HealthNews (HN)- O que é que vai abordar no simpósio?
Alexandra Machado (AM)- O que eu vou abordar no simpósio é o que é que nós sabemos hoje sobre a aplicação clínica das células estaminais do cordão umbilical e quais são as perspetivas futuras, ou seja, o que é que a comunidade médica e a comunidade científica estão a preparar para o futuro. Isto diz respeito à investigação, ao desenvolvimento de técnicas e ao desenvolvimento de ensaios clínicos que vão permitir novas e melhores aplicações clínicas. Já sabemos muito e já aplicamos.
O que é que fazemos com essas células, quantos tratamentos fazemos, que tipo de tratamentos fazemos, qual a utilização que damos a essas células e o que estamos a preparar para o futuro – em traços gerais, é disto que vou falar.
HN- O desenvolvimento da investigação tem tornado esta discussão cada vez mais importante?
AM- Sim, este é um tema cada vez mais importante, e o interesse tem aumentado em todas as áreas, quer nas pessoas que só investigam, que trabalham em laboratório, quer nos médicos. Portanto, naqueles que, como nós, se interessem em dar opções terapêuticas cada vez mais eficazes e mais seguras para doenças que continuam sem ou com poucas opções.
É um debate cada vez mais interessante, porque cada vez sabemos mais, cada vez aplicamos mais e cada vez há mais pessoas interessadas, a todos os níveis, nesta área.
HN- O que podemos esperar desta área no futuro próximo?
AM- Hoje, a maioria das aplicações clínicas das células estaminais de cordão umbilical tem a ver com as células estaminais do sangue do cordão umbilical, e não tanto com as células estaminais do tecido do próprio cordão. As metodologias que se estão a desenvolver no âmbito da medicina regenerativa e no âmbito de melhorarmos algumas condições – e tem havido muito desenvolvimento nos últimos dois anos –, a aplicação destas células… penso que é o mais interessante e o que despertará mais a atenção da audiência.
Sabemos que as células estaminais do cordão umbilical, a que nós chamamos células mesenquimais, têm propriedades muito específicas e diferentes das contidas no cordão. Mais especificamente, propriedades de imunomodulação – capacidade de conseguir ultrapassar reações muito exacerbadas do nosso organismo a nível imunológico e a nível inflamatório. É por isso que já sabemos que elas podem ser usadas no contexto de alguns tratamentos, nomeadamente dos doentes que são submetidos a transplantes com células estaminais hematopoiéticas, ou seja, células estaminais do sangue, que até podem provir do sangue do cordão umbilical. Essas pessoas podem desenvolver, durante a sua recuperação, complicações muito graves, e se nós administrarmos conjuntamente estas células mesenquimais, podemos ultrapassar esse tipo de reações.
Por outro lado, sabemos que estas células estaminais mesenquimais já têm sido utilizadas, com desenvolvimentos clínicos muito favoráveis para os doentes, em doenças autoimunes e noutro tipo de doentes muito graves, como, por exemplo, doentes internados com pneumonias muito graves, ventilados, muito críticos, nomeadamente com pneumonia a SARS-CoV-2. Alguns destes doentes, pelo mundo fora e ao longo destes dois anos, receberam estas células, e a Crioestaminal desenvolveu um produto baseado nas células desenvolvidas em laboratório que brevemente estará disponível para utilização em ensaio clínico em Portugal. E isso é muito importante, que possamos resolver ou dar uma solução a estes doentes.
HN- O que é que destacaria do trabalho que estão a desenvolver na Crioestaminal?
AM- A Crioestaminal tem a sua rotina diária, que se destina a preservar células estaminais do cordão umbilical (sangue e tecido), para que ele possa ser eventualmente utilizado mais tarde, se houver necessidade disso. Eu ressalvo sempre que nós esperamos que nunca venha a ser utilizado.
Paralelamente, a Crioestaminal investe há muitos anos em investigação e desenvolvimento, nomeadamente na condução de ensaios clínicos e investigação. Este trabalho tem permitido o registo de patentes e o desenvolvimento de soluções baseadas em células estaminais, por exemplo para o tratamento de feridas crónicas como as do pé diabético. A Crioestaminal tem também em desenvolvimento e para implementação vários ensaios clínicos que se destinam a doentes com AVC, a recém-nascidos que têm problemas de anoxia ou de hipóxia à nascença e, também, um ensaio clínico, como acabei de mencionar, relativo à aplicação das células estaminais mesenquimais para doentes críticos e ventilados com pneumonias graves.
Entrevista de Rita Antunes
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