Embora existam muitos estudos sobre a influência da idade materna nas questões obstétricas, gestacionais e perinatais, pouco se sabia, até agora, sobre o envolvimento da idade paterna. Segundo os investigadores, os resultados podem levar a uma revisão da idade considerada “avançada” para a paternidade, atualmente nos 40 anos.
Os dois estudos – intitulados Paternal age does not affect obstetric and perinatal outcomes in IVF or ICSI cycles with autologous oocytes e Paternal age is significantly related with the type of delivery and the sex of the newborn in IVF or ICSI cycles with donated oocytes – foram liderados pela investigadora Ana Navarro, da Fundação IVI, e apresentados durante o congresso da ESHRE, que se realizou em Milão, entre os dias 3 e 6 de julho. O objetivo era perceber se o sémen de um homem com idade paterna avançada afetava a saúde obstétrica das mulheres durante a gravidez, assim como o tipo de parto e a saúde do recém-nascido, e ainda como é que esta influência ocorria.
“Tivemos em conta uma série de indicadores de saúde na gravidez e perinatal, como a diabetes gestacional, hipertensão, peso da criança, tipo de parto, circunferência craniana ou admissão em cuidados intensivos após o nascimento. Concluímos que a idade paterna não afeta os resultados obstétricos e perinatais nos tratamentos de reprodução assistida com os próprios ovócitos ou com os de doadoras. Neste momento, e apesar de vários estudos sugerirem o limiar para considerar a idade paterna ‘avançada’ aos 40 anos, acreditamos que é conveniente rever este limite de acordo com os resultados atuais”, diz o Dr. Nicolás Garrido, diretor da Fundação IVI e supervisor dos estudos.
Especificamente, as investigações analisam se há uma perda na qualidade do sémen ou um declínio na fertilidade masculina com a idade que possa influenciar os resultados obstétricos e perinatais. Após a análise ajustada, considerando a idade materna, entre outras variáveis, os resultados não foram estatisticamente significativos no caso de tratamentos com ovócitos próprios.
“Uma das razões para esta diferença entre homens e mulheres é puramente biológica: nos homens a espermatogénese ocorre constantemente, ou seja, todos os dias novas células são geradas. Pelo contrário, a mulher tem os folículos nos ovários e carregam os seus óvulos toda a vida. E, obviamente, isso influencia as características da fertilização e tudo o que ocorre depois”, explica Ana Navarro.
Uma das vantagens da investigação realizada com a doação de óvulos é que permite que o fator feminino seja padronizado, uma vez que os perfis são muito semelhantes (idade e sem histórico de problemas de saúde, por exemplo). Neste caso, na análise das gestações com ovócitos doados, observou-se uma pequena variação no tipo de parto de cesariana e no sexo do recém-nascido.
“Nas idades paternas acima dos 40 anos são os problemas médicos associados ao envelhecimento que tornam a qualidade do sémen não ótima e que podem levar a um risco um pouco maior de doenças no bebé, embora sejam muito raros. A fertilidade masculina é um campo ainda pouco conhecido em matéria científica, daí que seja necessário continuar a investigar dia após dia para enfrentar os desafios que apresenta“, conclui Nicolás Garrido.
PR/HN/RA
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