O PADAF é composto por sete pilares “que requerem atenção e ação”, nomeadamente a agricultura familiar nas políticas públicas, os jovens e a sustentabilidade geracional da agricultura familiar, a equidade de género e a liderança das mulheres rurais, o conhecimento e representatividade dos agricultores familiares, o bem-estar social e económico dos agricultores e suas famílias, a agricultura familiar como fonte de sustentabilidade nos sistemas alimentares resilientes às alterações climáticas e a inovação na agricultura familiar ao serviço do desenvolvimento territorial, biodiversidade, meio-ambiente e cultura.
Esta proposta surge de uma parceria entre a organização não-governamental (ONG) Actuar, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural e a Escola Superior Agrária de Viseu.
Através deste plano pretende-se que, até 2030, Portugal tenha uma agricultura familiar “fortalecida organizacionalmente e vinculada aos mercados”.
Entre os resultados previstos encontram-se quadros regulatórios e político-institucionais da agricultura familiar “fortalecidos”, sistemas alimentares sustentáveis, a presença da agricultura familiar nos mercados local, nacional e internacional, “com produtos diferenciados e alimentos de valor nutricional, social e cultural”, inclusão económica de mulheres e jovens, desenvolvimento de competências que respeitem os saberes tradicionais, bem-estar social e económico para as famílias que operam neste setor.
Para cada um dos desafios apontados no PADAF é proposto um conjunto de ações de mitigação.
Por exemplo, para garantir a soberania e segurança alimentar e nutricional e o resgate cultural dos produtos da agricultura familiar é sugerida a articulação do Programa Operacional de Apoios às Pessoas Mais Carenciadas (POAPMC) com cabazes compostos por produtos da agricultura familiar, “com preferência a produtos frescos e locais e redução dos produtos processados”, resgatar e valorizar elementos culturais, onde se inclui a gastronomia, e disseminar os valor da dieta mediterrânica.
Já para fortalecer o quadro legal e político-institucional da agricultura familiar é proposta a criação de legislação que favoreça o setor, assegure o acesso a créditos e seguros e a flexibilização das exigências fiscais.
Adicionalmente, devem ser agilizados os critérios para a atribuição do Estatuto da Agricultura Familiar (EAF), “por forma a aproximar o número de estatutos atribuídos aos valores dos indicadores quanto ao número de explorações agrícolas familiares existentes em Portugal”, bem como operacionalizar este estatuto para “contribuir com a classificação e geração de informações para o desenvolvimento de políticas diferenciadas”.
Citada numa nota enviada à Lusa, a presidente da Actuar, que lidera esta parceria, Júlia Alves, defendeu que o plano representa a “reparação de uma injustiça com os agricultores familiares e as suas comunidades, mas também com todos os consumidores”.
Para esta responsável, o “direito humano à alimentação só será cumprido se forem disponibilizados às populações alimentos saudáveis, produzidos de forma sustentável e socialmente justa”.
Por sua vez, o dirigente da CNA Alfredo Campos defendeu que a imagem “negativa e redutora” que foi criada sobre este setor “está desatualizada e as políticas públicas continuam a não dar a devida e necessária atenção”.
A CNA vincou ainda que o setor precisa de ser “reconhecido, valorizado e apoiado”, acrescentando que com a produção da agricultura familiar “reduz-se a importação e reforça-se a soberania alimentar”.
De acordo com dados do recenseamento agrícola de 2019 e do Instituto Nacional de Estatística (INE), a agricultura familiar representa mais de 90% da agricultura mundial e produz 80% dos alimentos do mundo, contabilizando-se mais de 500 milhões de agricultores familiares.
Quase 70% do volume de trabalho agrícola é efetuado pela população agrícola familiar, sendo que na União Europeia essa percentagem ultrapassa os 75%.
Em Portugal, 13% dos agricultores trabalham a tempo completo e cerca de dois terços ocupam menos de metade do tempo de trabalho na exploração.
A grande maioria (94,5%) das explorações agrícolas continua a ser gerida por produtores singulares e a representatividade das mulheres à frente das explorações é de 33,3%, acima da média europeia (30,1%).
A média de idades dos produtores agrícolas é de 64,3 anos, sendo que a média da União Europeia é de 58 anos.
Os contributos para esta proposta podem ser enviados para geral@actuar-acd.org ou através de um formulário criado para o efeito.
LUSA/HN
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