“Os países ou regiões com níveis de cobertura vacinal na população total acima do nível médio atual da UE, e particularmente aqueles com os níveis mais elevados de cobertura, podem ter uma pressão gerível de internamentos e mortes” por covid-19, afirma o responsável pelo departamento de doenças contagiosas e epidemias do ECDC, Ole Heuer, em entrevista por escrito à agência Lusa, em Bruxelas.
Isto “a menos que haja uma forte diminuição da imunidade seis meses após a vacinação e/ou a sua população tenha uma imunidade natural baixa”, salvaguarda o responsável.
A UE enfrenta atualmente um elevado ressurgimento das infeções por SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, com os internamentos, as entradas nos cuidados intensivos e o número de mortes também a aumentar, situação causada pela dominância da variante Delta (mais contagiosa) e pela descida das temperaturas, mais propícia a doenças respiratórias.
Por essa razão, Ole Heuer argumenta que mesmo estes países com elevada vacinação deviam “manter ou reintroduzir medidas como a limitação da dimensão dos eventos e reuniões, a promoção do teletrabalho, o uso de máscaras faciais em espaços partilhados e o distanciamento físico, uma vez que as pessoas vacinadas ainda podem ser infetadas e transmitir mais ainda o SARS-CoV-2”.
Dados do ECDC revelam que, até ao momento, 76,5% da população adulta na UE está totalmente vacinada, enquanto mais de 81% tomou apenas a primeira dose.
Isto equivale a 279 milhões de pessoas com o esquema de vacinação completo e 297 milhões com pelo menos uma dose administrada, segundo a página na internet do ECDC referente à vacinação na UE e que tem por base dados dos Estados-membros.
Por países, existem grandes discrepâncias nas taxas, entre os 28,6% de vacinação total de adultos na Bulgária e 92,6% na Irlanda.
Além da Bulgária, também a Roménia regista uma taxa de 42,8%, a segunda pior da UE, com os restantes países a superarem os 50%, ainda assim.
Relativamente aos países com níveis mais altos de população adulta totalmente vacinada, são, além da Irlanda, Portugal (91,9%) e Malta (91,8%), ainda segundo os dados do ECDC.
Ole Heuer diz à Lusa que os países com menor vacinação “continuam a ser os mais severamente afetados” pelo ressurgimento do vírus.
Questionado sobre as razões que justificam estes níveis tão baixos, principalmente na Europa central e de leste, o especialista aponta que “muitos países identificaram desafios em torno da desconfiança, desinformação e baixa perceção do risco, especialmente nos jovens, como alguns dos principais motores da baixa vacinação em diferentes grupos populacionais”.
Ole Heuer adianta, por isso, que os “esforços incansáveis para aumentar as taxas de cobertura vacinal em toda a UE/EEE [União Europeia e Espaço Económico Europeu] são da maior importância”.
“Em paralelo, deve ser considerada a administração de uma dose adicional de vacina a pessoas que possam ter uma resposta limitada ao ciclo primário de vacinação anticovid-19, tais como indivíduos imunodeprimidos”, e ainda “doses de reforço para grupos populacionais que apresentem sinais de diminuição da imunidade, como indivíduos mais velhos e frágeis, em particular os que vivem em ambientes fechados”, sugere o especialista.
Criado em 2005, o ECDC é uma agência europeia de aconselhamento aos países para reforço da capacidade de defesa da Europa contra as doenças infecciosas.
LUSA/NR/HN
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