No estudo da patologia cardiológica, a ecocardiografia tem adquirido papel preponderante, permitindo o acesso a informação de carácter morfológico e funcional, cada vez mais pormenorizado e exaustivo. A informação que obtemos, na maioria dos ecocardiogramas é adquirida com o doente em repouso. Contudo, e sendo embora de enorme valor, não nos permite compreender, de forma completa, o que se passa no aparelho cardiovascular durante a realização de esforço, quando frequentemente ocorrem sintomas em doentes cardíacos.
A utilização de sobrecarga com esforço, com realização em simultâneo de ecocardiografia, permitiu o estudo mais aprofundado de doentes cardíacos, nomeadamente dos portadores de doença coronária aterosclerótica, e, também em muitas circunstâncias, de doentes com patologia valvular, miocardiopatias, cardiopatias congénitas e crianças ou adultos com sintomas de difícil compreensão.
O emprego do esforço como forma de sobrecarga, tal como é frequentemente realizado, enferma de dificuldades várias, que passam pela avaliação efetuada apenas antes e depois do esforço, ou antes e no pico de esforço, ou seja, imediatamente antes de terminar a prova de esforço e não durante todo o exercício. Alguns centros realizam provas de esforço, em simultâneo com ecocardiografia, em cicloergómetros montados em camas especiais ou em bicicleta estática (que usamos no Heart Center quendo o doente não consegue andar em tapete rolante). Contudo, embora o ecocardiograma daí resultante seja efetuado durante o esforço, dificilmente traduz a “atividade de vida” que desencadeia a sintomatologia do doente em estudo. Deste modo considerámos fundamental o desenvolvimento de metodologia que permita, ainda que à custa de maior treino do operador, a realização do ecocardiograma de esforço durante a prova ergométrica, em tapete rolante, com o propósito de obter informação mais fidedigna sobre o que realmente ocorre durante o esforço.
Iniciamos o desenvolvimento desta técnica em 1996 e desde 2014 com uma equipe altamente diferenciada implementamos no Heart Center do Hospital Cruz Vermelha o desenvolvimento e aplicação clínica desta metodologia, em doentes com doença cardíaca coronária e não coronária.
Fomos pioneiros na metodologia e na sua aplicação inovadora em vários campos como por exemplo na pesquisa de gradientes intraventriculares induzidos pelo esforço como causa de angina de peito ou sintomas de esforço em atletas bem como no estudo dos doentes com miocardiopatia hipertrófica.
Efetuámos inúmeras apresentações em reuniões científicas nacionais e internacionais das quais referimos apenas a ultima, já aceite para publicação, que resume toda a nossa experiência:
“Cotrim CA, Café H, João I, Cotrim N, Guardado J, Cordeiro P, Cotrim H, Baquero L. Exercise stress echocardiography: Where are we now? World J Cardiol 2022; In press”
Salientamos como particularmente relevante que a ecocardiografia de esforço permite o estudo dos doentes quer adultos quer crianças, que possam fazer exercício, sem administração de fármacos, mas mais importante ainda sem utilização de radiação dando desta forma um importante contributo para a prevenção primária do cancro:
Redberg R, Smith-Bindman R. We are giving ourselves cancer. The New York Times. Available from: https://www.nytimes.com/2014/01/31/opinion/we-are-giving-ourselves-cancer.html
Foi assim com satisfação orgulho que constatámos que em 2021 e apesar da pandemia realizámos mais de 400 ecocardiogramas de esforço depois de em 2014 termos iniciado a atividade com apenas 36 estudos.
Salientamos ainda que não existe lista de espera para a realização de Ecocardiografia de Esforço no Heart Center do HCV.
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