HealthNews (HN)- A asma é uma das doenças crónicas mais comuns e com maior aumento de incidência nos últimos trinta anos. Quais os principais tipos de asma e quais os com maior impacto na qualidade de vida?
Ana Mendes (AM)- Podemos definir a asma perante a gravidade ou origem da mesma. Podemos ter asmas alérgicas e asmas que não têm nada a ver com alergias. De qualquer forma, todas resultam da inflamação dos brônquios (algumas são ligeiras, outras moderadas ou graves).
A asma pode ter forte impacto na vida das pessoas. Quanto mais grave, maior o impacto. De facto, estes doentes têm maior dificuldade em conseguir controlar os sintomas. No entanto, uma asma mesmo não sendo grave, se não for acompanhada adequadamente e se não for feita a medicação como deve de ser, pode ter realmente um forte impacto na vida da pessoa, pois pode ter queixas e sintomas que a impeçam de realizar tarefas do dia a dia.
HN- Mais de 70% dos doentes com asma grave não conseguem controlar adequadamente os sintomas. O que está a falhar no acompanhamento dos doentes?
AM- Penso que o principal fator é a falta de perceção de que a asma é uma doença crónica e que a medicação tem que ser feita regularmente. Por ser uma patologia em que as crises se manifestam em períodos em que a pessoa está mais sintomática, às vezes existe uma tendência para pensar que é uma doença que vai e volta. É importante frisar que a asma é uma doença crónica e caso a pessoa não faça a medicação, torna-se mais difícil controlar a asma. Esta falta de perceção ocorre a nível dos doentes, mas também a nível da própria classe médica. A asma tem que ser tratada, acompanhada e ajustada… A forma como a doença se manifesta pode nem ser sempre idêntica ao longo da vida.
HN- Estima-se que quatro em cada dez doentes sejam internados anualmente devido a uma crise respiratória. Qual a importância de respostas multidisciplinares no tratamento dos doentes com asma grave?
AM- A asma grave é mais difícil de controlar e muitas vezes é acompanhada por efeitos secundários devido à medicação mais elevada. Até há pouco tempo, a única alternativa eram os corticóides sistémicos que acabavam por provocar outras doenças. Um dos efeitos secundários deste tipo de medicação é o aumento de peso, o que significa que o doente vai precisar de apoio nutricional e psicológico. Por outro lado, é importante que seja garantido o acompanhamento das tomas da medicação.
O mesmo mecanismo que conduz à inflamação bronquica na asma, pode conduzir a outras doenças, tais como rinossinusites crónicas ou dermatite atópica. Portanto, a abordagem multidisciplinar vai facilitar o tratamento.
HN- As infeções respiratórias têm uma grande ligação com as agudizações da asma e têm sido relacionadas com a asma grave. Qual o papel das vacinas?
AM- As infeções virais são o principal fator de desencadeamento de crises, portanto as vacinas vão diminuir não só o número de infeções, mas também a gravidade das mesmas.
HN- Um estudo realizado pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto indica que as vacinas antialérgicas podem diminuir risco de crianças desenvolverem asma. Estes resultados podem representar uma nova janela de oportunidade para a prevenção da doença?
AM- As vacinas antialérgicas não são bem vacinas, mas sim tratamentos de dessensibilização. Estas vacinas podem ser uma mais-valia para os casos de asmas ou rinites que tenham uma origem alérgica. Ao tratar a alergia na pessoa que é alérgica, vamos eliminar o principal fator de provocação da inflamação e, portanto, vamos ter um melhor prognóstico e uma diminuição da probabilidade de termos uma asma mais grave.
HN- Uma vida sem exacerbações e de total controlo dos sintomas é ainda uma “miragem” para estes doentes?
AM- Não. Acho que é um objetivo perfeitamente alcançável. As terapêuticas biológicas permitiram um melhor tratamento dos doentes mais graves (sem crises, sem sintomas e com uma vida normal).
HN- Que mensagem gostaria de deixar para o Dia Mundial da Asma?
AM- A asma é uma doença que necessita de um acompanhamento periódico e de medicação diária. É essencial que os doentes e os médicos que os acompanham percebam este caráter crónico da doença e que o tratamento se faz para prevenir as crises, perda de função e não para tratar sintomas que apareçam de vezes em quando.
Entrevista de Vaishaly Camões
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