HealthNews (HN)- Ainda subsiste algum desconhecimento sobre o que é e quais as manifestações das DII. Do que se trata?
Ana Sampaio (AS)- Trata-se de duas doenças: a doença de Crohn e Colite Ulcerosa. Estas duas patologias afetam o foro intestinal. Têm alguns sintomas em comum e algumas diferenças.
A doença de Crohn pode ir atingir qualquer parte do segmento digestivo, comprometendo principalmente a saúde do intestino delgado. Os sintomas passam por: diarreias, dor abdominal, febre e perda de peso.
No caso da Colite Ulcerosa, esta patologia afeta o intestino grosso. Os doentes podem apresentar diarreias com sangue.
HN- Nos últimos anos a prevalência tem aumentado, atingindo desde crianças até idosos. Quais os principais fatores que podem explicar esta realidade?
AS- Ainda não sabemos muito bem, mas sabemos que deverá haver por parte destas pessoas alguma predisposição genética, podendo ser despoletado por algum fator ambiental. Há também quem levante a hipótese de que estas doenças possam ser provocadas pela excessiva toma de antibióticos e anti-inflamatórios.
O facto de a prevalência em crianças de ter vindo a aumentar faz com que aumente o interesse em perceber a causa da doença para que um dia mais tarde se possa prevenir o próprio aparecimento da doença.
HN- Qual o impacto dos hábitos tabágicos e da alimentação?
AS- No caso da doença de Crohn, há estudos que comprovam que o tabaco é realmente um fator que agrava bastante o quadro clínico dos doentes.
No caso da Colite Ulcerosa também não é aconselhado o tabaco, pois apesar de ter algum efeito protetor pode provocar outras doenças graves.
A doença inflamatória do intestino não se trata pela alimentação. Por ser uma doença do trato digestivo, muitas pessoas associam à alimentação. Esta pode aliviar alguns sintomas em fase de crise, mas não trata a doença.
HN- Apesar de a Doença Inflamatória do Intestino não apresentar uma elevada mortalidade, está associada a índices de morbilidade significativos. Como é que os doentes vivem esta doença?
AS- É uma doença que limita bastante a qualidade de vida dos doentes. Há muitas pessoas que precisam de recorrer frequentemente à casa de banho, portanto para estas pessoas é difícil estar num espaço em que não tenham acesso à casa de banho. Há outras manifestações que acabam por limitar as pessoas, como é o caso de problemas nas articulações, nos olhos e na pele.
Apesar de ser uma doença bastante limitativa, se os doentes forem acompanhados pelo médico e aderirem à terapêutica podem ter uma qualidade de vida semelhante às pessoas que não têm a doença.
HN- Um estudo de 2020 analisou o custo da doença em Portugal e estima que se gastem mais de seis mil euros por doente. Que tipo de medidas poderiam fazer com que estes custos diminuíssem?
AS- Um tipo de medida que pode fazer com que isto diminua é identificar-se o tratamento adequado para cada doente. Muitas vezes o que acontece é que estes doentes, por um lado, têm dificuldade em ter a sua primeira consulta de especialidade e, por outro lado, têm dificuldade de encontrar o tratamento adequado.
Penso que se fosse diagnosticada mais cedo a doença e iniciada a terapêutica precocemente ficaria mais barato ao SNS tratar estes doentes.
HN- A Associação Portuguesa da Doença Inflamatória do Intestino (APDI) tem promovido desde dia 5 de maio um conjunto de sessões online sob o tema o lema: “A DII não tem idade”. Qual a importância deste tipo de iniciativas?
AS- É uma iniciativa europeia em que se pretende demonstrar que a doença inflamatória do intestino pode surgir em qualquer altura da vida. É preciso entender que estes doentes podem ter necessidades diferentes ao longo da vida. Uma criança tem uma necessidade diferente de um adolescente, diferente do adulto ou até mesmo da pessoa mais sénior. As necessidades devem ajustadas à faixa etária do doente.
Entrevista de Vaishaly Camões
Obrigada.
Eu sou brasileira, meu filho tem crohns,. Gostaria de saber se existe algum apoio psicológico gratuito.