica “ingerência do Governo”

17 de Outubro 2021

O candidato a Presidente da República de Cabo Verde José Maria Neves afirmou que o principal adversário na votação de hoje é a crise que o arquipélago vive, mas criticou a “ingerência do Governo” no processo eleitoral.

O candidato, ex-primeiro-ministro, de 2001 a 2016, pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, atualmente na oposição), afirmou aos jornalistas, após votar esta manhã na Praia, que o importante é que o país “ganhe nestas eleições”, face à crise económica provocada pela ausência de turismo, devido à pandemia de Covid-19.

“Os tempos são extraordinariamente difíceis para todos, as pessoas já estão a sentir a dimensão da crise e é preciso com certeza uma mobilização de todas as cabo-verdianas e de todos os cabo-verdianos no pós-eleições para fazermos face à grandeza dos desafios que temos pela frente. O nosso principal adversário hoje é a crise, temos de poder vencer esta crise, poder recuperar das perdas, que foram enormes, [para] podermos depois acelerar o passo para um país mais moderno, mais justo, mais próspero e com oportunidade para todos os seus filhos”, disse.

José Maria Neves, apoiado nesta candidatura pelo PAICV, partido que liderou, acrescentou que “o mais importante já foi feito” nas últimas semanas: “Fizemos a sementeira, agora é esperar”.

Embora sem detalhar, o candidato falou em “pressões que estão a ser feitas ao mais alto nível” aos eleitores.

“Houve muitas movimentações à noite, de membros do Governo, vários, e de altos dirigentes da administração pública, e que também durante o dia estão presentes em várias assembleias de voto, em vários momentos. E o apelo é para que as pessoas votem em consciência, sem quaisquer constrangimentos, sem qualquer limitação. As pessoas não devem ter medo, o voto é secreto”, disse.

Retomando as críticas feitas durante a campanha eleitoral ao envolvimento de membros do Governo – liderado pelo Movimento para a Democracia (MpD), que apoia o candidato presidencial Carlos Veiga, também antigo primeiro-ministro -, José Maria Neves disse esperar que o eleitorado vote “em consciência”.

“Espero que não modifiquem a decisão dos cabo-verdianos. De todo o modo, são perspetivas que do ponto de vista ético não deviam estar a acontecer nas sétimas eleições presidenciais. A Constituição exige a imparcialidade de todos os órgãos de soberania, a imparcialidade da administração pública e temos tido exemplos durante vários anos de uma maior imparcialidade e de menos ingerência do Governo e da alta administração pública no processo eleitoral”, disse ainda.

A estas eleições apresentam-se sete candidatos – um recorde histórico -, e caso nenhum obtenha a maioria absoluta, os dois mais votados disputam uma segunda volta, já agendada para 31 de outubro.

As mesas de voto para as eleições presidenciais em Cabo Verde abriram hoje depois das 07:00 locais (09:00 em Lisboa), embora algumas com atraso devido a questões logísticas, constatou a Lusa na cidade de Praia.

“Cabo Verde é um país de liberdade e de democracia. Hoje também está a fazer um sol lindíssimo, espero que todas as cabo-verdianas e os cabo-verdianos votem, votem em consciência, sejam iluminados por esta luz do sol, e que Cabo Verde saia a ganhar”, disse José Maria Neves.

A abertura oficial das assembleias de voto instaladas no arquipélago aconteceu uma hora antes do horário habitual de eleições anteriores ao período de pandemia, conforme medidas de prevenção definidas pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Cabo Verde, e a admissão de eleitores poderá ser feita até às 18:00 (20:00 em Lisboa), para garantir o cumprimento das normas sanitárias e evitar a aglomerações.

“Só através do voto podemos realizar os nossos sonhos, podemos fazer as escolhas para o nosso país e depois ganhamos o direito de reivindicar”, reforçou o candidato.

Durante o dia de hoje está previsto o funcionamento de um total de 1.053 mesas de voto distribuídas pelo arquipélago e 243 na diáspora.

Segundo o caderno eleitoral publicado pela Direção-Geral de Apoio ao Processo Eleitoral (DGAPE), estão inscritos para votar nos 22 círculos eleitorais do país 342.777 eleitores, enquanto os 16 círculos/países no estrangeiro contam 56.087 eleitores recenseados, totalizando assim 398.864 cabo-verdianos em condição de votar.

O Tribunal Constitucional admitiu as candidaturas a estas eleições de José Maria Pereira Neves, Carlos Veiga, Fernando Rocha Delgado, Gilson Alves, Hélio Sanches, Joaquim Jaime Monteiro e Casimiro de Pina.

Esta é a primeira vez que Cabo Verde regista sete candidatos oficiais a Presidente da República em eleições diretas, depois de até agora o máximo ter sido quatro, em 2001 e 2011.

As eleições presidenciais de Cabo Verde vão ser acompanhadas em todo o país por 104 observadores internacionais, sendo 30 da União Africana, numa missão liderada pelo diplomata e antigo ministro angolano Ismael Gaspar Martins, 71 da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e três da Embaixada dos Estados Unidos da América na Praia.

Cabo Verde já teve quatro Presidentes da República desde a independência de Portugal em 1975, sendo o primeiro o já falecido Aristides Pereira (1975 – 1991), por eleição indireta, seguido do também já falecido António Mascarenhas Monteiro (1991 – 2001), o primeiro por eleição direta. Seguiram-se, em 2001, Pedro Pires e, 10 anos depois, Jorge Carlos Fonseca.

As anteriores presidenciais em Cabo Verde, que reconduziram o constitucionalista Jorge Carlos Fonseca como Presidente da República, realizaram-se em 02 de outubro de 2016 (eleição à primeira volta, com 74% dos votos).

LUSA/HN

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