Um estudo cujos resultados foram publicados hoje na revista ‘Science Advances’ mostra que ondas de calor e secas estão a causar um forte aumento da mortalidade e danos à sociedade em todo o mundo. Por exemplo, o número de mortes relacionadas com a onda de calor europeia de 2003 ascende a mais de 70 000, mas também as ondas de calor mais recentes resultaram num excesso de mortalidade substancial, para além da pandemia da COVID-19.
Até agora, acreditava-se que os solos secos tornam as ondas de calor ainda mais mortíferas à medida que aumentam ainda mais as temperaturas das ondas de calor. Afinal, terras mais secas resultam em menor evaporação. Consequentemente, é deixada mais energia na superfície da Terra para aquecer o ar exterior. Mas o efeito da seca na temperatura é enganador: a alta humidade do ar também dificulta o arrefecimento do corpo humano através da transpiração, daí uma maior probabilidade de sobreaquecimento. A menor evaporação conduz simultaneamente a uma menor humidade do ar. Esse efeito benéfico assume o seu lugar, e torna as ondas de calor menos mortais.
Melhores medidas contra a seca e o calor
Os resultados deixam mais claro quais as medidas contra períodos de seca e calor mortal mais eficazes. Esses períodos estão a tornar-se mais longos, mais frequentes e mais intensos com o aquecimento global. Muitas medidas já estão a ser tomadas, tais como (re)florestação e irrigação de terras agrícolas, e são necessárias para a conservação da natureza, biodiversidade, agricultura e produção alimentar. Contudo, o estudo atual mostra que estas medidas resistentes à seca são ineficazes contra o calor mortal e podem mesmo ser prejudiciais, apesar do facto de suavizarem as temperaturas extremamente elevadas. O efeito favorável devido a uma temperatura mais baixa é anulado pela humidade mais elevada, o que faz com que o calor se torne mais quente. As medidas eliminam assim o efeito benéfico da seca durante as ondas de calor mortíferas.
Um estudo realizado por uma equipa de cientistas (Universidade de Ghent, Universidade e Investigação de Wageningen, VITO, Universidade Loyola Marymount, e Centro Euro-Mediterrânico sobre Alterações Climáticas) sublinha mais uma vez o grande desafio de contrariar o calor e a seca cada vez mais mortais, e que medidas aparentemente eficazes contra o calor ainda podem ser contraproducentes. É portanto necessário, em primeira instância, combater o aquecimento global nas suas bases, através de reduções drásticas nas emissões de gases com efeito de estufa. Além disso, dever-se-ia reconsiderar as medidas existentes contra a seca e o calor e explorar medidas alternativas contra a seca e medidas resistentes ao calor nos sectores agrícola, alimentar e hidrológico. Dever-se-ia fazer mais em espécies vegetais mais bem adaptadas a um clima mais seco e quente. As escolhas de culturas (por exemplo, trigo ou milho) e as medidas agrícolas (por exemplo, agricultura sem plantação ou modificação genética das culturas) devem ser consideradas para uma menor utilização de água e um maior reflexo da energia solar. É necessária uma investigação mais aprofundada para saber até que ponto tais medidas são eficazes e desejáveis.
Sobre a investigação
Uma equipa de cientistas (Universidade de Ghent, Universidade e Investigação de Wageningen, VITO, Universidade Loyola Marymount, e Centro Euro-Mediterrânico sobre Alterações Climáticas) analisou ondas de calor de milhões de balões meteorológicos que foram libertados de aeroportos e institutos meteorológicos de todo o mundo durante um período de 35 anos (1981-2015). Estas medições foram combinadas com imagens de satélite e, por sua vez, utilizadas para simulações meteorológicas para avaliar o efeito da dessecação do solo durante ondas de calor mortíferas. Os resultados foram publicados hoje na revista ‘Science Advances’.
AlphaGlileo/HN/NR
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