“Glúten free” e “sem lactose”. Se não tem intolerâncias, a sua dieta não beneficia com estes alimentos

4 de Abril 2022

Estão muitas vezes nas zonas de produtos saudáveis dos supermercados. Nas embalagens pode ler-se “glúten free” (sem glúten, em português) ou “sem lactose”. Para quem tem intolerâncias, alergias ou sensibilidades estas opções são as mais indicadas. Mas para quem não tem? Serão estes alimentos mais saudáveis?

A lactose e o glúten são muito diferentes. Enquanto o glúten é uma proteína de origem vegetal, a lactose é um dissacarídeo que existe no leite – ou seja, é um açúcar composto por glucose e galactose. No caso do glúten, há pessoas que têm alergia à proteína – denominada por doença celíaca – ou desenvolvem sensibilidades perante a sua ingestão; para a lactose há também casos de intolerância associados à não produção da ou produção em pequenas quantidades enzima lactase, responsável pela decomposição do dissacarídeo presente no leite.

Alimentos “sem lactose” são mais saudáveis?

Para quem não tem intolerância, os alimentos sem lactose não são mais saudáveis. Mas também não são menos. Filipa Vicente, nutricionista e professora auxiliar do Instituto Egas Moniz, explica ao Viral que o processamento para retirar a lactose “conseguem conservar uma parte significativa do valor nutritivo do produto original”. Há produtos derivados do leite – como o iogurte, o kefir e o queijo – que apresentam nível reduzidos de lactose mesmo sem haver um cuidado específico para retirar este dissacarídeo.

Como mamífero, os seres humanos estão preparados para tolerar o consumo do leite durante a fase lactante (em bebés). Uma vez que a ingestão de leite se mantém durante a idade adulta, o “corpo continua a produzir a beta-galactosidase no intestino que assegura a digestibilidade” da lactose, explica a nutricionista.

“Salvo se houver algum percalço, o Homem pode beber leite durante a vida toda nas quantidades de uma alimentação saudável que não vai ter prejuízo na saúde.”. Esse percalço poderá ter o nome de intolerância à lactose. Nesses casos, as opções sem lactose são as mais aconselhadas. “Se não houver intolerância, não há necessidade de evitar” estes produtos, conclui.

José Camolas, vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e no Instituto Egas Moniz, destaca que, caso o indivíduo não tenha intolerância à lactose, “não tem nenhum benefício em beber leite sem lactose”. No entanto, “em bom da verdade, também não tem nenhum prejuízo especial”, acrescenta.

Escolher “glúten free” é uma melhor opção?

No caso do glúten a situação é ligeiramente diferente. Se optar for por alimentos que não contenham glúten por não terem trigo, cevada ou centeio na sua composição, não irá encontrar grandes problemas. No entanto, se escolher alimentos processados que são identificados como “glúten free” pode estar a fazer subir o nível de gordura da sua dieta.

José Camolas destaca que os alimentos rotulados como “glúten free” são “com frequência mais ricos em gordura” e “algumas vezes mais pobres em algumas vitaminas e minerais”. “Não estou a referir-me a deixar de comer cereais de trigo e começar a comer cereais de milho ou aveia. Estou a falar de alimentos processados: quando a deriva vai nesse sentido e só se escolhe ‘glúten free’, aparentemente, o que acontece é que a dieta desses indivíduos piora de qualidade”, explica.

“Nesse sentido tornar-se-ia mais prejudicial. Não por não ter glúten, mas porque as opções alimentares ‘glúten free’, com alguma frequência, são menos equilibradas do que a opção original.”

Também Filipa Vicente deixa o mesmo alerta: “Os produtos que usam no seu rótulo a alegação ‘glúten free’ como forma de publicidade são nutricionalmente menos interessantes. Um consumidor informado pode e deve consultar a lista de ingredientes assim como estar vigilante sobre a forma como aquele produto é fabricado.”

Se pretender reduzir o consumo de glúten sem optar por alimentos processados, poderá aumentar a quantidade de leguminosas – uma a duas porções por dia de feijão, grão, lentilhas, entre outros – ingerir mais tubérculos – batata, batata-doce ou inhame – ou até pseudocereais – como, por exemplo, o amaranto –, sugere a nutricionista. “São excelentes opções, não por serem isentos de glúten, mas pela variedade e riqueza nutricional que estamos a adicionar.”

Texto publicado ao abrigo da parceria entre a plataforma de Fact Checking Viral-Check e o Heathnews.pt

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