Estudo português mostra que comida de rua em 7 cidades mundiais tem pouca fruta e hortícolas

20 de Dezembro 2021

Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) analisaram 2.850 locais de venda de comida de rua em sete cidades da Ásia Central e Europa de Leste e concluíram ser pouca a oferta de fruta e hortícolas.

À agência Lusa, a investigadora Patrícia Padrão afirmou hoje que o projeto, intitulado “FEEDCities” e resultado de uma parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS), procurou “analisar o ambiente urbano de comida de rua” em cidades da Ásia Central e da Europa do Leste.

Iniciado em 2016, o projeto analisou o ambiente urbano de Dushanbe (Tajiquistão), Bishkek (Quirguistão), Chisinau (Moldávia), Sarajevo e Banja Luka (Bósnia-Herzegovina), Almaty (Cazaquistão) e Ashgabat (Turquemenistão).

“A implementação do estudo iniciou-se em países onde se tem verificado um aumento acentuado de doenças crónicas não transmissíveis [como as doenças cardiovasculares e o cancro], e sobre os quais há poucos dados recolhidos de forma sistemática sobre fatores de risco relacionados com a alimentação”, esclareceu.

Nas sete cidades, os investigadores avaliaram os locais de vendas, os produtos prontos a consumir, caracterizaram os compradores, as suas compras e avaliaram a composição nutricional dos produtos vendidos.

No total, foram avaliados 2.850 locais de venda e os alimentos recolhidos corresponderam aos “mais disponíveis” em cada uma das cidades, incluindo alimentos caseiros e alimentos industrializados (‘snacks’, salgados, doces, bolachas e refrigerantes).

Segundo Patrícia Padrão, a “elevada disponibilidade de refrigerantes e baixa disponibilidade de fruta e produtos hortícolas prontos a consumir” foi uma característica comum aos locais de venda de todas as cidades.

No geral, os alimentos frequentemente disponíveis apresentavam um perfil nutricional “pouco saudável”, com elevados teores de energia, gordura e sódio. Já as compras apresentavam “elevada densidade energética”.

“Homens e compradores com excesso de peso ou obesidade tenderam a apresentar compras com perfil nutricional menos favorável, geralmente contendo valores superiores de gorduras saturadas, bem como de sódio”, observou Patrícia Padrão.

A par dos alimentos industrializados, alguns alimentos caseiros também apresentaram altos teores de ácidos gordos, o que poderá refletir “práticas culinárias menos saudáveis como a fritura e o uso frequente de gorduras de menor qualidade nutricional na confeção destes alimentos”.

Também nestes alimentos foram encontradas as principais fontes de sódio, especialmente nos pratos principais à base de carne, nos pastéis e ‘snacks’ salgados, o que “pode indicar uma utilização excessiva de sal ou ingredientes ricos em sódio”.

Face aos resultados, Patrícia Padrão afirmou que intervenções no âmbito da nutrição e da saúde pública “poderão ser úteis para a melhoria destes ambientes alimentares”.

“Estas medidas deverão ser adaptadas a cada contexto e poderão passar por limitar a disponibilidade de produtos alimentares ultra-processados ricos em gordura saturada, ácidos gordos, açúcar e sal”, referiu, acrescentando ser também necessária uma maior consciencialização dos vendedores e consumidores relativamente à composição nutricional da comida de rua.

À Lusa, Patrícia Padrão revelou que o estudo está a ser, neste momento, implementado em Tbilissi, na Geórgia, e que o intuito da equipa é alargá-lo a outras cidades para conseguir uma “visão mais completa dos ambientes de comida de rua nestas regiões”.

Os investigadores pretendem ainda realizar “estudos subsequentes nas cidades já avaliadas para aprofundar o conhecimento relativamente a outros fatores”, tais como a frequência e determinantes do consumo de comida de rua nestas populações, práticas culinárias e ingredientes usados.

Financiado pela OMS e pelo Ministério da Saúde da Federação Russa, o projeto “FEEDCities” contou com a colaboração de investigadores da Faculdade de Medicina, Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação e Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto.

O estudo contou ainda com a colaboração de inquiridores locais, agências da OMS e institutos de saúde pública de cada país.

LUSA/HN

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