“Num ano em que nós fizemos mais cirurgias, num ano em que nós fizemos todo o esforço para recuperar, sinceramente surpreendeu-nos termos menos SIGIC [Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia] do que tínhamos no ano anterior”, confessou o presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP). “(…) o SIGIC, portanto, esta colaboração que nos é pedida pelo Ministério da Saúde no combate às listas de espera, cada vez é mais marginal na nossa atividade, e não é por vontade própria”, acrescentou. Mais concretamente, em 2021, o Estado recorreu aos privados para reduzir as listas de espera na cirurgia em menos 10% do que no ano anterior.
Na apresentação dos resultados de 2021, o presidente da APHP garantiu que os hospitais privados mostraram disponibilidade para cuidar dos doentes, mas no público houve cirurgias “internalizadas” e, “por outro lado, algumas terão sido feitas por outras entidades”.
Nos hospitais privados, o caminho fez-se no sentido de recuperar os atrasos causados pela propagação da Covid-19. “(…) recuperámos aquilo que não tinha sido feito em 2020 e ainda acrescentámos muitos atos clínicos de diagnóstico”, revelou Óscar Gaspar.
No ano passado, o investimento ultrapassou os 150 milhões de euros, canalizados para a construção de novos hospitais e aquisição de equipamentos e tecnologia. E o investimento é para continuar, assegurou o presidente da APHP. “Nós temos disponibilidade” e “capacidade para continuar a investir na oferta de saúde aos portugueses”, disse, depois de relembrar que os hospitais privados “têm vindo a intensificar a sua malha no país” e de enumerar lugares que acolheram recentemente hospitais privados.
“À data de hoje, em abril de 2022, o nosso objetivo é esse: é continuarmos a investir, continuarmos a dotar o país de mais capacidade em termos de respostas de saúde, porque sabemos que as necessidades de saúde têm aumentado e vão continuar a aumentar”, sintetizou. E este investimento engloba edifícios, equipamentos, capacitação técnica e científica e recursos humanos.
Para Óscar Gaspar, deve avançar-se “de forma muito firme” para a transição digital; porém, esta deve ser uma aposta de todos, pois “a transição digital não funcionará se não incluir todas as entidades que funcionam no sistema”. “(…) se faltam dados, se falta informação, depois a decisão não pode ser uma decisão correta”, justificou. E reforçou: “essa questão da interoperabilidade e da transmissão segura dos dados, do meu ponto de vista, é muito importante”.
Em resposta aos jornalistas, que puderam colocar questões no final da apresentação dos números, Óscar Gaspar disse ser uma fragilidade “muito grande” ver o SNS e os privados em polos opostos e lamentou que tal aconteça em Portugal. “Também por isso é que nós, quando analisámos o PRR e constatámos que havia 1.380 milhões de euros para a saúde, especificamente para o SNS, e dentro destes milhões havia 300 milhões para a transição digital, alertámos em devido tempo que a transição digital deve ser de todo o sistema de saúde e não apenas do SNS, porque hoje em dia aquilo que é normal é um cidadão percorrer as diversas instituições”, afirmou.
Os 129 hospitais que Óscar Gaspar representa foram responsáveis por 8.286.932 consultas, 995 mil urgências e por 222 mil grandes e médias cirurgias. Ainda em 2021, foram feitos cerca de um milhão e trezentos mil raios x, quase um milhão e meio de ecografias, mais de 500 mil TACs e 361 mil ressonâncias magnéticas. Comparativamente a 2020, são mais 32% de raios x, mais 34% de ecografias, mais 40% de TACs e mais 36% de ressonâncias magnéticas. Houve também um aumento nos atos médicos: mais 30% de consultas de especialidade, mais 25% de cirurgias e mais 18% de urgências. Estas últimas ainda não atingiram o nível de 2019. Também se verificou um crescimento no número de partos, que foram 12.218 em 2021. Além disso, registaram 611 mil diárias de internamento, atenderam 145.821 utentes em medicina dentária e acompanharam mais de 16 mil doentes oncológicos durante o ano passado.
Os hospitais privados reúnem 16.500 médicos, 9.000 enfermeiros, 6.700 auxiliares de ação médica, 3.447 técnicos e 4.663 administrativos; têm 210 camas de cuidados intermédios e intensivos, 182 blocos cirúrgicos, 3.174 consultórios médicos e 222 cadeiras dentárias, e 380 equipamentos de ecografias, 99 equipamentos de raio x, 54 TACs e 51 equipamentos de ressonância magnética. “A legislação sobre os equipamentos médicos pesados e a legislação sobre o licenciamento são os dois constrangimentos maiores em termos legais e regulamentares” que estes hospitais enfrentam, de acordo com o presidente da APHP.
Mais de cinco milhões de portugueses têm um seguro privado de saúde ou um subsistema de saúde. Os primeiros ultrapassam os três milhões.
HN/Rita Antunes
0 Comments