Se o doente se queixar de cãimbras, inchaço, prurido, sensação de “pernas pesadas” ou de “má circulação”, em determinadas áreas do membro inferior, então poderemos estar perante um quadro de dor vascular.
A dor vascular instala-se quando há obliteração aguda ou crónica do fluxo sanguíneo. É o sintoma clínico mais importante e transversal a todas as patologias do foro vascular.
Pode ser aguda ou crónica, intermitente ou contínua – dependendo do tipo e gravidade do quadro -, ter características mistas com componente nociceptivo e neuropático, estar associada a descriptores como dormência, fraqueza ou formigueiro. A relação com o esforço deve ser sempre avaliada visto ser indicador de gravidade com impacto no prognóstico e na terapêutica mais adequada.
A causa da dor nem sempre é clara – são várias as patologias que podem levar à instalação da dor vascular e importa distinguir as causas arteriais e as venosas uma vez que o tratamento e prognóstico são distintos.
Patologia arterial | ||
Orgânica | Funcional | |
Isquémia arterial crónica | Ateroslcerose | Raynaud |
Tromboangeíte obliterante | ||
Síndrome compartimental | ||
Isquémia arterial aguda | Embolia arterial | Eritromelalgia |
Trombose | ||
Traumatismo vascular | ||
Aneurismas periféricos complicados |
A aterosclerose é a cabeça-de-cartaz quando nos referimos a dor arterial periférica (DAP), afectando cerca de 15-20% dos indivíduos com mais de 70anos e constitui a principal causa de isquémia periférica.
O controlo da dor isquémica permite prevenir ou a limitar a extensão da perda do membro, facilita a mobilização e os exercícios que visam manter a perfusão distal e também ajuda a paliar os sintomas quando a revascularização cirúrgica não é possível.
Além da adopção de medidas higiénico-dietéticas com controlo do factores de risco cardiovasculares, do recurso a fármacos antiagreagantes, anticoagulantes, fibrinolíticos, prostanóides e analgésicos ditos convencionais, estão disponíveis algumas técnicas invasivas que podem atrasar ou até mesmo evitar o tratamento cirúrgico. Exemplos são o bloqueio simpático epidural, a simpatectomia química ou por radiofrequência e ainda a possibilidade de neuroestimulação medular.
Não menos dolorosa é a dor venosa – consequência da insuficiência venosa crónica (IVC) que surge da obstrução mecânica ou incompetência valvular do sistema venoso superficial e profundo do membro inferior.
O espectro de apresentação da IVC inicia-se com o aparecimento de aranhas vasculares e veias reticulares que, por sua vez, progridem para veias varicosas, seguindo-se instalação de edema com estase e ulceração venosa.
A base do tratamento inicial para IVC associada dor é, também, a prevenção da doença com modificação do estilo de vida.
A abordagem conservadora visa restaurar a função fisiológica venosa através da elevação das pernas, exercício físico regular e utilização de dispositivos de compressão. Quando esta falha, a abordagem médica pode ser um adjuvante eficaz recorrendo a agentes farmacológicos vasoativos (flavonóides, extractos de folha de videira vermelha) e reológicos(pentoxifilina),
Os recentes procedimentos vasculares minimamente invasivos – como a ablação térmica endovenosa por laser ou radiofrequência, a escleroterapia com espuma ou líquido e, ainda a embolização com cianoacrilato – ao evitarem a abordagem cirúrgica, contribuem para um maior conforto e elevada satisfação do doente, menor taxa de complicações e recuperação mais rápida.
Melhores vasos, melhor controlo da dor, melhor qualidade de vida.
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