A gripe pode ser uma doença grave, obrigando a internamento, podendo mesmo ser fatal em alguns casos, particularmente nas pessoas mais vulneráveis, como é o caso da população idosa (devido à imunosenescência – nome dado ao envelhecimento do sistema imunitário) e nas pessoas de qualquer idade com certas patologias crónicas como a doença cardiovascular.
Porém, estes não são os únicos casos que requerem especial atenção – a Direção Geral de Saúde recomenda a vacinação para os seguintes grupos prioritários: pessoas com idade igual ou superior a 65 anos; doentes crónicos e imunodeprimidos, com 6 ou mais meses de idade (inclui, entre outros, pessoas com obesidade, diabetes, doença pulmonar obstrutiva crónica, doenças cardíacas, insuficiência renal crónica, hepatite crónica e recetores de transplante de órgão sólido ou de medula óssea); grávidas; profissionais de saúde e outros prestadores de cuidados. A vacina também é recomendada para as pessoas com idade entre os 60 e os 64 anos, e deve ser administrada, de preferência, até ao fim do ano civil.
A maioria das pessoas que contrai a gripe recupera em poucos dias, mas algumas desenvolvem complicações, como a pneumonia, e em outros casos, verifica-se um agravamento das doenças crónicas de que são portadores, como a asma, a bronquite crónica ou a insuficiência cardíaca. Além disso, estudos internacionais indicam que o risco de sofrer um enfarte agudo do miocárdio é 10 vezes superior nos dias seguintes à infeção pelo vírus influenza e o risco de sofrer um AVC é oito vezes superior nos dias a seguir, mesmo em pessoas saudáveis.
Um estudo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge estima que, em Portugal, nas épocas 2014/15 a 2016/17, a vacinação contra a gripe evitou 1 833 internamentos e 383 mortes por época; evitou 21% dos internamentos por gripe e 29% das mortes nas pessoas com 65 ou mais anos de idade; e evitou, ainda, 18,5% dos internamentos e 19,5% das mortes nas pessoas com doenças crónicas e menos de 65 anos de idade.
Por isto, torna-se claro que a vacinação anual é a melhor forma de prevenir a gripe, bem como de reduzir o risco das suas complicações, potencialmente graves, e que permanecem ainda desconhecidas por parte de muitos portugueses. Para além de ser a melhor ferramenta preventiva para o doente, a imunização também pode vir a diminuir o impacto e a pressão sobre o SNS, bem como os seus custos.
Segundo o estudo BARI – Burden of Acute Respiratory Infections – que analisou o impacto das hospitalizações diretamente atribuíveis à gripe em Portugal, na perspetiva do sistema público de saúde, ao longo de 10 épocas gripais (2008/09-2017/18) – o Serviço Nacional de Saúde tem encargos médios anuais de 3,9 milhões de euros diretamente atribuíveis às hospitalizações por gripe, dos quais 47% gerados pela população com 65 ou mais anos de idade.
É reconhecido mundialmente que a imunização é o principal meio para a prevenção primária de doenças e uma das medidas de saúde pública mais custo-efetiva. Como já foi referido, sabendo o impacto da gripe na saúde dos cidadãos, bem como a pressão e os gastos que impõe no SNS, e tendo em conta a pandemia que ainda estamos a viver, a imunização contra a gripe é mais importante do que nunca para aliviar o sistema de saúde.
É fundamental, por isso, continuar a transmitir a importância da prevenção da gripe todos os anos, bem como de atuar de forma preventiva para reforçar a sustentabilidade da saúde pública e dos sistemas de saúde.
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