Especialistas defendem que luta contra Covid-19 e Monkeypox requer “mudança radical”

16 de Julho 2022

A Associação Europeia das Escolas de Saúde Pública considera que a luta contra vírus como o SARS-Cov-2 e o Monkeypox requer uma “mudança radical”, defendendo um “programa robusto” de contenção de agentes infecciosos emergentes para todos os países.

“A atual abordagem da comunidade internacional parece ser esperar que a transmissão ocorra numa escala maior, à espera que os vírus se espalhem em países não endémicos antes de tomar medidas”, refere a associação numa declaração, com a coautoria do investigador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) Vasco Ricoca Peixoto.

Os investigadores refletiram sobre como a disseminação da Monkeypox e da covid-19 poderia ter sido contida ou atrasada, afirmando que estas doenças mostram que é preciso “gerir as crises de saúde pública, aprendendo com o passado”.

“Muitas vezes temos que pegar na evidência (informação científica) que é incompleta e incerta e apontar a direção mais provável e onde é que provavelmente falhámos para não voltar a ter estes problemas”, disse à Lusa Vasco Ricoca Peixoto.

Segundo o investigador, uma das “ideias principais” deste trabalho foi fazer uma comparação “quase pedagógica” sobre a disseminação das duas doenças, apesar de terem “diferenças relevantes”.

No caso da covid-19, a transmissão “foi muito rápida”, enquanto na Monkeypox a circulação descontrolada já ocorria há bastante tempo em África com vários casos importados, apontando que seria apenas uma questão de tempo se estabelecer noutras partes do mundo, podendo ter sido controlada com a vacina.

Para os investigadores, em ambos os casos, “os vírus têm sido tratados como entidades “setoriais”, incluindo sentimentos racistas emergentes quanto à origem dos surtos e à falta de vontade política para compreender a sua importância global para a saúde, de alguma forma confinada à sua própria área endémica”.

Vasco Ricoca Peixoto defendeu ser necessária “uma concertação internacional” e investimento para agir precocemente sobre estas ameaças e trabalhar com “os países onde isso começa”, sendo neste caso na África Ocidental e Oriental onde a Monkeypox é endémica.

“Esse investimento de certeza absoluta que compensa porque temos mais uma doença mais ou menos sexualmente transmissível, que é transmissível por contacto próximo, mas que se, por exemplo, chegar a um infantário, não sabemos se não vai ter facilidade em transmitir-se nesse ambiente”, salientou.

O investigador alertou que se está entrar numa altura de maior contacto: “Com o verão, as festas, etc., corremos o risco de termos mais uma doença que não vai ser explosiva como a covid-19, mas que vai andar a fazer os seus estragos”.

“Felizmente parece que esta variante não tem levado a tantas hospitalizações nem mortes como outras variantes Monkeypox”, disse, citando informações do Reino Unido.

Para os investigadores, “o forte nível de interligação entre países, aliado à imprevisibilidade que caracteriza os vírus quando a transmissão é mantida, requer uma mudança radical na luta contra estas doenças”.

“É preciso procurar estratégias de eliminação precoce à escala global, visando bloquear a circulação de agentes infecciosos em todo o lado, especialmente através da aplicação de instrumentos de prevenção primária”, bem como financiamento adequado, capacitação baseada nas forças locais e um robusto programa de contenção de agentes patogénicos emergentes para todos os países.

LUSA/HN

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