As garrafas de água de plástico libertam substâncias cancerígenas quando são reutilizadas? Não é verdade

17 de Março 2022

Comprou uma garrafa de água de plástico, bebeu-a e decidiu enchê-la novamente. A reutilização de garrafas ou garrafões de plástico é uma prática corrente, mas será segura? Na Internet circulam […]

Comprou uma garrafa de água de plástico, bebeu-a e decidiu enchê-la novamente. A reutilização de garrafas ou garrafões de plástico é uma prática corrente, mas será segura? Na Internet circulam vários mitos que relacionam a utilização de recipientes de plástico com o aumento do risco de cancro. Confirma-se?

Na verdade, não existe evidência credível de que as pessoas podem desenvolver cancro através da reutilização de garrafas de plásticos – mesmo quando o recipiente esteve sujeito a temperaturas muito frias ou elevadas. O Centro de Investigação do Reino Unido afirma que beber de garrafas de plástico ou usar recipientes ou sacos para a comida “não aumenta o risco de cancro”.

“Algumas pessoas pensam que os químicos que são encontrados nos plásticos, como bisphenol A (BPA) podem passar para a nossa comida ou bebida e causar cancro. Apesar de alguns estudos terem encontrado alguns químicos em plásticos que podem acabar em coisas que podemos comer ou beber, os níveis são baixos e dentro de um limite considerado seguro para os humanos. Isto acontece até mesmo em experiências em que os plásticos foram aquecidos por várias horas”, explica.

Também a Sociedade Canadiana de Cancro sublinha que “beber água de garrafas de plástico que foram geladas ou sobreaqueceram não aumenta o risco de cancro”. Uma das preocupações associadas a este mito é a presença de dioxinas – substâncias altamente tóxicas – na composição do plástico. A associação garante que “não existe evidência de que as garrafas de água de plástico contenham dioxinas”.

mito da presença de dioxinas nas garrafas de água começou a ser partilhado por email e está a circular, pelo menos, desde 2002: “Não congele garrafas de água de plástico com água no interior uma vez que isso liberta dioxinas do plástico.” Este email afirma que a informação tem “circulado” pela Universidade Johns Hopkins e pelo Centro de Medicina Militar Walter Reed. No entanto, ambas as instituições negaram qualquer relação com as alegações referidas.

Em 2004, o professor Rolf Halden, que, na altura, pertencia ao departamento de Ciências da Saúde Ambiental e do Centro para a Água e Saúde da Universidade Johns Hopkins, desmistificou a informação presente no email – considerando-a “uma lenda urbana”: “Não existem dioxinas nos plásticos. Além disso, congelar na verdade funciona contra a libertação de químicos. Os químicos não se difundem tão facilmente em temperaturas frias, o que limitaria a libertação de químicos se houvesse dioxinas no plástico, o que não acreditamos que existam.”

“Não existem dioxinas nos plásticos. Além disso, congelar na verdade funciona contra a libertação de químicos. Os químicos não se difundem tão facilmente em temperaturas frias, o que limitaria a libertação de químicos se houvesse dioxinas no plástico, o que não acreditamos que existam”.

Rolf Halden sublinhou ainda que “as pessoas deviam estar mais preocupadas com a qualidade da água que estão a beber do que com o recipiente em que vem”, referindo que, nos Estados Unidos, a água da torneira é mais regulamentada e monitorizada do que a água engarrafada.

Em Portugal, “98,65% da água que chega às torneiras dos consumidores é controlada e de boa qualidade”, garante a Águas de Portugal citando o relatório da Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos. Segundo dados de 2019, apenas um município apresentou níveis insatisfatórios sobre a qualidade de água: Mira (distrito de Coimbra), onde a água segura corresponde a 93,96%.

Apesar de ser possível reutilizar garrafas de água descartáveis, é necessário ter em conta alguns cuidados, nomeadamente ao nível da limpeza dos recipientes: “Usar garrafas de água de plástico mais de uma vez pode ser prejudicial se não forem limpas e secas devidamente ou se as deixarmos em áreas quentes onde germes nocivos podem crescer. Estes germes podem fazê-lo ficar doente, causando vómitos ou diarreia”, alerta a Sociedade Canadiana do Cancro. Este cuidado deve ser tido para todos os tipos de recipientes e não apenas para os de plástico.

 

Texto publicado ao abrigo da parceria entre a plataforma de Fact Checking Viral-Check e o Heathnews.pt

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