Comprou uma garrafa de água de plástico, bebeu-a e decidiu enchê-la novamente. A reutilização de garrafas ou garrafões de plástico é uma prática corrente, mas será segura? Na Internet circulam vários mitos que relacionam a utilização de recipientes de plástico com o aumento do risco de cancro. Confirma-se?
Na verdade, não existe evidência credível de que as pessoas podem desenvolver cancro através da reutilização de garrafas de plásticos – mesmo quando o recipiente esteve sujeito a temperaturas muito frias ou elevadas. O Centro de Investigação do Reino Unido afirma que beber de garrafas de plástico ou usar recipientes ou sacos para a comida “não aumenta o risco de cancro”.
“Algumas pessoas pensam que os químicos que são encontrados nos plásticos, como bisphenol A (BPA) podem passar para a nossa comida ou bebida e causar cancro. Apesar de alguns estudos terem encontrado alguns químicos em plásticos que podem acabar em coisas que podemos comer ou beber, os níveis são baixos e dentro de um limite considerado seguro para os humanos. Isto acontece até mesmo em experiências em que os plásticos foram aquecidos por várias horas”, explica.
Também a Sociedade Canadiana de Cancro sublinha que “beber água de garrafas de plástico que foram geladas ou sobreaqueceram não aumenta o risco de cancro”. Uma das preocupações associadas a este mito é a presença de dioxinas – substâncias altamente tóxicas – na composição do plástico. A associação garante que “não existe evidência de que as garrafas de água de plástico contenham dioxinas”.
O mito da presença de dioxinas nas garrafas de água começou a ser partilhado por email e está a circular, pelo menos, desde 2002: “Não congele garrafas de água de plástico com água no interior uma vez que isso liberta dioxinas do plástico.” Este email afirma que a informação tem “circulado” pela Universidade Johns Hopkins e pelo Centro de Medicina Militar Walter Reed. No entanto, ambas as instituições negaram qualquer relação com as alegações referidas.
“Não existem dioxinas nos plásticos. Além disso, congelar na verdade funciona contra a libertação de químicos. Os químicos não se difundem tão facilmente em temperaturas frias, o que limitaria a libertação de químicos se houvesse dioxinas no plástico, o que não acreditamos que existam”.
Rolf Halden sublinhou ainda que “as pessoas deviam estar mais preocupadas com a qualidade da água que estão a beber do que com o recipiente em que vem”, referindo que, nos Estados Unidos, a água da torneira é mais regulamentada e monitorizada do que a água engarrafada.
Em Portugal, “98,65% da água que chega às torneiras dos consumidores é controlada e de boa qualidade”, garante a Águas de Portugal citando o relatório da Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos. Segundo dados de 2019, apenas um município apresentou níveis insatisfatórios sobre a qualidade de água: Mira (distrito de Coimbra), onde a água segura corresponde a 93,96%.
Apesar de ser possível reutilizar garrafas de água descartáveis, é necessário ter em conta alguns cuidados, nomeadamente ao nível da limpeza dos recipientes: “Usar garrafas de água de plástico mais de uma vez pode ser prejudicial se não forem limpas e secas devidamente ou se as deixarmos em áreas quentes onde germes nocivos podem crescer. Estes germes podem fazê-lo ficar doente, causando vómitos ou diarreia”, alerta a Sociedade Canadiana do Cancro. Este cuidado deve ser tido para todos os tipos de recipientes e não apenas para os de plástico.
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